Em mais uma descoberta da ciência brasileira, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram um método que permite visualizar o material genético do novo coronavírus dentro de células. Baseado na técnica conhecida como hibridização in situ por fluorescência — FISH (fluorescent in situ hybridization) —, ele permite visualizar o vírus nas células em três dimensões e a marcação simultânea de outros componentes celulares.
“Geralmente os laboratórios usam técnicas que permitem verificar o aumento da carga viral em uma cultura de células ou tecidos infectados, como o qPCR. No entanto, essas técnicas não comprovam que o vírus está dentro das células ou mesmo em que parte da célula ele se instalou, o que é muito importante na compreensão da doença”, diz Henrique Marques Souza, professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, que liderou o desenvolvimento do método.
Com o protocolo, desenvolvido pela pós-doutoranda Luana Nunes Santos, será possível aprofundar os estudos sobre o novo coronavírus em andamento em seu laboratório, além de permitir a colaboração com outros grupos de pesquisas dentro e fora da Unicamp. “Conseguir visualizar o vírus dentro da célula é algo muito valioso para a compreensão da infecção”, explica.
Na FISH, os pesquisadores sintetizam uma sonda, uma molécula de DNA que se liga ao RNA do vírus, o que permite a ligação de substâncias visíveis sob luz fluorescente. Ao entrar em contato com a célula infectada, a sonda se liga (hibridiza) especificamente com o RNA do vírus e as moléculas fluorescentes que a ela se ligam permitem a visualização da marcação em um microscópio de fluorescência.
O trabalho abre caminho ainda para aplicação no estudo de outros vírus, inclusive para traçar paralelos entre eles e o SARS-CoV-2. “Tudo o que descobrirmos sobre a dinâmica do vírus dentro da célula podemos adaptar para comparar com outros vírus mais comuns, como o da gripe. Com isso, talvez seja possível entender por que o novo coronavírus é tão agressivo”, diz Marques-Souza. Embora não seja o foco no momento, o trabalho também pode resultar no desenvolvimento de um novo teste de detecção do vírus no futuro.
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