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O albinismo entre índios brasileiros

Embora não seja um lugar comum, a existência de indígenas albinos no país vem chamando a atenção da sociedade fotografias de tribos onde a vida de pessoas com esse tipo de deficiência são notadas. O fotógrafo Nacho Doce, da Agência Reuters, em matéria sobre a vida dos guaranis em três reservas situadas no bairro de Jaraguá, em São Paulo, mais parecidas com favelas do que com aldeias, conforme as fotografias tiradas no dia 27 de abril deste ano vê-se a foto de duas crianças, uma delas albina.

Em estudo intitulado “O albinismo em comunidades indígenas”, publicado pela Embrapa em 2005, o estudo dos pesquisadores Fábio de Oliveira Freitas, Joana Zelma Figueredo Freitas e Janaina Alves Santos acredita que a doença é resultado de uma questão cultural: ou seja, os casamentos consanguíneos, uma vez que o albinismo é classificado como uma enfermidade metabólica rara, causada por defeitos, de base genética, na síntese e distribuição de melanina no organismo do indivíduo.

A prevalência média de albinismo mundial é de 1/20000 conforme estudos de 1988, porém, existem locais em que essa incidência é muito alta, como em La Comarca de Kuna Yala, no Panamá, onde se encontra um dos índices de albinismo mais altos em todo o mundo: 1/100, segundo dados de 2004. Em relação às populações indígenas brasileiras, o índice de albinismo é tido como extremamente baixo. Em 1996 para uma população total de aproximadamente 300 mil índios, só existia o relato da existência de dois indivíduos albinos.

Durante uma viagem pelas comunidades ribeirinhas e indígenas entre as cidades de Manoel Urbano e Santa Rosa do Purus, no Acre, o fotógrafo Tiago Araújo, de 28 anos, registrou, na Aldeia Kaxinawá Nova Aliança, duas crianças indígenas albinas.

Tiago que trabalha em eventos sociais, tendo como foco registrar a vida de ribeirinhos e índios da Amazônia contou em matéria do G1 de fevereiro deste ano, que há cinco anos na profissão aquela foi a primeira vez que se deparou com índios albinos. O registro, segundo ele, foi feito durante um trabalho de evangelização. Ele estava acompanhando um grupo de evangelizadores que levam doações, roupas, remédios e bíblias para comunidades ribeirinhas.

Tiago relata que os outros índios não falaram sobre o assunto mas na chegada do grupo foram imediatamente vesti-los , como se orgulhassem deles e os colocaram na frente de todos”, relembra.
Ficou sabendo que eram três e o pai lhes contou que o terceiro estava em outro município com a mãe. A Funai teria informado à reportagem do G1 feita em 2004 que não existia nenhum estudo em relação à existência de albinismo entre índios.

Em termos culturais, vida de índios albinos não deve ser muito fácil e sabe-que que algumas tribos praticam o infanticídio. Diversos são os motivos alegados para o sacrifício de crianças. Os relatos de historiadores são vários. Como narra o estudo publicado pela Embrapa , um estudioso conta que quando uma criança nasce defeituosa, os índios fazem uma cova perto da choupana e nela enterram viva a criança, pois segundo os próprios índios xinguanos: ninguém pode depender de uma outra pessoa para viver.

O nascimento de gêmeos seria outro caso de prática de infanticídio. Segundo a visão dos índios, existe a crença de que os gêmeos são algo proibido, um é mal e o outro é bom e, como não é possível distinguir quem é quem, eles sacrificam os dois.

No caso de mães solteiras ou de relações que não deram certo, como em uma separação, as mães acham por bem sacrificar o bebê porque ele não vai ter o pai presente para cuidar dele e defendê-lo.

Estes são alguns dos motivos citados para que ocorra o infanticídio, “sendo que para o nosso estudo é importante saber que a prática é também aplicada às crianças albinas, a qual entra na mesma situação dos bebês gêmeos”, afirmam os autores do trabalho.

– As características físicas do albino são algo que transmite medo para a sociedade, levando a acreditar que a criança albina representa o mal. Em nossa visita à aldeia, descobrimos que os pais da índia albina não a sacrificaram ao nascer porque, como era o primeiro filho do casal, acharam que sua pele iria escurecer com o tempo. Segundo relatados de outros índios e funcionários da Funai, os pais desta criança posteriormente tiveram mais três filhos com características desta patologia, sendo todos sacrificados ao nascer, afirmam.

Membros mais velhos da aldeia teriam relatado que no passado já houve outros casos de albinos na aldeia, portanto a presença do fator (alelo) albino faz parte da história daquela comunidade e, de tempos em tempos, um indivíduo albino escapa do crivo cultural inicial, ao nascer, integrando a comunidade.

Uma índia albina adolescente, confinada por conta de ter menstruado, o que indicaria sua passagem de sua saída da infância para a vida adulta, o que seria uma etapa de preparação para um casamento, “não vai se casar com ninguém, pois nenhum homem da aldeia a aceitaria como esposa”.

O estudo chama a atenção para que esta índia não deixará descendentes confirmando, que mesmo quando algum indivíduo com esta patologia consegue escapar do crivo inicial, ele fica de tal forma estigmatizado, perante sua própria sociedade, que dificilmente conseguirá formar uma relação de casal, com o qual perpetuaria para uma nova geração seus alelos de albinismo.

O albinismo (do termo em latim albus, “branco”; também chamado de acromia, acromasia ou acromatose) é um distúrbio congênito caracterizado pela ausência completa ou parcial de pigmento na pele, cabelos e olhos, devido à ausência ou defeito de uma enzima envolvida na produção de melanina. O albinismo resulta de uma herança de alelos de gene recessivo e é conhecido por afetar todo o reino animal. O termo mais comum usado para um organismo afetado por albinismo é “albino”.

O albinismo é associado com um número de defeitos de visão, como fotofobia, nistagmo (oscilações rítmicas, repetidas e involuntárias de um ou ambos os olhos conjugadamente, de um lado para o outro) e astigmatismo. A falta de pigmentação da pele faz com que o organismo fique mais suscetível a queimaduras solares e câncer de pele, sendo uma doença com herança autossômica recessiva, sendo, portanto necessário que ambos os pais forneçam o alelo recessivo para que o filho apresente o fenótipo albino.

Aurora Vasconcelos

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Jorge Roriz

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