Se você é motorista, jornalista, médico, operário de fábrica ou barman seu futuro profissional pode estar em risco. O debate sobre se as máquinas vão dispensar a força de trabalho humana já não está mais restrito aos filmes de ficção científica. A consultoria Boston Consulting Group prevê que, em 2025, até um quarto dos empregos seja substituído por softwares ou robôs, enquanto que um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, aponta que 35% dos atuais empregos no país correm o risco de serem automatizados nas próximas duas décadas.
As previsões parecem estar se comprovando: ao redor do mundo, motoristas de táxis vêm travando uma batalha com o aplicativo de carona paga Uber. Mas, tanto o Uber quanto fabricantes de veículos e até mesmo o Google já estão buscando criar um serviço que dispense a presença do motorista. No final deste ano, módulos de táxi automatizados vão começar a operar nas ruas da cidade de Milton Keynes, na Inglaterra, oferecendo corridas pela cidade. O governo britânico está atualizando as placas de trânsito para viabilizar o funcionamento dos carros sem motorista.
Na China, a primeira fábrica operada apenas por robôs está sendo construída na cidade de Dongguan, famoso polo operário do país. O projet busca reduzir a força de trabalho dos atuais 1,8 mil funcionários em 90%.Desde setembro do ano passado, um total de 505 fábricas em Dongguan investiu o equivalente a R$ 2,6 bilhões na aquisição de robôs. O objetivo é substituir mais de 30 mil operários, segundo o Escritório de Tecnologia de Informação e Economia de Dongguan.
A Foxconn, por exemplo, que fabrica aparelhos eletrônicos como os iPhones da Apple, também planeja um exército de robôs, embora suas ambições sejam muito mais modestas – com a substituição de 30% da atual força de trabalho nos próximos cinco anos.
Calcula-se que em futuro próximo, reportagens não serão mais escritas por jornalistas. Cada vez mais companhias vêm oferecendo softwares capazes de coletar dados e transformá-los em textos minimamente compreensíveis.
Conteúdo automatizado
Kristian Hammond, chefe-cientista da Narrative Science, uma plataforma que gera conteúdo narrativo automatizado, estima que, em 15 anos, 90% das notícias serão escritas por máquinas.
Ele diz, contudo, que isso não significa que 90% dos jornalistas vão perder seu trabalho. “ Isso significa que os jornalistas vão poder ampliar seu campo de atuação. O mundo das notícias vai se expandir. Os jornalistas não vão precisar escrever reportagens a partir de dados. Tudo será feito por máquinas”.
Alguns procedimentos médicos são feitos de forma mais rápida por robôs que podem não ser os melhores acompanhantes, mas certamente são capazes de analisar dados para descobrir possíveis tratamentos para doenças.
O Watson, um supercomputador da IBM, está atuando em conjunto com dezenas de hospitais nos Estados Unidos para oferecer recomendações sobre os melhores tratamentos para diversos tipos de câncer. E a partir do software desenvolvido pela companhia, também está ajudando a detectar câncer de pele em estágio inicial.
Por anos, robôs também vêm ajudando médicos a realizarem cirurgias. A velocidade é um fator crucial no sucesso de tais operações e as máquinas são capazes, por exemplo, de costurar vasos sanguíneos muito mais rápido do que os humanos.
A cirurgia automatizada, contudo, não é infalível e um relatório de segurança recente mostrou que essas operações estavam associadas à pelo menos 144 mortes nos Estados Unidos na última década.
Cenário da medicina
Segundo o cientista Jerry Kaplan, em seu livro Humans Need Not Apply, Atualmente, homem e robô vêm trabalhando lado a lado na medicina, mas talvez o cenário mude no futuro.
— Dificilmente os médicos vão ceder o controle do tratamento dos seus pacientes às máquinas. Mas futuramente, quando houver evidências de que as máquinas são a melhor opção, pacientes vão pedir para serem diagnosticados por robôs, que são definitivamente mais baratos do que seres humanos.
Para Martin Ford ─ autor do livro Rise of the Robots (“Ascensão dos Robôs”, em tradução livre), o mundo enfrentará desemprego em massa e um colapso financeiro a menos que sejam implementadas mudanças radicais, como a garantia de um salário mínimo.
Por ora, o que os humanos vão fazer com o seu tempo livre é mais difícil de ser avaliado ─ alguns pensam em passar mais tempo na praia, outros defendem a manutenção do toque humano no local de trabalho, como o professor de Inteligência Artificial da Universidade de Bristol, Nello Cristiani : “ Espero que professores, médicos e juízes permaneçam humanos porque às vezes você precisa de alguém para conversa”.
Coquetel robótico
O cruzeiro de luxo Anthem of the Seas lançou recentemente uma ideia pioneira: um bar automatizado a partir da Shakr Makr, uma máquina desenvolvida pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos) há alguns anos.
As bebidas podem ser pedidas por meio de um tablet e usuários não estão limitados ao menu que recebem à mesa – eles podem, inclusive, criar seu próprio coquetel.
O braço robótico mistura o coquetel e o coloca em um copo de plástico (para evitar acidentes) que é acoplado a uma tina (as habilidades da máquina ainda não são muito precisas). Toda a operação é feita com certo glamour, contudo ─ a máquina não só mistura o coquetel quando o sacode antes de terminá-lo.
A reportagem da BBC provou dois coquetéis feitos por um robô e dois outros por um barman. O resultado foi heterogêneo. Na opinião da reportagem, as bebidas preparadas pela máquina, no entanto, não eram saborosas ─ faltou-lhes apuro, como o toque final de limão que o barman adicionou.
Fonte: BBC/R7
A.V.