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O desmatamento e as queimadas na Amazônia e suas consequências

Fernando Alcoforado*
As queimadas fazem parte do processo de transformação das florestas em roças e pastagens. O fogo é o instrumento utilizado pelos fazendeiros para limpar o terreno e prepará-lo para a atividade agropecuária ou para controlar o desenvolvimento de plantas invasoras. Na maior parte dos casos, elas são realizadas no final da estação seca, quando é obtido o maior volume de cinzas e quando a vegetação está mais vulnerável ao fogo. Apesar de barato, esse processo traz inúmeros impactos ambientais, principalmente ao fugir do controle, atingindo áreas que não se desejava queimar.
Num primeiro momento, as queimadas podem funcionar como fertilizantes do solo, uma vez que as cinzas produzidas são convertidas em nutrientes vegetais pelos micro-organismos da terra. No entanto, a queima sucessiva de uma mesma região pode matar esses mesmos micro-organismos, tornando o solo cada vez mais empobrecido e impróprio para a agricultura. A destruição de florestas tropicais, além de reduzir a biodiversidade do planeta, causa erosão dos solos, degrada áreas de bacias hidrográficas, libera gás carbônico para a atmosfera, causa desequilíbrio social e ambiental. A redução da umidade na Amazônia faz reduzir as chuvas na região centro-sul do Brasil.
Os principais danos causados pelos desmatamentos e queimadas são a destruição da vegetação, de habitats, a morte de animais, a extinção local de espécies, a perda de matéria orgânica no solo e a sua exposição à erosão. Além disso, contribuem também para o efeito estufa com a liberação de grandes quantidades de gás carbônico para a atmosfera e são também a causa de poluição do ar. As atividades agropecuárias e madeireiras são responsáveis por grande parte dos desmatamentos ocorridos na Amazônia.
A destruição de florestas tropicais traz ainda consequências no clima e no ciclo das águas. Os pastos e as lavouras absorvem menos energia solar do que a vegetação original e podem contribuir para uma redução de chuvas e um aumento na temperatura da região Amazônica. As queimadas são ainda responsáveis pela emissão significativa de gases que causam o efeito estufa, como o gás carbônico (CO2). As queimadas produzem muito mais gás carbônico do que as plantas podem absorver.
Cerca de 70% da área anteriormente coberta por floresta, e 91% da área desmatada desde 1970 da Amazônia é usada como pastagem. Além disso, o Brasil é atualmente o segundo maior produtor global de soja (atrás apenas dos Estados Unidos). À medida que o preço da soja sobe, os produtores avançam para o norte, em direção às áreas ainda cobertas por floresta. Pela legislação brasileira, abrir áreas para cultivo é considerado “uso efetivo” da terra e é o primeiro passo para obter sua propriedade. Áreas já abertas valem 5 a 10 vezes mais que áreas florestadas e por isso são interessantes para proprietários que tem o objetivo de revendê-las.
Segundo o relatório Assessment of the Risk of Amazon Dieback elaborado pelo Banco Mundial, pode restar apenas 5% de florestas no leste da Amazônia em 2075. Este processo é resultado de desmatamento, mudanças climáticas e queimadas (AMARAL, André. Desmatamento, queimadas e mudanças climáticas podem acabar com 95% da Amazônia até 2075. Publicado no website  <https://decoamaral.wordpress.com/2010/page/118/>).
Este estudo contou com a colaboração dos pesquisadores brasileiros do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) Carlos Nobre e Gilvan Sampaio que trabalham com o conceito de “Amazon Dieback”, termo que significaria uma redução da biomassa da floresta.  Pode-se dizer que há o risco de colapso de parte da floresta.
Ressalte-se que as florestas tropicais reciclam cerca de 8% do carbono global presente na atmosfera. Parece pouco, mas trata-se de um processo crucial para a vida na Terra. E fazem isso simplesmente por meio da fotossíntese. As plantas absorvem o CO2 presente na atmosfera e acumulam biomassa na forma de troncos, raízes e folhas. Tornam-se, assim “armazéns” gigantes de carbono. Qualquer distúrbio nesses “armazéns”, como os resultantes do desmatamento, tem efeitos no ciclo de carbono global e impactos negativos sobre a atmosfera do planeta.
Cerca de 200 bilhões de toneladas de carbono estão estocadas na vegetação tropical que cobre o planeta. A fotossíntese realizada pela vegetação florestal absorve uma quantidade enorme de carbono da atmosfera a cada ano. Somente a Floresta Amazônica é capaz de absorver seis bilhões de toneladas, o equivalente a 10% da fotossíntese das terras do mundo. A maior parte dessa absorção é compensada, contudo, pela liberação de carbono através da decomposição da matéria orgânica e a respiração da própria floresta. A parte restante pode estar sendo absorvida pela floresta, transformando-se em um sumidouro de gás carbônico (CO2).
Uma das consequências do desmatamento é a destruição e extinção de diferentes espécies. Muitas espécies que podem ajudar na cura de doenças, usadas na alimentação ou como novas matérias-primas, ainda desconhecidas do homem, correm o risco de serem destruídas antes mesmo de conhecidas e estudadas. Esse bem natural é muito conhecido pelos índios que vivem nas florestas.
Outra consequência agravante do desmatamento é o avanço dos processos de erosão. As árvores de uma floresta têm a função de proteger o solo, para que a água da chuva não passe pelo tronco e infiltre no subsolo. Elas diminuem a velocidade do escoamento superficial, e evitam o impacto direto das chuvas com o solo e suas raízes ajudam a retê-lo, evitando a sua desagregação. A retirada da cobertura vegetal com o desmatamento expõe o solo ao impacto das chuvas.
Um dos temas brasileiros mais discutidos no exterior – a Amazônia – ganhou ainda mais destaque com a divulgação de relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC). A maior floresta tropical do mundo enfrenta o perigo de se transformar parcialmente em savana em consequência do desmatamento e das queimadas, segundo o IPCC.
Além desses impactos locais e regionais da devastação das florestas, há também um perigoso impacto em escala global. A queima das florestas, seja em incêndios criminosos, seja na forma de lenha ou carvão vegetal para vários fins tem colaborado para aumentar a concentração de gás carbônico na atmosfera.
Para evitar a destruição da Floresta Amazônica e assegurar que os recursos naturais existentes na Amazônia sejam utilizados racionalmente em benefício da população nela residente e do progresso econômico e social do Brasil, bem como no combate ao aquecimento global é imprescindível a defesa a todo o custo da integridade da Floresta Amazônica. O povo brasileiro deve lutar para barrar o crime ambiental que se pratica na Amazônia com a complacência do governo Bolsonaro.
Estes dados estão apresentados no livro de nossa autoria, Amazônia Sustentável, publicado pela Editora Viena (Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011).
* Fernando Alcoforado, 79, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica,
Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).
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