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O colapso da Globalização contemporânea

Fernando Alcoforado*
Este é o resumo do artigo de 8 páginas que tem por objetivo demonstrar que a globalização contemporânea caminha celeremente rumo ao colapso e propor novos rumos para o futuro da economia mundial. Os sinais do colapso da globalização econômica e financeira contemporânea já estavam se apresentando a partir de 2010 quando a relação entre as exportações mundiais e o PIB mundial caiu cerca de 12%, um declínio não visto desde a década de 1970. A tendência de colapso da globalização econômica e financeira é demonstrada não apenas pela queda na relação entre as exportações mundiais e o PIB mundial, mas também em consequência da queda na taxa de lucratividade global. A última onda de globalização começou a diminuir pouco antes do início dos anos 2000, quando a lucratividade global passou a recuar para a taxa de lucro média dos países do G20 que é composto pelos países da União Europeia, além dos seguintes países: Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Indonésia, Itália, Japão, República da Coreia, México, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.
Os sinais de colapso da globalização contemporânea se manifesta, também, com a tendência de queda da taxa de lucro mundial, da queda da taxa de lucro nos Estados Unidos e da queda na taxa de crescimento do Produto Mundial Bruto. Se for considerada a evolução da taxa de lucro do sistema capitalista mundial do período 1869- 1947 e, for mantida a tendência de queda desta taxa de lucro no período mais recente, 1947- 2007, a taxa de lucro do sistema capitalista mundial tenderia para o valor igual a zero em 2037. Se for mantida nos próximos anos a tendência de queda da taxa de lucro nos Estados Unidos de 1946 a 2012, a taxa de lucro nos Estados Unidos alcançará o valor zero em 2043. Se for mantida a tendência nos próximos anos de queda na taxa de crescimento do Produto Mundial Bruto de 1961 a 2007, esta taxa alcançará o valor zero em 2053. Estas estimativas foram obtidas com base no método dos mínimos quadrados da Estatística.
Conclui-se, pelo exposto, que o sistema capitalista mundial ficaria inviabilizado em meados do século XXI (2037, 2043 ou 2053) quando cessará o processo de acumulação do capital com as taxas de lucro global e de crescimento da economia mundial alcançando o valor zero. A tendência decrescente das taxas de lucro no sistema capitalista mundial mostra o caráter histórico, transitório do modo de produção capitalista e o conflito que se estabelece com as possibilidades de continuar seu desenvolvimento. Assim, as bases da teoria de Marx apresentadas em sua obra O Capital estão sendo confirmadas. Karl Marx previu que a taxa de lucro tenderá a cair no longo prazo, década após década. Não só haverá altos e baixos em cada ciclo de “boom” e crise, mas também haverá uma tendência à queda no longo prazo, tornando cada “boom” mais curto e cada queda mais profunda.
Pode-se afirmar que a globalização econômica e financeira e o livre comércio trouxeram ganhos para poucas empresas e poucos países e suas populações. As corporações transnacionais transferiram suas atividades para áreas em que a mão de obra era mais barata e adotaram novas tecnologias que exigem menos mão de obra na luta pela lucratividade. Em vez de um desenvolvimento harmonioso e igualitário, a globalização contemporânea aumentou a desigualdade de riqueza e renda, tanto entre as nações quanto dentro delas. Sob a livre circulação de capitais pertencentes às empresas transnacionais, assim como sob o livre comércio sem tarifas e restrições, os grandes capitais mais eficientes triunfaram às custas dos mais fracos e ineficientes. Em consequência, os trabalhadores desses últimos setores foram também atingidos. Com o colapso da globalização, é pouco provável que o capitalismo ganhe um novo sopro de vida baseado em lucratividade crescente e sustentada. É improvável que o capitalismo retome a lucratividade do passado diante da perspectiva de aprofundamento da crise atual e talvez de mais guerras no futuro. É inevitável o colapso da globalização econômica e financeira.
Diante do fracasso e do colapso da globalização contemporânea, urge edificar uma nova globalização com o Keynesianismo global e o governo mundial para ordenar a economia mundial. A política econômica Keynesiana adotada em cada país e globalmente e a existência de um governo mundial são as soluções para fazer frente ao colapso da globalização contemporânea e eliminar o caos que caracteriza a economia mundial. O pensamento econômico de Keynes defende o Estado como um agente ativo contra a recessão e alta no desemprego. Por exigir um governo maior como decisor na economia de um país, o Keynesianismo se posicionou contra o pensamento liberal clássico e as demais escolas do pensamento liberal neoclássico que defendem um Estado o menor possível.
