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HIV e acidente cardiovascular

A relação entre o HIV e o alto índice de acidentes cardiovasculares entre portadores do vírus HIV foi elucidada por um grupo de pesquisadores vinculados a instituições de saúde e pesquisa nacionais e internacionais que realizaram um estudo, cujos achados lançaram luz sobre a questão.

Os resultados da pesquisa foram publicados na Science Translational Medicine, no artigo “Inflammatory monocytes expressing tissue fator drive SIV and HIV coagulopathy”, em 30 de agosto. Dentre os autores do trabalho, que teve repercussão internacional, está o pesquisador da Fiocruz Bahia, Bruno Andrade.

Na infecção pelo HIV, a inflamação persistente está ligada ao aumento do risco de complicações crônicas não infecciosas, como doença cardiovascular e tromboembólica. Por isso, muitas pesquisas nesta área são destinadas à melhor compreensão das vias inflamatórias e de coagulação na infecção pelo HIV, com a finalidade de otimizar o atendimento clínico.

No presente estudo, os pesquisadores identificaram um subtipo específico de monócitos (células de defesas do sangue) que expressam o fator tecidual (FT), que persistem mesmo após a supressão da carga viral e desencadeiam coagulação. Isto é, mesmo com o baixíssimo número de vírus em decorrência da terapia antirretroviral, o sistema imunológico do paciente com HIV libera ao longo do tempo tais monócitos, que se encontram expandidos e ativados, induzindo à coagulação persistente e inflamação crônica. Esses coágulos na circulação sanguínea, acabam gerando acidentes cardiovasculares.

Além disso, os pesquisadores também demonstraram que produtos microbianos provavelmente oriundos de translocação de microorganismos de superfícies de mucosas induzem a ativação destes monócitos no sangue de pacientes infectados. De maneira interessante, o grupo descobriu que os monócitos indutores de coagulação e inflamação também são capazes de reconhecer trombina, um produto da coagulação. O reconhecimento simultâneo de produtos microbianos e de trombina causa uma alça de amplificação que perpetua a coagulação e inflamação sistêmica na infecção pelo HIV, independente da eficácia de retrovirais.

Para chegar a essas conclusões, foi realizada uma série de experimentos em células de sangue de doadores saudáveis, assim como em populações de pacientes infectados com HIV antes da implementação da terapia antirretroviral e após o estabelecimento da supressão da carga viral induzida pelo tratamento. A equipe também realizou estudos em macacos e os achados validaram os resultados da pesquisa feita em infecções em humanos, ao mostrar que os monócitos inflamatórios que expressam FT foram associados à coagulação relacionada com o vírus da imunodeficiência símica (SIV), também conhecido como “AIDS símia”.

Substância da saliva de carrapato tem potencial terapêutico

A Ixolaris, uma proteína anticoagulante encontrada na saliva de carrapatos do gênero Ixodes que inibe a via FT, foi testada no estudo e bloqueou potentemente a atividade do FT in vitro na infecção por HIV e SIV, sem afetar a função de defesa dos monócitos contra estimulação por produtos microbianos.

Surpreendentemente, o tratamento in vivo de primatas infectados com SIV com Ixolaris foi associado a diminuições significativas no D-dímero (que indica quadros de trombose) e ativação imune. Esses dados sugerem que os monócitos que expressam FT estão no epicentro da inflamação e coagulação na infecção crônica por HIV e SIV e podem representar um potencial alvo terapêutico para redução do risco da doença cardíaca relacionada ao HIV.

 

Fonte: Fiocruz

Foto: Fiocruz

Redação Saúde no Ar

 

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