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O potencial da dessalinização no combate à crise hídrica

O Dia Mundial da Água é celebrado em 22 de março, quando são colocados em discussão diversos temas relacionados à preservação desse importante recurso natural. Sem água não há vida, o que faz do combate à insegurança hídrica uma questão prioritária em diversas regiões do planeta.

No Brasil, segundo levantamento do Plano Nacional de Insegurança Hídrica, cerca de 74 milhões de pessoas podem ter o acesso à água comprometido até o ano de 2035. A culpa não é apenas do clima, mas também da falta de investimentos em infraestrutura e tecnologia que garantam acesso à água a toda população.

A previsão é de que os níveis de poluição em constante crescimento e os desmatamentos façam com que a situação piore nos próximos anos. Entre os recursos que podem ser utilizados no combate ao problema está a dessalinização, processo utilizado para tirar sal da água e torná-la potável através de uma técnica conhecida como osmose reversa. O procedimento – sempre acompanhado com interesse pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (CREA-BA) – pode ser feito tanto com águas salobras de poços quanto de oceanos, embora neste último caso o custo por metro cúbico gerado ainda seja considerado muito alto e o processamento normalmente seja adotado apenas como último recurso.

Os sistemas de dessalinização podem ser de pequena escala, voltados ao benefício de uma única comunidade, ou de larga escala, quando realizados em grandes usinas. A tecnologia já é usada no Brasil há alguns anos, tornando viável a dessalinização das águas de poços de cerca de 1200 comunidades no semiárido. As iniciativas acontecem por meio do programa Água Doce, desenvolvido pelo Governo Federal em convênio com estados do Nordeste. Na Bahia, o programa é coordenado pela Secretaria do Estado do Meio Ambiente (SEMA-BA), que tem como meta instalar 291 sistemas de dessalinização, beneficiando moradores de 55 municípios.

Os processos têm como subproduto um concentrado de água salgada que necessita de destino ambientalmente adequado. Atualmente, nos sistemas de dessalinização já implantados, esse concentrado vai para tanques de contenção onde ocorre a evaporação. Porém, existe a possibilidade de utilização do subproduto na aquicultura e alimentação de animais de pasto. No Nordeste, já existe um projeto, desenvolvido em parceria com a Bahia Pesca, que visa utilizar o concentrado diluído na própria água bruta do poço, voltado à criação de peixes e camarões em escala de agricultura familiar. Em conjunto com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), são desenvolvidas ações para que o refugo seja utilizado na irrigação de espécies vegetais aproveitadas na criação de animais.

A tecnologia utilizada na dessalinização já é de domínio comum. Nos últimos anos, tem-se observado redução nos custos de implantação dos sistemas, sendo que a maioria das peças utilizadas para a construção são fabricadas dentro do próprio território nacional. Porém, a manutenção dos mesmos ainda é considerada um desafio, tanto no que diz respeito à destinação de verbas quanto à falta de mão-de-obra especializada. Sem estas duas coisas, equipamentos que deveriam durar cinco anos, por exemplo, acabam durando menos da metade, dependendo do uso. Para suprir parte da demanda, a SEMA-BA tem promovido cursos presenciais e a distância voltados tanto à reciclagem quanto à formação de futuros operadores.

Outro problema bastante comum no semiárido é que algumas comunidades mais carentes e afastadas dos grandes centros urbanos não contam com atendimento de rede elétrica de qualidade. Uma das soluções, que já vem sendo estudada, é justamente a substituição da matriz energética. Em algumas localidades, a ideia é de que o bombeamento de poços passe a ser realizado através da utilização de energia solar com placas fotovoltaicas. Esta também tem potencial de aproveitamento no funcionamento dos sistemas como um todo.

 

Paulo Braz

Engenheiro de pesca e coordenador da Ceagro-BA

 

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