Keynes acreditava que o capitalismo poderia superar seus problemas estruturais como sistema econômico desde que fossem feitas reformas significativas na economia de cada país como ele propôs haja vista que o capitalismo liberal, que dominou a economia mundial até 1945, havia se mostrado incapaz de manter o pleno emprego e assegurar a estabilidade econômica. Keynes defendia a intervenção moderada do Estado para alcançar a estabilidade econômica e assegurar o pleno emprego na economia de um país. Keynes afirmava que compete ao Estado incentivar o aumento dos meios de produção e a boa remuneração dos detentores do capital. O pensamento Keynesiano deixou algumas tendências que prevalecem até hoje no atual sistema econômico. Dentre as principais, a utilização de modelos macroeconômicos, o intervencionismo estatal moderado e o uso da matemática na ciência econômica.
O liberalismo neoclássico foi bem sucedido com o Keynesianismo após a 2ª Guerra Mundial quando contribuiu decisivamente para o desenvolvimento econômico da maioria dos países do mundo de 1945 até 1965 que é denominado “golden age” (era de ouro). Cabe observar que nos “anos gloriosos”, foram registrados índices ímpares de crescimento econômico e geração de emprego e renda na economia mundial e a combinação de crescimento econômico com mão-de-obra plenamente empregada, com salários razoáveis e protegida pelo Estado de bem-estar social especialmente nos países da Europa Ocidental. O Keynesianismo deixou de ser eficaz na década de 1970 com a queda no crescimento econômico mundial após os denominados “anos gloriosos” (1945/1965), porque não foi capaz de solucionar as duas crises do petróleo e a crise da dívida de grande parte dos países do mundo que ficaram insolventes junto aos bancos internacionais.
O Keynesianismo foi abandonado como pensamento econômico dominante na década de 1980 e substituído pelo pensamento econômico neoliberal que se opõe ao pensamento econômico marxista e ao pensamento liberal neoclássico Keynesiano de bem-estar social e propõe a restauração do pensamento econômico liberal clássico tendo como base uma visão econômica conservadora que pretende diminuir ao máximo a participação do Estado na economia não apenas no nível nacional, mas também no nível mundial cuja expectativa era de promover a retomada do crescimento da taxa de lucro mundial do sistema capitalista. No entanto, o neoliberalismo que substituiu o Keynesianismo fracassou, também, porque a taxa de lucro mundial e o crescimento econômico mundial continuaram em declínio não impedindo a eclosão da crise mundial de 2008 e o caos se estabeleceu na economia mundial graças à ausência de regulamentação econômica e financeira global.
Diante do fracasso do neoliberalismo e de sua incapacidade de lidar com a crise global do capitalismo, o Keynesianismo poderia ser a solução desde que que ele fosse aplicado em cada país e globalmente, isto é, ele operaria no planejamento econômico, não apenas ao nível nacional para obter estabilidade econômica e o pleno emprego dos fatores em cada país, mas também ao nível mundial para eliminar o caos econômico global que predomina atualmente com o neoliberalismo. O Keynesianismo deveria ser adotado, também, ao nível planetário visando assegurar a estabilidade econômica e o pleno emprego dos fatores globalmente. Com o Keynesianismo em cada país e globalmente, haveria a coordenação de políticas econômicas Keynesianas em nível planetário que só poderia ser realizada com a existência de um governo mundial. Esta seria a forma de obter a estabilidade da economia mundial para eliminar o caos que caracteriza a globalização neoliberal dominante atualmente em todo o mundo.
Para gerir um sistema complexo como o capitalismo, é preciso criar mecanismos de “feedback” e controle pelo governo mundial para assegurar a estabilidade do sistema econômico. Com o Keynesianismo global adotado no planejamento da economia mundial e a existência de um governo mundial seria possível eliminar o caos gerador de incertezas que caracteriza a economia mundial sujeita a instabilidades constantes. A eliminação do caos ou atenuação da instabilidade e da incerteza com suas turbulências e seus riscos na economia mundial só será alcançada com a existência de um governo mundial que atuaria para assegurar a coordenação entre as políticas econômicas Keynesianas adotadas em cada país e globalmente. Para ser eficaz, o governo mundial deveria adotar o processo de planejamento Keynesiano da economia que contribua para eliminar a instabilidade e a incerteza com suas turbulências e seus riscos.
A humanidade só caminhará rumo a uma efetiva integração econômica, inicialmente, e, política, posteriormente, entre os países desde que exista um governo mundial e que funcione, também, um Estado de direito globalizado. Há a necessidade de um Governo democrático mundial que pode ser realizado com a reestruturação da ONU, a transformação da Assembleia Geral da ONU em Parlamento mundial e a transformação da Corte Internacional de Haia reestruturada em Suprema Corte mundial para fazer com que o sistema internacional funcione em benefício de todas as nações, promova o ordenamento da economia mundial e do meio ambiente global, acabe com as guerras e assegure a paz mundial.  O Direito Internacional só será respeitado e aplicado com efetividade com a existência de sistema internacional que opere com um Governo democrático mundial, um Parlamento mundial e uma Suprema Corte mundial.
Para assistir o vídeo, acessar o website https://www.youtube.com/watch?v=lm0eaopywEk
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