ONGs suspendem atividades no Afeganistão após proibição de empregar mulheres

No último domingo (25), ONGs estrangeiras anunciaram a suspensão de suas atividades no Afeganistão. A interrupção das atividades acontece após o regime talibã proibir que mulheres trabalhem nessas organizações. Dessa forma, a medida que tornará difícil manter a ajuda humanitária ao país, segundo um funcionário do alto escalão da ONU.

De acordo com comunicado das ONGs Save the Children, Conselho Norueguês para os Refugiados e CARE, “Enquanto não apresentam mais explicações sobre o anúncio, suspendemos nossos programas e exigimos que homens e mulheres possam continuar, em igualdade de condições, com nossa ajuda para salvar vidas no Afeganistão”.

Além disso, o Comitê Internacional de Resgate (IRC) anunciou pouco depois a suspensão das atividades no país: “Se não estivermos autorizados a empregar mulheres, não poderemos prestar serviços a quem precisa.”

“O retrocesso flagrante mais recente dos direitos das meninas e das mulheres terá consequências de grande alcance para a prestação de serviços de saúde, nutrição e educação das crianças”, tuitou o diretor regional do Unicef, George Laryea-Adjei.

Dezenas de representantes de ONGs e funcionários da ONU que atuam no Afeganistão se reuniram neste domingo para discutir a situação.

“Se (as autoridades do Talibã) não estiverem em condições de revogar esta decisão e encontrar uma solução para este problema, será muito difícil continuar e fornecer ajuda humanitária de maneira independente e justa, porque a participação das mulheres é muito importante”, declarou à AFP o coordenador humanitário da ONU para o Afeganistão, Ramiz Alakbarov.

Impactos

Karen Decker, representante dos Estados Unidos no Afeganistão, pediu explicações ao governo fundamentalista. “Como representante do maior doador de ajuda” a este país, “acredito que tenho o direito de perguntar aos talibãs como eles pretendem evitar que as mulheres e crianças morram de fome, se as mulheres já não podem distribuir ajuda a outras mulheres e crianças”, tuitou hoje, em vários idiomas.

O porta-voz dos talibãs, Zabihulah Mujahid, respondeu, na mesma plataforma: “Não permitimos que ninguém diga nada nem faça ameaças relacionadas às decisões da nossa liderança em matéria de ajuda humanitária”.

A Organização para a Conferência Islâmica (OIC) condenou a proibição neste domingo e seu secretário-geral, Hissein Brahim Taha, apelou “fortemente” ao regime talibã para rever sua decisão, considerando-a “contrária aos interesses do povo afegão”.

De acordo com comunicado do Ministério da Economia enviado as ONGs, no último domingo, o ministério ordenou que elas parassem de empregar mulheres, sob pena de perder a autorização para trabalhar no país. A decisão usa como justificativa “denúncias” de que as mulheres que trabalhavam nessas organizações não respeitavam o uso do véu islâmico. No Afeganistão, as mulheres são obrigadas a cobrir o rosto e o corpo inteiro.

A ONU e as agências de cooperação destacam que mais da metade dos 38 milhões de habitantes do precisarão de ajuda humanitária durante o inverno rigoroso.

Dezenas de organizações trabalham em regiões remotas do Afeganistão e muitas empregam mulheres. “Não queremos interromper a ajuda imediatamente, pois isso prejudicaria o povo afegão”, disse Ramiz Alakbarov, enfatizando que o veto terá um impacto “devastador” na já deteriorada economia do país.

 

 

 

Com informações AFP

 

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