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Médico ajuda índios a resgatar saber tradicional

Uma das tribos mais remotas da região amazônica, a aldeia Kumenê reserva de Uaçá, fica a 7h de barco de Oiapoque e a 590 Km de Macapá, capital do Amapá, no extremo norte do Brasil e é habitada por índios da etnia Palikur. Há aproximadamente 30 anos, missionários evangélicos construíram uma igreja no local e converteu praticamente toda a população que deixou de lado sua cultura tradicional, associada a paganismo ou bruxaria, em razão da visão da nova doutrina adotada.

Por ser uma aldeia polo, a população atendida pela unidade de saúde local é de 1576 indígenas ao todo, considerando a população das tribos vizinhas. Embora quase todos entendam o português, ensinado nas escolas, a comunicação entre eles é feita através do idioma nativo, o Palikur. Os pastores conseguiram banir das aldeias a atuação dos pajés, as danças típicas, o nudismo e o consumo do caxixi.

Com a chegada dos pastores evangélicos, algumas tradições foram banidas da aldeia, entre elas a atuação de pajés, as danças típicas, o nudismo e o consumo de caxixi, bebida alcóolica à base de mandioca que era fermentada com a saliva dos índios.


Retorno ao saber

Isso, até a chegada do médico cubano do Programa Mais Médico, Javier Lopez Salazar, em janeiro de 2014, especialista em Medicina Familiar e comunitária e com uma pós-graduação em Medicina Tradicional, que iniciou um trabalho de resgate cultural na aldeia, na tentativa de recuperar a sabedoria local na utilização de plantas e ervas medicinais. O que ele não esperava é que isso fosse causar uma pequena revolução na aldeia Kumenê.

“Eles deixaram de acreditar em plantas medicinais, até a minha chegada aqui. Pouco a pouco, com a equipe de saúde, fomos convencendo as pessoas”, contou o médico cubano, que buscou os professores da escola local para fazer uma campanha de conscientização sobre a importância da medicina tradicional, ao mesmo tempo em que resgatava esses saberes com a população mais velha da aldeia. “Como professor, eu expliquei para os meus alunos a importância das ervas medicinais e incentivei a participação deles. E eles me responderam que iam colaborar”, contou José Passinho Ioio, professor indígena da aldeia.

Apoio do cacique

A iniciativa foi apoiada pelo cacique, Azarias Ioio Iaparrá: “Eu disse para o médico que nós tínhamos esse conhecimento, do remédio caseiro. Ele então reuniu as comunidades, chamou os idosos, todos nós conversamos. E hoje em dia ele fez a comunidade ver a importância disso, a horta está lá, tão bonita. Ele veio e mostrou o conhecimento dele”, disse.

Após uma reunião entre a comunidade e a equipe de saúde, foi traçado um plano de ação. Os indígenas buscaram as canoas defeituosas e abandonadas nas beiras dos rios, levaram para o centro da aldeia, e, sob a liderança do médico, começaram a plantar as ervas medicinais. Cada canoa tem um tipo de planta, uma placa com seu nome e as indicações de uso. Apenas o médico pode receitar a utilização das ervas cultivadas no local.

Além de resgatar o saber tradicional indígena na aldeia, o trabalho de Javier ainda ajuda o país na proteção, pesquisa e preservação de plantas amazônicas. Todas as ervas medicinais usadas na aldeia Kumenê são reconhecidas e catalogadas no Brasil, mas, aquelas que são desconhecidas ou não têm registro são levadas pelo médico cubano para o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa) para serem devidamente estudadas e registradas.

Fonte: Organização Pan-Americana de Saúde(OPAS)
A.V.

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