Fatores associados com a exposição ambiental ao chumbo em crianças de comunidade produtora de cerâmicas vitrificadas: Caso de Maragogipinho (no recôncavo baiano).
O chumbo (ou Pb) é um metal pesado e um contaminante ambiental onipresente cuja toxicidade atinge principalmente o tecido sanguíneo e o sistema nervoso. Sua neurotoxicidade depende do grau da contaminação podendo causar em crianças danos neurológicos como: déficits de atenção e concentração, hiperatividade, transtornos neurológicos graves e até mesmo levar a morte.
Maragogipinho (Aratuípe, Bahia) é uma vila famosa por sua arte de cerâmica. Mas durante o processo de produção, algumas peças passam por um processo de vitrificação (dando o aspecto de vidro) no qual o chumbo é utilizado. Isso expõe a comunidade ao chumbo, incluindo as crianças. Diante desta situação, o objetivo de nossa pesquisa foi avaliar o grau de contaminação e os fatores que influenciam a exposição das crianças desta comunidade a este metal.
A partir da quantidade do chumbo na poeira das escolas na vila, as crianças (5,5 – 13 anos) foram classificadas em dois grupos de exposição: baixa exposição (BEx) e moderada exposição (MEx). Para fins de comparação, crianças do centro urbano (afastado de 5 km) do mesmo município foram também incluídos, aqui consideradas como grupo controle (GC). Coletamos os dados, peso e altura de 150 crianças e a plumbemia (concentração do chumbo no sangue) foi determinada a partir do sangue venoso. Foi também avaliada a contaminação ambiental nas residências, medindo o nível do chumbo na poeira coletada com amostradores.
Os níveis de chumbo na poeira (marcador ambiental de exposição) de Maragogipinho foram quase quatro vezes maiores que no grupo controle. A diferença entre as medias da plumbemia da vila e do grupo controle foi altíssima e alarmante. Residir próximo às olarias representa o principal fator de exposição elevada ao chumbo, uma vez que observamos uma percentagem de crianças com plumbemia elevada (>5,0 μg/dL), 1,5 a 4 vezes maior nos grupos BEx e MEx em comparação ao GC. Em comparação às comunidades parecidas (do México e Costa-Rica), o afastamento das crianças da produção das cerâmicas é um fator que explica a plumbemia menor encontrada nesta vila. A idade, o estado nutricional e a taxa de chumbo na poeira foram outros fatores associados com esta exposição ambiental nas crianças. O chumbo sendo um contaminante sem nenhum papel biológico no organismo, sugerimos que haja um esforço dos órgãos governamentais a nível municipal e estadual para fomentar um método alternativo de vitrificação das peças cerâmicas livre de chumbo. Recomendamos, além disso, que uma vez implementadas essas medidas, novas avaliações ambientais sejam desenvolvidas com o objetivo de que as crianças de Maragogipinho tenham níveis de chumbo sanguíneo similares aos das crianças da sede do Município.
Os metais pesados são elementos químicos de alto peso molecular que podem ser considerados essenciais (Ex: Ferro, cobre, manganês, zinco) no desempenho de funções vitais ou não (Ex: chumbo) e podem contaminar os alimentos e as pessoas que consomem esses alimentos.
O Chumbo é um metal tóxico para a saúde humana e está associado a presença de anemia em crianças, além de causar problemas hepáticos, neurológicos e cognitivos.
Alimentos de maneira geral podem conter metais a partir da contaminação dos mesmos durante as mais variadas etapas do processo de produção (plantio, transporte, armazenamento preparo e distribuição).
Na região de Maragogipinho a principal fonte de contaminação é chumbo utilizado na vitrificação de peças de ceramica. Esse material é quimado, produzindo uma fumaça tóxica que se dispersa pela região e contamina solo e plantações. Além da contaminação durante a etapa do plantio, as ceramicas que são vitrificadas também podem passar por um processo de migração durante o cozimento e distribuição dos pratos preparados, e assim, transferir o chumbo para o alimento que esta sendo consumido.
