Testes sorológicos

A tríplice epidemia de arboviroses que acomete o Brasil impõe desafios inéditos e de difícil resolução para a administração da saúde pública nacional. Dengue, zika e febre chikungunya alastraram-se pelo País em proporção impensável apenas um ano atrás e ameaçam a população de diversas maneiras. As duas últimas enfermidades citadas sequer foram suficientemente estudadas – seus efeitos de longo prazo, por exemplo, ainda são pesquisados pela comunidade científica.

Não bastasse o quadro, o País enfrenta a tríplice epidemia em um momento de grave crise financeira, causada pela significativa queda de arrecadação recente dos cofres públicos – o que afeta não só a saúde, mas toda a gama de serviços oferecidos pelo governo à população.

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A somatória dos fatores obriga a administração pública a abordar estrategicamente a questão epidêmica, alocando os restritos recursos disponíveis da forma mais eficiente, para que as doenças tenham o menor impacto possível na população. Trata-se de uma equação difícil, mas um olhar atento sobre experiências exitosas pode apontar caminhos.

A política mundial da saúde pública vigente já estabelece que se deve priorizar a prevenção das doenças. Sabe-se que o investimento nesse sentido, apesar de alto, é uma fração do que se gasta no tratamento de pacientes.

O Brasil tem algumas boas experiências na prevenção à disseminação de doenças de tratamento complexo. Um dos principais fatores que permitiram a diminuição, durante muito tempo, da transmissão do vírus HIV, por exemplo, foi a adoção, por parte da rede pública de saúde, dos testes sorológicos rápidos para a detecção do vírus nos organismos infectados.

Bastou a aplicação desse teste simples, que fornece o resultado em poucos minutos, para que fossem eliminados vários entraves que atrapalhavam tanto o tratamento precoce dos pacientes quanto o mapeamento dos casos e o alastramento da doença, como os altos custos para o diagnóstico e a grande quantidade de infectados que não voltava para buscar os resultados de exames. Hoje, até festas populares, como o carnaval de Salvador, contam com postos nos quais os frequentadores podem ser testados.

Abordagem semelhante pode ser adotada no caso das arboviroses. A adoção de testes sorológicos rápidos para detecção dos vírus causadores das doenças, além de custar muito menos do que os testes de laboratório feitos hoje (a economia pode chegar a 90%), permitiria à administração pública da saúde mapear com rapidez zonas de prevalência de casos e intervir com mais velocidade e eficiência no enfrentamento à disseminação das patologias.

No caso de acompanhamento de mulheres grávidas ou com intenção de engravidar, que têm natural temor de infecção pelo Zika vírus, por causa da possível relação entre a doença e o desenvolvimento de microcefalia no feto, os benefícios da adoção de testes rápidos ficam ainda mais evidentes. Uma grande quantidade de recursos públicos poderia ser economizada ao se evitar exames e consultas complementares para esse público.

Os benefícios dos diagnósticos rápidos e confiáveis levaram o governo da Bahia, por meio da Secretaria da Saúde, a incentivar a criação de um pólo de desenvolvimento e produção de testes sorológicos, plano que está sendo cumprido pela Bahiafarma, laboratório público que integra o Complexo Industrial da Saúde.

Em pouco mais de um ano desde o início do projeto, a Bahiafarma conseguiu lançar o primeiro teste rápido nacional para detecção de Zika vírus a ter registro na Anvisa. Outros dispositivos já estão aguardando registro ou sendo desenvolvidos. Em pouco tempo, eles estarão disponíveis na rede pública de saúde – o que vai trazer benefícios não apenas para a população, mas também para a própria saúde financeira do Sistema Único de Saúde (SUS).

Fonte: Sesab

Redação Saúde no Ar*

João Neto

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