Seis crianças hospitalizadas por dia: uma onda de envenenamentos em massa aterroriza as escolas de Chiapas

Sala do Ministério Público de Bochil, está cheia de crianças assustadas. Eles testemunham em um processo lento e repetitivo sobre o que aconteceu no dia 7 de outubro, quando cem menores foram intoxicados dentro de uma escola. Enquanto eles aparecem nesta pequena cidade nos Altos de Chiapas, o caso se repete 450 quilômetros ao sul. Em Tapachula, na fronteira com a Guatemala, alunas inconscientes são expulsas da escola.

São os casos mais recentes de uma onda de envenenamentos em massa para os quais as autoridades não oferecem explicação. Desde 23 de setembro, 116 menores tiveram que ser hospitalizados por ingerir substâncias tóxicas nas escolas. A Promotoria de Chiapas ainda não sabe qual substância afetou os estudantes. Esses casos ilustram a entrada pesada de drogas nas escolas e apontam para a reorganização do narcotráfico naquele que era, até alguns anos atrás, um dos estados mais seguros do país.

A falta de respostas do Ministério Público, da presidência municipal e da direção da escola tornou ainda mais raro um caso já bastante estranho. Os depoimentos compilados pelo EL PAÍS apontam como primeira hipótese que um grupo de quatro ou cinco crianças teria levado drogas para o ensino médio. Pais e alunos dizem que havia rumores contínuos de que drogas estavam sendo distribuídas na escola. Em maio, seis meninas desmaiaram depois de comer um brownie, dado a elas por idosos, que continha maconha.

Em uma manhã de outubro, os professores localizaram o celular de um aluno. Os alunos estão proibidos de entrar com celulares, maquiagem ou até esmalte de unha, então se espalhou a notícia de que a administração ia fazer uma checagem de mochila. Isso pode revolucionar tudo. Alguns menores relatam que viram como outros alunos jogavam drogas —pó em sacos transparentes— para fora das salas de aula e que jogavam no banheiro comprimidos que guardavam em compressas para o período.

Na hora do recreio, às 17h20, os professores se reuniam em reunião e as crianças saíam de suas aulas, para o pátio ou para a cooperativa para comprar bebidas e comida. Nesse período, algo foi distribuído nas garrafas de água. O que o Ministério da Saúde chamou de “ingestão de água contaminada com substância desconhecida” desencadeou o caos.

Em Tapachula foram registrados outros três casos, dois deles ocorridos na mesma escola, Escola Secundária Federal 1: em 23 de setembro com 21 menores afetados, em 6 de outubro com cinco e em 11 de outubro com 18 alunos. Como prováveis ​​causas desses casos, os responsáveis ​​pela Saúde identificam “ingestão de alimentos contaminados por substâncias desconhecidas”, água e “inalação de substâncias desconhecidas”.

Diante desse cenário, a posição do Ministério Público tem sido de negar que seja uma droga. “Não foi por uso de drogas”, disse o promotor estadual Olaf Gómez em entrevista coletiva, depois de anunciar que todos os testes toxicológicos que eles realizaram deram negativo para cocaína, anfetaminas, metanfetaminas, cannabis e opiáceos. Tanto no caso de Bochil (61 provas) como no último com 18 menores. Nenhum teste foi feito para os dois primeiros casos em Tapachula. “Vamos definir a linha de investigação a seguir: não descartamos nenhuma”, disse o procurador, acompanhado por todas as autoridades estaduais. A secretária de Educação, Rosa Aidé Domínguez, anunciou como única medida que será reimplementada a chamada Operação Mochila, que consiste na inspeção das malas dos alunos antes da entrada nas escolas.

Para Pedro Faro, diretor do Centro de Direitos Humanos Fray Bartolomé de las Casas, a volta dessas medidas é um exemplo de como “o Estado tende a agir de forma criminalizadora para parecer que está fazendo alguma coisa”. “Ao invés de abordar as causas ou pagar pela educação do conhecimento das drogas e seus efeitos, há uma questão repressiva e revitimizadora, com riscos de impactos psicossociais nos jovens. Começa a ser criada uma fábrica de culpados”, explica Faro. Para ele, esse tipo de caso “é uma evidência da destruição do tecido social em Chiapas, estamos testemunhando que está afetando os jovens, as crianças, devido à ação criminosa ligada ao Estado”.

Essa onda de intoxicações faz parte de um quadro maior de violência: há poucos meses um grupo armado tomou o centro de San Cristóbal de las Casas, o oásis do Estado, por horas; este ano as reclamações por tráfico de drogas dispararam, quatro vezes mais do que em 2016; a crise dos deslocados atinge o Estado em sua fronteira e em Chentaloh, e os confrontos com grupos organizados obrigaram o secretário de Defesa esta semana a enviar centenas de soldados.

Neste contexto, e sem resposta das autoridades ao mais recente envenenamento, as crianças regressaram esta quinta-feira às restantes escolas de Bochil. A polícia vigia a entrada e a saída dos alunos, que foram obrigados a usar crachá de identificação e usar o uniforme. O diretor da Escola Secundária Técnica 38, que tem mais de 700 alunos, reconhece que tudo é preventivo porque ainda não sabem o que estão enfrentando”.

 

Fonte: El País ( Trechos traduzidos do espanhol para o português)

 

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