Para a pesquisadora Sally Davies, também membro da delegação, o problema das superbactérias- bactérias resistentes a medicamentos antibióticos usados de forma indiscriminada em alguns países- é global. Ela elogiou a política brasileira de restrição: “Fiquei impressionada que com o fato de vocês, em 2011, terem introduzido a obrigatoriedade de prescrição médica para o uso do antibiótico. Poucos países do mundo fazem isso", destacou a pesquisadora.
De fato, após a regulamentação, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária ( Anvisa),que coordena a fiscalização das farmácias e drogarias no país, realizada por vigilâncias sanitárias de estados e municípios, houve queda de 10% na comercialização destes medicamentos no período de 2011 a 2013. Dados da Anvisa demonstraram também a diminuição da automedicação e o aumento do uso racional de antimicrobianos, além de redução dos casos de resistência bacteriana. Isso foi possível a partir do monitoramento sanitário e farmacoepidemiológico do consumo de antimicrobianos na comunidade e o fortalecimento da “conscientização” da população sobre a necessidade de consumir medicamentos por meio de orientação de profissional habilitado.
Alerta às autoridades
A delegação britânica se encontrou nesta quarta-feira (07.10) com o ministro da Saúde, Marcelo Castro, para apresentar estudos que chamam a atenção aos problemas relacionados à resistência antimicrobiana. Os pesquisadores, que estão no Brasil desde a segunda-feira (05.10), participaram de encontros com representantes do Governo Federal e governo do Estado do Rio de Janeiro, além de outras instituições como Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Fundação Getúlio Vargas.
O objetivo da visita, conforme divulgado pela Agência Saúde, foi a de alertar autoridades, empresas farmacêuticas e produtores do setor agrícola-pecuário sobre os riscos associados ao aparecimento, à propagação e à contenção da resistência aos medicamentos. A visita também tem como finalidade conhecer o que é feito no Brasil em termos de pesquisa e de políticas públicas para enfrentar este problema.
Mortes evitáveis
De acordo com os estudos apresentados pelos pesquisadores britânicos, caso não sejam tomadas medidas, as infecções provenientes de resistência a medicamentos poderão matar, pelo menos, 10 milhões de pessoas anualmente, até 2050. Isso significará um custo estimado 100 trilhões de dólares na economia mundial. Até 2016, o especialista e sua equipe recomendarão um pacote de ações para enfrentar a ameaça crescente da resistência antimicrobiana, sendo que um dos objetivos da missão foi pedir apoio ao governo brasileiro a essa ação.
Para o coordenador da pesquisa, encomendada pelo governo britânico para apurar o custo humano e financeiro dos riscos de infecções resistentes a medicamentos, Jim O’Neill, “o Brasil pode desempenhar um papel global de liderança, ao incluir a resistência antimicrobiana como tópico relevante de discussão em reuniões do G20, e na Assembleia Geral da ONU. “Quero conhecer lideranças nacionais para entender como o país pode colaborar no desenvolvimento de novas drogas e métodos de diagnóstico”, afirma O’Neill.
O’ Neill afirmou ainda que consumir medicamentos de forma inadequada ou usá-lo de forma irracional pode causar dependência, resistência a antibióticos, reações adversas, intoxicação e até a morte. Além disso, a combinação errada de medicamentos também oferece riscos à saúde. A automedicação pode também levar ao agravamento da doença, já que a utilização de medicamentos sem a informação adequada pode esconder determinados sintomas e fazer com que a doença evolua de forma mais grave.
*Redação Portal Saúde no Ar