O Professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),Marcelo Burattini, testou 120 mil pessoas em 133 municípios de todo o país entre os dias 25 de janeiro e 24 de abril de 2021 E concluiu que 15% dos brasileiros testados no âmbito do inquérito Epicovid-19 BR 2 tinham anticorpos contra o SARS-CoV-2.
“A grande maioria das pessoas da amostra ainda não havia sido vacinada, já que os testes se concentraram entre janeiro e meados de fevereiro, quando o programa nacional de vacinação estava iniciando. Menos de 1% das pessoas testadas afirmou ter recebido vacinas e praticamente nenhuma delas havia recebido as duas doses”, explica, Marcelo Burattini, Professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Os resultados preliminares do inquérito, segundo Burattini, sugerem que a soroprevalência registrada é significativamente menor do que as previsões até então divulgadas sobre a proporção de casos assintomáticos faria supor. “Quando tivermos concluído a análise das 133 cidades, comparando os dados desse inquérito com a ocorrência notificada de covid-19, teremos importantes subsídios para direcionar medidas públicas. Isso provavelmente vai levar a uma nova compreensão da dinâmica da doença e sua ocorrência em nosso meio”, afirma.
O Epicovid-19 BR 2 teve como objetivo estimar o percentual de brasileiros infectados com o SARS-CoV-2 por idade, gênero, condição econômica, município e região geográfica; determinar o percentual de assintomáticos; avaliar sintomas e morbiletalidade (índice de pessoas mortas em decorrência de uma doença específica dentro de um grupo populacional), além de oferecer subsídio para políticas públicas e avaliação do alcance e impacto das medidas de isolamento social, sejam de lockdown ou de distanciamento social com medidas de proteção, como o uso de máscaras.
O estudo Epicovid-19 BR 2 complementa as informações coletadas em outro inquérito, o Epicovid-19 BR, realizado em quatro fases pela equipe do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), coordenada por Pedro Hallal. As três primeiras fases tiveram o apoio do Ministério da Saúde e, a quarta, da iniciativa Todos pela Saúde, do Itaú Unibanco.
Nas quatro fases da pesquisa coordenada pela UFPEL, os dados foram coletados em 133 municípios, 25 setores censitários, com dez domicílios sorteados por setor e um morador sorteado por domicílio, totalizando 33.250 participantes em cada inquérito.
“Em todas essas fases, para detecção de anticorpos para o SARS-CoV-2, foi utilizado o teste sorológico rápido de fluxo lateral, baseado em amostra de sangue obtida por punção digital [na ponta do dedo]”, explica Burattini.
Os índices de soropositividade, no entanto, variaram de 9,89% no Ceará a 31,4% no Amazonas, Estado com a maior soroprevalência do Brasil.
O estudo também revelou índices diversos dentro de cada uma das regiões. No Sudeste, por exemplo, 19,57% da população do Rio de Janeiro tinha anticorpos contra o coronavírus, percentual semelhante aos 18,73% registrados no Espírito Santo, mas superior à soropositividade média dos paulistas, de 13%.
Foram registradas, ainda, variações entre municípios do mesmo Estado. Em São Paulo, a soroprevalência média em Sorocaba e Bauru foi de 9%; a de Marília, 20% e a de cidades como São José do Rio Preto, Araçatuba, Ribeirão Preto e São José dos Campos variou entre 13% e 15%.
“Esses resultados mostram que há muita variação espacial na epidemia. Temos várias epidemias e não apenas uma no Brasil. Essa variação se estende por todo o país e será um dos objetos de estudo mais detalhado deste projeto”, adianta Burattini.
Nos próximos meses serão divulgados todos os resultados da pesquisa que ainda está sendo feita.
Fonte: agencia.fapesp.br
JR