Vacina experimental protege contra Zika

O que todos esperávamos é que a notícia fosse assim bem simples: apenas uma dose de uma vacina contra o vírus zika testada por pesquisadores brasileiros e norte-americanos deu aos camundongos uma imunidade virtualmente total contra a doença. Os primeiros testes de segurança em pessoas estão previstos para outubro.

Aliás, é assim que a maioria da imprensa vem noticiando os resultados publicados pela revista Nature.

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Ocorre que pesquisadores estão alertando que pode haver um grande problema – a vacina contra o zika, da forma como está sendo desenvolvida, pode colocar as pessoas em maior risco quanto a outro vírus mais comum, o vírus da dengue, apresentando a doença em sua forma mais grave.

Destrói zika e reforça dengue

A equipe liderada pelo professor Dan Barouch, da Escola de Medicina de Harvard, relata em seu artigo que a vacina feita a partir do vírus completo desativado deixou os camundongos imunes ao vírus zika.

Como a maioria das vacinas, esta funciona criando anticorpos no indivíduo. Mas esses anticorpos também podem criar um problema porque o vírus zika é um parente muito próximo do vírus da dengue, uma ameaça muito mais familiar.

Gavin Screaton e seus colegas do Imperial College de Londres divulgaram na semana passada que os anticorpos contra a dengue têm uma forte reação cruzada com o zika.

Esta não é uma reação desejável. A dengue vem em quatro cepas, ou tipos. Os anticorpos para um tipo se ligam aos outros três, mas não os “matam” ou neutralizam. Em vez disso, eles atraem as células brancas do sangue, como os macrófagos, que envolvem o vírus inteiro – mas o vírus sequestra a estrutura da célula sanguínea e se replica.

Este “reforço dependente de anticorpos” faz com que o vírus atinja níveis mais elevados no corpo do que ele conseguiria sem essa “ajuda”. As pessoas normalmente não ficam gravemente doentes quando pegam dengue pela primeira vez, mas se forem infectadas novamente, os anticorpos para a primeira estirpe reforçam a segunda infecção, o que pode até levar o doente à morte.

Dengue mais grave

Com a ajuda de uma biblioteca de anticorpos de dengue extraídos de pessoas com a doença, a equipe de Screaton descobriu que os anticorpos da dengue reforçam a infecção pelo zika em células em cultura. É como se o zika virasse um quinto tipo de dengue.

Se os anticorpos para a dengue se ligam ao zika, então os anticorpos para o zika – eventualmente supridos pela nova vacina – podem se ligar aos da dengue.

“É possível que as vacinas possam aumentar os anticorpos capazes de promover o reforço dependente de anticorpos,” disse Screaton, o que significa que a vacinação contra o zika poderia tornar mais grave uma subsequente infecção por dengue.

Em experimentos subsequentes, a equipe descobriu que os anticorpos que provocam o reforço são dominantes na resposta imunológica humana ao vírus vivo, de forma de que as pessoas vacinadas com os vírus mortos inteiros – como os utilizados na vacina – podem responder da mesma forma.

Boas notícias

Será importante testar tudo isso cuidadosamente antes de liberar qualquer vacina contra o zika, uma vez que as regiões do mundo com zika também têm dengue, recomendam os pesquisadores.

Isso exigirá estudos não previstos originalmente – e mais complexos – mas também pode trazer resultados mais positivos do que o esperado inicialmente. Afinal, se o zika funciona como uma espécie de quinto tipo da dengue, pode ser possível sintetizar uma vacina mais precisamente orientada que funcione para ambas as doenças.

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João Neto

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