Uma mulher, de 41 anos, foi vítima de hepatite fulminante (uma das mais graves inflamações do fígado, caracterizada pela sua rapidez em interromper as funções hepáticas) ocasionada pelo vírus da dengue, em São Paulo, e só conseguiu sobreviver por conta de um transplante de fígado. O caso foi mostrado num programa de TV, com o objetivo de fazer com que as pessoas se conscientizem de que a dengue não causa só febre, dores e manchas pelo corpo. O transplante por complicações da dengue, realizado no Hospital de Transplantes do Estado de São Paulo, é inédito no mundo e ainda não se tem registros deste tipo de procedimento na literatura médica. A forma de hepatite fulminante por dengue é grave e ocorre raramente, conforme o hepatologista Carlos Baía, responsável pelo procedimento.
Em entrevista ao Diário de Saúde, ele explicou que o surgimento desse tipo de caso deve-se ao fato de termos vivido uma epidemia nacional de dengue nos primeiros meses deste ano. Então, quanto mais casos forem registrados, segundo o médico, maiores são as chances de que apareçam quadros raros da doença. “Há vários registros na Índia e Sudeste Asiático de pessoas que foram infectadas pelo mosquito da dengue e tiveram inflamações graves no fígado, mas na literatura pesquisada não encontramos nenhum caso no mundo de hepatite fulminante por dengue que tenha passado por transplante”, observa Carlos Baía.
Lesões no fígado
A hepatite fulminante se caracteriza por uma inflamação no fígado, que pode se desenvolver de forma viral ou não. Quando o vírus da dengue atinge as células do fígado de forma agressiva pode provocar lesões no órgão. Alguns casos raros evoluem para hepatite fulminante, podendo causar a morte do doente. A paciente, com diagnóstico de hepatite aguda e necessidade de tratamento especializado na UTI, foi transferida de um hospital privado da capital paulista para Hospital de Transplantes, que é público e atende 100% pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
Na internação foram realizados diversos exames incluindo sorologias que confirmaram o quadro de dengue. O quadro da paciente pirou em poucas horas e ela foi incluída como prioridade na lista de transplantes do sistema estadual. “Foi constatada a forma rara de complicação por dengue e por se tratar de um caso incomum a equipe médica teve que agir de forma muito rápida para garantir um tratamento adequado”, comemora o hepatologista Carlos Baía. Ele disse que o transplante foi possível graças à doação de órgãos feita pelos familiares de um paciente com morte encefálica diagnosticada. “Sem doação não há transplante “, afirmou.
A.V.