Considerando que uma das principais vias de absorção é a via oral, alimentos contaminados por chumbo caracterizam um grande risco a saúde das pessoas que consomem esses produtos.
Um outro olhar importante do ponto de vista da nutrição é avaliar fatores que podem contribuir para o aumento ou redução da absorção de chumbo por via alimentar. Dentre esses fatores destaca-se a ingestão adequada de alimentos fonte de calcio, ferro e vitamina C, pois os mesmos possuem sitios de ligação muito próximos/similares ao do chumbo, e em caso de deficiencia desses minerais, uma fração maior de chumbo passa a ser absorvida.
A principal causa da contaminação do ambiente, dos alimentos e das pessoas por metais pesados é justamente a ação antropogênica, ou seja, do próprio homem, quando não existe a conscientização a respeito do uso e descarte de determinados materiais, principalmente quando desprezados no meio ambiente.
Na região de Santo Amaro, entre 1960 e 1993 operou uma industria de fabricação de ligas metalicas e beneficiamento do minério de chumbo e devido ao descarte irregular de rejeitos da produção e até mesmo a utilização desses rejeitos no processo de pavimentação de ruas, Santo Amaro é conhecida como um dos locais onde existiu e ainda existe uma das maiores contaminações ambientais por chumbo no mundo.
Também na região do recôncavo da Bahia, em Maragogipinho, distrito pertencente ao município de Aratuípe a economia local é voltada à produção artesanal de peças de cerâmica como panelas, na qual parte dos artesãos utilizam a técnica de vitrificação de cerâmicas. Devido à falta de conhecimento a respeito do risco associado, os oleiros processam e descartam os resíduos da produção de maneira inadequada, contaminando todo a ambiente ao seu entorno (pessoas, ar, solo, alimentos e etc), visto que o processo de vitrificação é composto por uma etapa de queima de chumbo extraído de baterias automotivas para que seja utilizado na vitrificação dessas cerâmicas. Além de contaminar todo o ambiente local, as cerâmicas são facilmente encontradas no comercio baiano e até mesmo exportadas para o exterior, aumento assim o risco através do consumo de alimentos que são preparados e/ou servidos nesses utensílios (prática bastante comum na culinária baiana).
A Equipe do LabTox (Laboratório de Toxicologia) da Faculdade de Farmácia da UFBA vem desenvolvendo pesquisas na região de Maragogipinho e alertando tanto a população local quanto a comunidade cientifica e autoridades competentes através da divulgação dos resultados das pesquisas quanto aos níveis de contaminantes nessa região e seus desfechos.
O assunto foi tema do quadro “Meio Ambiente e Saúde”, veiculado às quartas-feiras pelo programa Saúde no Ar. na Am 840 e Rádio Web Saúe. Sintonize!
Ouça o comentário do Farmacêutico Homegnon Antonin Ferréol Bah e com o nutricionista Erival Gomes Junior:
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Desde o ano de 2017 a Escola de Nutrição/UFBA,desenvolve o projeto de Extensão,“Nutrição, meio ambiente e saúde no ar: comunicação em saúde e cidadania”, sob a coordenação da Profa Ma.Neuza Maria Miranda dos Santos e colaboração do Grupo Germen, e da aluna bolsista do projeto Permanecer, Thuane Policarpo.Para participar do Projeto que tem como objetivo apresentar e discutir temas de saúde, em seu conceito ampliado, além de difundir informações científicas sobre nutrição, alimentação saudável e qualidade de vida, basta enviar perguntas ou sugestões de temas para o email: produção@portalsaudenoar.com.br ou uma mensagem de texto ou áudio para o WhatsApp: 71-9968-13998.
Texto: Homegnon Antonin Ferréol Bah e Erival Gomes Junior
Foto: Internet
Redação Saúde no Ar