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Quando o sofrimento do fim de ano pode ser sinal de transtorno mental?

 

Blenda Oliveira, doutora em psicologia pela PUC-SP, explica os sinais que devem ser observados durante e depois desse período

Dezembro é visto como um mês de festividades para muitas pessoas, mas é também neste período que muitas outras sofrem e por vários fatores. Ansiedade, estresse, angústia e até melancolia podem surgir com maior intensidade nesta época do ano, mas quais são os sinais que podem indicar um quadro de transtorno mental?

Primeiro, Blenda Oliveira, doutora em psicologia pela PUC-SP, explica que o sofrimento nesta época do ano é mais comum do que se imagina e a psicologia já estuda isso há anos. “A melancolia natalina, por exemplo, chamamos de christmas blue, que seria uma espécie de tristeza profunda no fim de ano. Portanto, muitos de nós estamos suscetíveis a isso a partir das nossas experiências de vida, do período que estamos passando e até de lembranças antigas. As razões para essa sensibilização são muitas antes mesmo do próprio significado do Natal, que acaba envolvendo conexões sociais e balanço final do ano, como desemprego, ausência de entes queridos, entre outras razões”.

Os sinais de alerta para qualquer transtorno mental a partir desse sofrimento vem da constância da dor, segundo a psicóloga. “A pessoa precisa observar primeiro se ela já estava sentindo isso antes das festividades e se isso vai perdurar depois. Aqui já temos um sinal de que isso não se trata de emoções sazonais, desse período do ano”, esclarece Blenda.

Outro fator de atenção importante é se as emoções estão paralisando a pessoa. “Quando a pessoa perde sua funcionalidade, ela provavelmente já está com a saúde mental fragilizada. Esse costume ser um sinal claro, mas que só um especialista, seja psicólogo ou psiquiatra, pode diagnosticar. Então, se a pessoa sente um forte desânimo, se ela chora o dia todo, se ela está sempre irritada, temos um indício que a ajuda profissional é necessária. Por isso, se observar ou observar um familiar é tão importante”.

A especialista acrescenta ainda que acolher quem está passando por isso ou se acolher diante do sofrimento é necessário. “Não se culpe por não estar vivendo aquela ideia de um natal feliz e pleno em família. A vida não é uma propaganda de televisão perfeita e entender isso pode ser uma forma de respeitar o outro ou se respeitar diante da angústia ou melancolia”.

Blenda faz um último reforço na mensagem sobre esse sofrimento de final de ano. “Não deixe de olhar para esses sentimentos, mesmo que você o julgue negativo. Vale lembrar também que nesta época pode acontecer uma certa introspecção que não é ruim e nem precisa ser vista como dor”, finaliza ela.

Sobre a autora
Blenda Oliveira é doutora em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e  psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). É autora do livro Fazendo as pazes com a ansiedade, publicado pela Editora Nacional, que foi indicado ao Prêmio Jabuti em 2023. A especialista também palestra sobre saúde mental e autoconhecimento.

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