Mesmo que o paciente já tenha se recuperado da doença e desenvolvido anticorpos para o combate à infecção, ele pode ter um novo contato com alguém contaminado pelo coronavírus, se recontaminar e transmitir o vírus para quem tiver contato.
Isso quer dizer que, mesmo estando, em tese, imunes ao adoecimento, é possível que eles permaneçam como vetores e propagadores do vírus.
Por Larissa Voss Sadigursky, pneumologista das Clínicas Clivale
A covid-19 é uma infecção viral, transmitida pelo novo coronavírus, que tem como um dos principais mecanismos de neutralização e controle a produção de imunoglobulinas, no caso IgM e IgG. A IgM é o marcador de uma infecção mais recente, já a IgG é aquela que pode levar à imunidade duradoura de alguma infecção.
A grande questão é que, por ser uma doença nova, com pesquisas ainda em andamento, não se tem ainda conhecimento nem da quantidade necessária desses anticorpos para o combate ao vírus, nem da durabilidade desses anticorpos no sistema imunológico. Portanto, o que se pode dizer, até o presente momento é que a presença da IgM e IgG no sistema imunológico não implica uma proteção definitiva contra a doença, todavia, por ora, não há relato de reinfecção da doença, ou seja, não há registro de casos em que o paciente teve novamente a covid-19, após um primeiro episódio. “O paciente pode se recontaminar, ou seja, ter um novo contato com o vírus. Mas a reinfecção, ou seja, a entrada do vírus nas células e sua multiplicação no organismo de quem já tiveram, ainda não foi relatada até o presente momento”.
Portanto, é fundamental esclarecer que esse mesmo paciente, que teve a doença previamente, pode ter novo contato com o coronavírus e ser recontaminado, mas, haja vista que, em tese, tem uma imunidade que o protege, não desenvolve a doença, tornando-se, desta forma, um vetor do SARS-Cov-2, podendo disseminá-lo com quem quer que tenha contato. Nesse contexto, vale ressaltar que, mesmo que o paciente fique imune à doença, isso não significa que ele deixará de ser vetor do vírus, ou seja, quem contraiu covid-19 e se curou, mesmo apresentando níveis de IgG e IgM, pode continuar transmitindo a doença em algum momento, sem saber, após novo contato com o coronavírus. “Todos somos vetores, independente de já termos produzido o IgG e o IgM ou não”, afirma a médica
Outro fator importante é que ainda não se sabe se os anticorpos desenvolvidos pelo paciente que foi portador assintomatico (ou seja, aquele que não desenvolveu a doença, mas tem presença de IgM e IgG no sangue) é igual e, em tese, igualmente eficaz no combate a novas infecções pelo novo coronavirus, do que aqueles anticorpos presentes em pacientes que, de fato, desenvolveram a doença.
Por isso, é importante que todos independentes da presença de anticorpos circulantes, respeitem o distanciamento social e continuem usando máscara e álcool gel 70 ao sairem de casa. No caso dos profissionais de saúde, destaca-se que, mesmo após o desenvolvimento da doença, é necessária a manutenção do uso de EPIs. Tais medidas visam evitar uma recontaminação e subsequente propagação do novo coronavirus. A principal preocupação é para que, neste momento, ainda não haja afrouxamento das medidas e o aumento gradual do contato entre as pessoas.