Saúde suplementar: perspectivas 2016

Em entrevista inédita realizada por Patrícia Tosta durante o Programa Saúde no Ar (29.12.2015), o diretor administrativo do Grupo Promédica e presidente da Prodal Saúde – empresa que opera o Hospital do Subúrbio, Jorge Oliveira, fez um relato acerca da situação da saúde suplementar na Bahia.

De acordo com ele, que também é diretor da Federação Baiana de Saúde (Febase) e diretor do Sindicato Nacional das Empresas de Planos de Saúde, “atualmente no cenário nacional, a saúde suplementar atende em torno de 25% da população brasileira. Isso representa 50 milhões de beneficiários com plano de assistência médica e em torno de 25 milhões que possuem planos odontológicos”.

Representando 9,3% do PIB brasileiro, 53% do recurso que é movimentado no PIB da saúde é destinado a quem tem saúde suplementar. 47% correspondem aos 75% da população cujo orçamento é do Sistema Único de Saúde (SUS). Na Bahia, apenas 11,5% possuem planos de saúde, o que diz respeito a menos da metade da média no país. “Temos uma atividade econômica muito pequena no Estado, acarretando na diminuição da adesão de planos de saúde”, afirma o diretor.

Englobando planos individuais, empresariais e coletivos, a possibilidade de não depender apenas do SUS faz com que a aquisição de uma assistência médica privada esteja em terceiro lugar entre os principais desejos dos brasileiros, perdendo apenas para investimentos em educação e a realização do sonho da casa própria. Apesar de ser pontuado entre as maiores queixas no Procon, o índice de satisfação entre os clientes passa de 66% a 75%, de acordo com pesquisas realizadas por grandes institutos como IBOPE, Data Folha e IBGE.

Apesar da crise econômica e do decréscimo de ofertas no mercado de trabalho, o setor da saúde conta com mais de 4 milhões de trabalhadores no segmento e apresentou um acréscimo de 53 mil novas vagas de trabalho. “A qualidade dos serviços aliada a geração de emprego foram pontos positivos em 2015”, revela.

Entre as dificuldades enfrentadas estão a judicialização, liminares e procedimentos sem fundamento, a falta de comunicação por parte dos clientes e o vasto índice de desperdício. “Devido a desinformação do beneficiário, o sistema acaba sendo onerado. Se comunicar bem com a sociedade e reduzir desperdícios são pontos fundamentais a serem resolvidos. 20% de tudo que é gasto são descobertos em fraudes, mal uso, repetição de exames e procedimentos que encarecem o sistema como um todo”, avalia.

A complexidade do sistema de planos de saúde faz com que o cidadão não tenha amplo conhecimento dos seus direitos. “Muitas das queixas estão associadas a desinformação, mas todas as operadoras são obrigadas por lei a disporem de uma ouvidoria”, diz. Além disto, pela primeira vez em mais de 10 anos, foi registrada uma queda significativa no número de associados. “Até o mês de setembro, perdemos 440 mil beneficiários do sistema em comparação a dezembro de 2014. As pessoas deixaram de ter planos de saúde e foram para o SUS”, relata. As 2.700 empresas de planos anteriormente existentes foram reduzidas para 1.200 por conta das dificuldades de operação.

Uma das estratégias foi cortar custos, pois atualmente a única fonte de recurso é o sistema bancário convencional, com suas altas taxas de juros. Segundo ele, os lucros não passam de 0,7% por parte das operadoras de planos. Com relação a um possível aumento em 2016, ele afirma que não tem informação a respeito do aumento que será realizado. “Os dados são processados ao longo do ano e as operadoras informam o aumento que foram praticados para os planos coletivos. Com base nisto, é aplicado para os planos individuais, mas isso não fica claro para a população”.

A disponibilidade de serviços é uma das normas da regulamentação, não existindo a possibilidade de redução dos serviços oferecidos ao beneficiário, pois existe uma agência reguladora para garantir isto. “Não existe possibilidade das operadoras reduzirem serviços nem recusarem beneficiários pela idade. Elas também estão proibidas de aumentarem o preço pela mudança de faixa etária por aumento dos 60 anos. Existe uma regulação por conta do estatuto do idoso que assegura isto”, diz.

Sobre o fato dos governadores cobrarem que estados e municípios atuem solicitando diretamente aos planos os beneficiários que se utilizem de serviços do SUS, ele revela que “desde 1999 este assunto está em discussão, pois não sabemos se essa cobrança é legal. Essa cobrança já é feita pela Agência Nacional de Saúde, mas são sabemos se a verba é direcionada aos estados”.

Para se manterem no mercado e terem um bom desempenho no próximo ano, segundo Jorge Oliveira, “as operadoras tem que cumprir as suas responsabilidades, qualificar a sua própria rede. Devem oferecer um melhor serviço ao cidadão ao invés de ampliar a oferta, sendo um agente transformador da boa utilização dos recursos, pois os recursos da saúde finitos”, conclui.

Redação Saúde no Ar*

Ana Paula Nobre

Ouça a entrevista na íntegra:

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