Médicos condenam gravidez de alemã de 65 anos

alema_gravida_65anosUma professora de Berlim está grávida de quadrigêmeos aos 65 anos de idade. Nascimentos múltiplos já são altamente arriscados para mulheres jovens e, em idade avançada, constituem uma ameaça à vida – da mãe e dos bebês. A gravidez da sexagenária é motivo de consternação entre a classe médica na Alemanha.
“Preocupa-me profundamente saber que a medicina – apenas porque é possível – pode provocar tais gravidezes. Como médico, me falta qualquer tipo de compreensão”, diz Frank Louwen, chefe da obstetrícia e medicina pré-natal do Hospital Universitário de Frankfurt.
Assim como ele, muitos outros médicos estão horrorizados com a gravidez da berlinense de 65 anos, Annegret R. Ela deve dar à luz quadrigêmeos dentro dos próximos dois meses.


“Estamos falando sobre o fato de que crianças são concebidas [artificialmente]. Esse fenômeno maravilhoso está sendo enquadrado numa competição quanto à idade máxima que a mãe mais velha pode ter. Isso é terrível”, afirma Louwen.
Mundo afora há outros casos que ficaram famosos. A cantora italiana de rock Gianna Nannini se tornou mãe aos 54 anos. A atriz americana Geena Davis teve gêmeos aos 47 anos. E há dez anos, uma romena de 66 anos deu à luz uma menina após inseminação artificial.


Em 2005, Annegret R.,mãe de outros 13 filhos, já havia ocupado as manchetes da imprensa alemã. Na época com 55 anos, ela deu à luz uma menina. Dez anos depois, mais uma vez ela quis testar a própria sorte. E porque uma gravidez natural já não era mais possível, ela teria passado várias vezes por inseminações artificiais no exterior. A professora é mãe solteira.


Devido às alterações hormonais, a fertilidade diminui nas mulheres a partir de certa idade. Os ovários não produzem mais óvulos. Por essas razões, a berlinense dependia de doações de esperma e de óvulos. A intervenção foi realizada no Leste Europeu.


Segundo Louwen, é irresponsável expor uma mulher dessa idade a esse tipo de terapia. Colocá-la num tratamento hormonal que a leve à situação de poder engravidar novamente é algo contrário à natureza e que põe a vida em risco, da mãe e das crianças. “Uma doação de óvulos, por si só, já é muito perigosa para mãe e crianças. Mas essa combinação de doações de esperma e óvulos é, do ponto de vista médico, incompreensível”, afirma Louwen.


Nascimentos múltiplos são predominantemente nascimentos prematuros, nos quais sequelas e deficiências podem ocorrer em diferentes intensidades. “Não podemos apenas dialogar sobre o planejamento de vida e desejos da mãe, mas precisamos também falar sobre o bem-estar da criança”, diz Jochen Vollmann, chefe do Instituto para Ética e História da Medicina na Universidade Ruhr-Bochum.
“Uma gravidez de quadrigêmeos é uma gestação de risco também no caso de mulheres mais jovens”, afirma. “Não é raro que quádruplos venham ao mundo com deficiências ou problemas de saúde que os acompanham durante toda a vida.”


Na Europa, métodos reprodutivos são regulados por leis distintas em cada país. Na Alemanha, há a lei de proteção dos embriões. A doação de óvulos é proibida. O chamado transplante de óvulos é permitido somente quando o óvulo transplantado provém da mesma mulher da qual foi retirado. Inclusive ajudar em doações, como quando um médico indica um especialista no exterior, é passível de punição.
A doação combinada de espermatozoides e óvulos é algo proibido na Alemanha por questões éticas e morais. Vollmann considera a proibição apropriada. “Sabemos que crianças que crescem felizes ao lado de seus pais sociais desenvolvem, quando mais velhas, uma profunda necessidade de saber sua origem genética”, diz.


Ou seja, quando os filhos têm o desejo de conhecer o pai biológico ou a mãe biológica, deve ser assegurado que isso seja possível, também para aqueles que são resultado de uma inseminação artificial de doadores estrangeiros, diz o especialista em ética.


Levando em conta que a gravidez tardia representa um grande risco tanto para as crianças em desenvolvimento como para a saúde física e mental da mãe, deveria haver um limite de idade para a inseminação artificial? Não, responde Vollmann. “O caso [da professora de Berlim] é tão interessante porque ele registra o extremo de uma tendência geral”, afirma.


Mães estariam ficando mais velhas, porque para muitas mulheres o desejo de ter filhos se manifesta apenas em idades mais avançadas. Ao lado do planejamento de carreira e da procura de um parceiro, esse desejo vive uma tensa relação com a condição biológica das mulheres, aponta Vollmann. “Por meio da inseminação artificial, a medicina possibilitou uma gravidez mais tardia às mulheres”, diz.
Até que idade uma mulher pode engravidar é uma questão de discernimento, afirma Vollmann. “As partes envolvidas devem fazer uma reflexão moral, e, nesse caso, o foco deve estar centrado no bem-estar da criança.” Na foto, Annegret posa com filhos e netos.
 
Fonte: Deutsche Welle (DW)

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