Quando mãe ou pai desconfiam de sinais de autismo em seus filhos, é muito comum que apareçam pessoas dizendo que é cedo para tal preocupação, seja por questões de idade, seja por não acreditarem que alguns sinais podem sim representar que a criança está no espectro do autismo. “Ah, mas ele se comunica bem” ou “ela olha nos olhos” são algumas das frases que insistem em usar para impedir os tutores de buscarem um diagnóstico.
A neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto, destaca que só mesmo um especialista, ou até mesmo o cruzamento de dados entre uma equipe multidisciplinar para fechar uma avaliação de TEA. “Dizer que uma criança tem ou não comportamento de autista é uma fala capacitista que não ajuda na disseminação de conhecimento sobre este transtorno do neurodesenvolvimento. O diagnóstico é clínico, realizado por médicos e terapeutas qualificados na área; não há um exame laboratorial que direcione o diagnóstico. Durante a avaliação, os profissionais especializados observam comportamentos esperados para faixa etária e outros que têm as características do autismo. Vale ressaltar que nem sempre a criança não tem aquela habilidade, ela pode apenas apresentar de forma diferente das crianças da mesma idade”, comenta.
Outra informação bastante importante, e que deve ser cada vez mais difundida na sociedade, é sobre o autismo não significar mau comportamento. Há um “senso comum” de que pessoas com TEA, especialmente crianças, são birrentas e mal educadas; e isso não é verdade. Dizer isso, inclusive, pode ser encarado como preconceito e capacitismo. Infelizmente, as pessoas não fazem ideia do que seja o autismo e continuam perpetuando pensamentos já ultrapassados, como se toda criança com TEA fosse birrenta ou apresentasse os sinais considerados clássicos há alguns anos, como a não verbalização ou a falta de contato visual.
Mas embora o autismo não tenha uma cara e nem um comportamento rigidamente definido, é preciso dizer que, sim, há alguns ‘sinais de alerta’ que pais e professores, que são as pessoas que normalmente têm um contato mais direto com a criança, podem identificar, já que estes aparecem nos primeiros anos de vida. Inclusive, vale lembrar que há diversos níveis de autismo. Pessoas com o TEA nível 1, por exemplo, podem apresentar apenas dificuldades em situações sociais que muitas vezes podem ser confundidas com timidez. Outras têm comportamentos restritivos e repetitivos que podem parecer perfeccionismo, por exemplo.
Algumas características devem ser observadas em crianças que podem estar dentro de um possível diagnóstico de TEA, como apresentar dificuldades na flexibilização de regras, gostar de manter padrões, ter dificuldades na interação social com diversas pessoas, ter estereotipias (movimentos repetitivos) e demonstrar maior dificuldade para entender piadas, ironias e sarcasmo. Mas lembre-se: ter uma ou mais dessas características não vai, exatamente, significar o TEA, mas é preciso buscar ajuda profissional para um diagnóstico mais preciso. Apenas um profissional poderá avaliar essa condição. “Afinal, rótulos criados pela sociedade, e, além de capacitistas, só atrapalham no diagnóstico de autismo”, pontua Bárbara.
Outro ponto importante envolve as questões sensoriais. Algumas pessoas com autismo são hiporresponsivas e outras são hiperreativas aos estímulos sonoros, visuais, olfativos, entre outros. “Na hiper-reatividade, a pessoa percebe de maneira aumentada os estímulos e precisa de ambientes com luzes mais fracas ou usar fones de ouvido, por exemplo; já na hiporresponsividade existe uma dificuldade maior em perceber e responder aos estímulos que a maioria das pessoas reagiriam. Tem-se diversas estratégias de acomodação sensorial e estratégias de intervenção para trabalhar a parte sensorial, como suporte visual, mastigadores, toque firme, cobertores com peso. O profissional qualificado para avaliar e intervir nas necessidades sensoriais é o Terapeuta Ocupacional. Pessoas diversas com necessidades diferentes. Existe diversidade no espectro do autismo e é exatamente por isso que não há como encaixotar o diagnóstico, e nem leigos podem definir se há motivo para buscar ajuda ou não”, completa Bárbara.
Para terminar, uma última informação, mas não menos importante: embora a necessidade de suporte seja menor em casos de TEA nível 1, isso não significa que essa pessoa não precise buscar intervenções de um especialista para lidar melhor com diferentes questões que apareçam em suas vidas. Mesmo os déficits sendo na infância inicialmente sutis, eles se tornam mais evidentes na fase da adolescência e vida adulta, quando aquele indivíduo passa a ser mais exposto e cobrado sobre as suas relações sociais.