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O trabalho na era da inteligência artificial

Fernando Alcoforado*

Há muitas definições de inteligência artificial, mas muitas delas estão fortemente alinhadas com o conceito de criar programas de computador ou máquinas capazes de se comportar de forma inteligente como os seres humanos. Inteligência artificial (AI) é a capacidade de um computador digital ou um robô controlado por computador para executar tarefas comumente associadas a seres inteligentes. O termo é freqüentemente aplicado ao projeto de desenvolvimento de sistemas dotados dos processos intelectuais característicos dos humanos, como a capacidade de raciocinar, descobrir o significado, generalizar ou aprender com a experiência passada.

Em 1950, o cientista da computação britânico Alan Turing já especulava sobre o surgimento de máquinas pensantes (thinking machines) em sua obra “Computing Machinery and Intelligence”, e o termo “inteligência artificial” foi cunhado, em 1956, pelo cientista John McCarthy. Após alguns avanços significativos nos anos 1950 e 1960, quando foram criados laboratórios de inteligência artificial em Stanford e no Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT, na sigla em inglês), ficou claro que a tarefa de criar uma máquina assim seria mais difícil do que se pensava. Veio então o chamado “inverno da inteligência artificial”, um período sem grandes descobertas nesta área e com uma forte redução no financiamento de suas pesquisas.

Na década de 1990, a comunidade dedicada à inteligência artificial deixou de lado uma abordagem baseada na lógica, que envolvia criar regras para orientar um computador como agir, com a adoção de uma abordagem estatística, usando bases de dados e pedindo para a máquina analisá-los e resolver problemas por conta própria. Especialistas acreditam que a inteligência das máquinas se equiparará à de humanos até 2050, graças a uma nova era na sua capacidade de aprendizado. Computadores já estão começando a assimilar informações a partir de dados coletados, da mesma forma que crianças aprendem com o mundo ao seu redor. Isso significa que estamos criando máquinas que podem ensinar a si mesmas, participarem de jogos de computador – e serem muito boas neles – e também a se comunicarem simulando a fala humana, como acontece com os smartphones e seus sistemas de assistentes virtuais.

A inteligência artificial (IA) já está sendo bastante utilizada em sistemas produtivos. A Inteligência Artificial pode substituir o ser humano nas atividades de produção e, também, pode aumentar ao máximo a sua produtividade. Segundo dados expostos pela Accenture em uma de suas pesquisas, até 2035, a IA contribuirá para um aumento de até 40% da produtividade do setor industrial, diminuindo custos e aumentando a produção de manufaturas ao redor do globo. O panorama atual dos sistemas de IA permite que eles entendam todo o processo produtivo e de negócios e identifiquem, de forma automática, quais são os principais problemas que devem ser resolvidos. Uma rede neural de um sistema de IA é capaz de analisar mais de um bilhão de dados em poucos segundos, sendo uma ferramenta incrível para apoiar um tomador de decisões dentro de uma empresa, garantindo, assim, a melhor opção dentre as possíveis. Como os dados coletados são constantemente atualizados, os sistemas de IA sempre atualizam, também, seus resultados, viabilizando que os gestores tenham acesso a informações recentes de variações ocorridas no mercado de atuação da empresa.

Graças aos avanços na inteligência artificial, o mundo dos negócios se encontra diante de gigantescas transformações. É uma nova era na qual as regras fundamentais que regulavam as atividades das organizações estão sendo reescritas. Sistemas de inteligência artificial não significa apenas a automação de muitos processos para fazê-los mais eficientes. Estes sistemas de IA estão fazendo o mundo passar por uma transição fundamental com as máquinas se desenvolvendo além do seu histórico papel como ferramenta ao se transformarem em “trabalhadores autônomos”, mas também, habilitando pessoas e máquinas a atuarem colaborativamente de maneira diferente. Em consequência, os sistemas de IA estão mudando, portanto, a verdadeira natureza do trabalho que está a exigir que a gestão das operações com máquinas e trabalhadores seja processada de forma bastante diferente em relação ao passado.

