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Salvador – Conferência anual da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

Inovações: Um novo Capítulo para o Tratamento da Malária no Brasil 
Salvador, 11 de setembro de 2023 – Avanços no tratamento da malária por Plasmodium vivax (P. vivax) no Brasil estarão em foco na 58ª edição do MedTrop – a conferência anual da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, que começou nesta segunda-feira (11), em Salvador, Bahia. Ontem, um evento marcou a incorporação de um novo tratamento para o P. vivax no SUS, a primeira inovação em mais de 60 anos. Espera-se que essas tecnologias ajudem a fortalecer o objetivo ambicioso de eliminar a malária até 2035 no Brasil.
Em junho, em uma ação histórica, o Brasil atingiu o objetivo de se tornar o primeiro país endêmico de malária a incorporar o teste de G6PD STANDARDTM e a tafenoquina de dose única no sistema público de saúde para a o tratamento da malária por P. vivax em adultos. Em agosto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou a nova formulação pediátrica da droga para crianças de 2 anos ou mais. Essas ferramentas pioneiras oferecem uma cura radical simples, mas efetiva, prevenindo as  recaídas de malária por P. vivax.
Essas conquistas só foram possíveis graças ao forte compromisso do Ministério da Saúde do Brasil com a inovação e a eliminação da malária e da sua colaboração com a iniciativa PAVE, um consórcio multisetorial de programas de malária, pesquisadores, financiadores e outras organizações para eliminar a malária por P. vivax e ajudar países a atingirem seus objetivos de eliminação.
“O principal objetivo do PAVE é se aliar aos países para apoiar o alcance de suas metas de eliminação, trabalhando com os Programas Nacionais de Malária, garantindo que as abordagens sejam adaptadas e adequadas ao contexto, gerando evidências de alta qualidade que possam auxiliar a tomada de decisões e promovendo o desenvolvimento de medicamentos e diagnósticos de qualidade assegurada”, explicou Nick Luter, Diretor Sênior de Dinâmica de Mercado da organização sem fins lucrativos PATH.
A decisão de adotar essas ferramentas é resultado da abrangente revisão de um dossiê de evidências científicas pela CONITEC, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS, sob pedido do Programa Nacional de Malária do Brasil. O documento incluiu evidências sobre segurança e eficácia, obtidos de estudos clínicos randomizados; dados da primeira e da segunda análise interina do estudo TRuST – o maior estudo de vida real sobre o uso da tafenoquina de dose única e testagem de G6PD, conduzido no Brasil de 2021 a 2022; assim como os resultados do estudo qualitativo (QualiTRuST), que buscou entender as perspectivas de trabalhadores da saúde e pacientes sobre a introdução dessas novas ferramentas; além de análises de custo-efetividade e impacto orçamentário.
Os resultados do TRuST foram apresentados durante o evento de ontem. O estudo foi copatrocinado pelo Ministério da Saúde do Brasil e a organização sem fins lucrativos, Medicines for Malaria Venture (MMV). O estudo foi liderado por dois pesquisadores: Dr. Marcus Lacerda da Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) e Dhelio Pereira do Centro de Pesquisa de Medicina Tropical de Rondônia (CEPEM) nos municípios de Manaus e Porto Velho.
“Temos esse desafio de implementar a tafenoquina junto com o teste, mas estamos em um bom caminho e num bom momento. Precisaremos dessas medidas inovadoras para atingir a meta de eliminação”, disse a Dra. Alda Maria da Cruz, Diretora do Departamento de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.
O robusto Sistema de saúde do Brasil serviu como cenário ideal para esse feito inédito e para as próximas conquistas para a eliminação da malária. Cássio Peterka, membro da coordenação  de eliminação de malária do Ministéro da Saúde,   apresentou o plano para implementação da tafenoquina em nível nacional: “Até o primeiro semestre de 2024, queremos implementar a tafenoquina nos municípios de Calçoene (AP), Cruzeiro do Sul (AC), Manaus (AM) e Porto Velho (RO). No segundo semestre de 2025, queremos ter a tafenoquina implementada em todos os municípios do Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso, Amapá e Acre, incluindo áreas indígenas. Para o primeiro semestre de 2026 iremos implementá-lo em todos os estados da região extra-Amazônica”, explica.
Os resultados dessa implementação foram apresentados a importantes parceiros no campo da malária, incluindo a Organização Panamericana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) e serão apresentados aos Programas Nacionais de Malária de outros países endêmicos, posicionando o Brasil como um exemplo na luta global contra a malária.
“O mundo está acompanhando o progresso do Brasil; É um país pioneiro em adotar formalmente estas ferramentas [diagnóstico e tratamento de próxima geração para P. vivax] com o objetivo de melhorar o tratamento da malária. O trabalho de viabilidade cuidadosamente elaborado pelo Brasil para determinar como implantar estas novas ferramentas servirá como um guia para os países vizinhos nas Américas que estão considerando as mesmas opções”, disse George Jagoe, Vice-Presidente Executivo de Acesso e Gestão de Produtos da MMV durante o evento.
Sobre a malária por P. vivax
A malária por P. vivax tem um impacto significativo na saúde pública e economia, especialmente no Sul e Sudeste Asiático, América Latina e Chifre da África. O parasita Plasmodium é um organismo complexo com um ciclo de vida que abrange humanos e mosquitos. Após uma picada do mosquito, o parasita P. vivax infecta o sangue e causa um episódio agudo de malária. Ele também tem a habilidade de ficar dormente no fígado (na forma de um hipnozoíto), de onde periodicamente se reativa causando recaídas de malária por P. vivax. Assim, uma única infecção de P. vivax pode gerar múltiplos episódios de malária na ausência de uma nova picada de mosquito. Essas recaídas podem acontecer semanas, meses e até anos após a infecção inicial. As formas hepáticas dormentes do parasita não podem ser tratadas com a maior parte dos tratamentos antimaláricos ativos contra o parasita em sua fase sanguínea. A coadministração de antimaláricos para a fase sanguínea, como a cloroquina, e medicamentos que combatem as formas hepáticas dormentes do parasita P. vivax é conhecida como cura radical.
Sobre a Parceria para Eliminação do Vivax (PAVE)
A Parceria para Eliminação do Vivax (PAVE) é liderada pela Medicines for Malaria Venture (MMV) e pela PATH, duas organizações sem fins lucrativos, e financiada por múltiplos parceiros, incluindo a UNITAID e a Fundação Bill e Melinda Gates. A iniciativa é um consórcio multisetorial de Programas Nacionais de Malária, pesquisadores, financiadores e outras organizações para eliminar a malária por P. vivax e dá suporte a seus objetivos de eliminação de malária ao:
• Trabalhar com Programas Nacionais de Malária para identificar opções e estratégias de cura radical otimizadas e adaptadas aos contextos locais;
• Gerar e disseminar evidência de alta qualidade sobre o manejo de casos de P. vivax para informar decisões de política pública e guiar implementação.
Foto: Admilson dos Santos Boaventura
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