Tradicionalmente, a automação tem sido utilizada com tarefas específicas sendo executadas separadamente por máquinas automatizadas e por trabalhadores. A especificidade de tarefas contemplavam os trabalhadores cumprindo pré determinadas atividades inspecionando os processos para descartar peças defeituosas. Contrastando com a linha de montagem tradicional, os sistemas de IA possibilitam fazer com que máquinas e seres humanos possam trabalhar juntos de form colaborativa. Sistemas produtivos modernos utilizam sensores embutidos e sofisticados algoritmos de inteligência artificial. Diferentemente de gerações anteriores de robótica industrial que eram volumosos, sem inteligência e, em alguns casos, peças perigosas de maquinaria, os novos tipos de robôs inteligentes são equipados com a capacidade de sentir seu ambiente, compreender, agir e aprender graças ao software de aprendizado de máquina e outras tecnologias realacionadas com a inteligência artificial.

Os novos sistema produtivos possibilitam fazer com que o processo de trabalho seja auto adaptável que criam as condições para que se realize o trabalho conjunto, trabalho em equpe, homem-máquina. Modernamente, para atender pedidos personalizados e lidar com flutuações na demanda de um sistema produtivo, os trabalhadores podem compartilhar com robôs a execução de novas tarefas sem ter que manualmente fiscalizar qualquer processo de produção. As mudanças são processadas automaticamente. Os avanços não estão ocorrendo apenas na produção industrial. Sistemas de inteligência artificial estão presentes em inúmeros setores de atividades. O potencial da inteligência artificial para transformar amplos setores econômicos é sem precedentes na história da humanidade.

Os sistemas produtivos modernos exigem que os trabalhadores trabalhem com máquinas inteligentes para explorar o que os dois fazem melhor. Os trabalhadores são necessários para desenvolver, treinar e gerir várias aplicações de inteligência artificial. Ao atuar desta forma, os trabalhadores estariam habilitando os sistemas produtivos a operar como verdadeiros parceiros. Por sua vez, as máquinas inteligentes ajudariam os trabalhadores a elevar sua capacidade produtiva, tais como a habilidade para processar e analisar grande quantidade de dados de uma miriade de fontes em tempo real. Máquinas inteligentes aumentam a capacidade humana. Máquinas inteligentes e trabalhadores podem se constituir em parceiros que colaboram um com o outro para elevar seus níveis de desempenho.

À medida que os sistemas produtivos utilizam máquinas inteligentes necessitam trabalhadores com capacitação em softwares inteligentes para poderem treinar e utilizar robôs colaboradores, bem como, engenharia de software (programas) e ciência da computação. Isto significa dizer que a educação em todos os níveis deve ser estruturada para preparar os estudantes para o mundo do trabalho que demanda trabalhadores com a capacitação necessária para lidar com máquinas inteligentes. Tudo isto sugere que vivenciamos uma transição que coloca enorme tensão sobre a economia e a sociedade. A educação oferecida nos moldes atuais aos trabalhadores e estudantes que se preparam para entrar no mercado de trabalho provavelmente será ineficaz. Em outras palavras os sistemas de educação estão preparando trabalhadores para um mundo do trabalho que está deixando de existir.

O futuro do trabalho em um mundo com Inteligência Artificial requer a adoção de novas medidas voltadas para a qualificação da mão-de-obra que deverá saber utilizar esta tecnologia como ferramenta, como complemento de suas habilidades. Algumas funções são atribuídas a máquinas e sistemas inteligentes. Novas funções para os seres humanos surgem diante desse novo cenário. Compete aos planejadores dos sistemas de educação identificar o papel dos seres humanos no mundo do trabalho no futuro para realizar uma ampla revolução no ensino em todos os níveis contemplando a qualificação dos professores e a estruturação das unidades de ensino para prepararem seus alunos para um mundo do trabalho em que as pessoas terão que lidar com máquinas inteligentes. Para implantar uma nova educação, é imprescindível que se comece a identificar as competências necessárias para o trabalho do século XXI e adequar o sistema educacional que está obsoleto para formar cidadãos mais capacitados para a era da inteligência artificial.

* Fernando Alcoforado, 79, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).

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