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Manifesto do Coletivo Quingoma:  Qual a cultura que queremos? 

Tassio Revelat
        Em um contexto nacional de aguda crise econômica e instabilidade política, somos desafiados a pensar sobre a política cultural. Afinal, qual cultura queremos? Lauro de Freitas, antigo Distrito do Ipitanga, é detentora de um patrimônio cultural, histórico e ambiental, raro e invejável. Entretanto, para que esse patrimônio seja preservado faz-se necessário criar uma política de Estado no campo cultural que possa fortalecer as tradições, profissionalizar os grupos culturais e formar um mercado cultural responsável, preservando e promovendo um desenvolvimento local sustentável.
 Mas qual a cultura que queremos ?  Quais as demandas, os sonhos e anseios das comunidades tradicionais, grupos culturais e artistas de Lauro de Freitas? O que o cidadão contribuinte espera do Governo Municipal? Todos as respostas apontam para um único caminho: Uma política cultural que possa gerar preservação ambiental e cultural, além de inclusão social, formação profissional e aprendizagem, e não a velha política do pão e circo que fomenta alienação e busca camuflar os problemas sociais.
Desse modo, com o objetivo de aprimorar a política cultural realizada nas últimas décadas, o Coletivo Quingoma propõe onze eixos/ações:
1°) A capacitação e a profissionalização dos agentes culturais por meio de cursos e oficinas.
2°) Racionalização dos recursos do fundo de cultura priorizando ações efetivamente culturais, com ênfase em projetos que envolvam formação, inclusão social e economia solidária nos diversos bairros do município. Neste sentido, eventos e festas  serão prerrogativas da iniciativa privada. Já as lavagens e festas tradicionais e calendarizadas serão pensadas não como “produtos em si”, mas como fruto de um processo formativo. ex: Ao invés de pagar 450 mil reais para uma banda de fora tocar na Lavagem da Itinga ou na festa da emancipação política, esse valor será distribuído  para grupos culturais da cidade que desenvolvem trabalho perenes e voltados para a conscientização social em comunidades em situação de vulnerabilidade.  A lavagem/festa será um momento desses grupos e comunidades socializarem para a população geral o que foi aprendido ao longo do ano.
3°) Realização da democratização do acesso aos recursos públicos por meio da política de edital.
4°)  Aumento dos recursos destinados ao fundo de cultura, passando de 1% para 2% da arrecadação municipal.
5°) Criação de  um sistema de informações, indicadores e cadastros culturais que seja atualizado constantemente, não apenas para facilitar o acesso à informação pelos turistas, mas também para mapear as demandas e potencialidades dos grupos e projetos culturais comunitários.
6°) A realização de espetáculos, festivais, feiras, bienais, bem como a criação do Museu Municipal, da Biblioteca, da Companhia Municipal de Dança e da Casa da Cultura, pois são medidas de suma importância para dinamizar o cenário cultural da cidade, para além da política do Pão e Circo, que gera  violência e pouco retorno social.
7°) Proteção e valorização dos conhecimentos e expressões culturais das comunidades tradicionais como o Samba de Roda do Quingoma, As Casas de Farinha de Areia Branca, a gastronomia quilombola/indígena e o incentivo de projetos que promovam o desenvolvimento local sustentável por meio do turismo étnico comunitário e da agroecologia.
8°)  Concretização das  contrapartidas sociais para as comunidades afetadas pela especulação imobiliária, que fragmenta o território, destrói a biodiversidade e descaracteriza a paisagem cultural local.
9°) A  cessão de um espaço cultural no novo Shopping da Bahia para as expressões e artefatos culturais do município.
10°) A reativação do Departamento de Patrimônio da Secretaria de Cultura para que a pasta possa fomentar ações de apropriação , preservação e difusão do patrimônio cultural local.
11°) Lauro de Freitas é cortada por três rios principais e banhada pelo oceano atlântico. Sendo assim, faz-se necessário a revitalização dos rios e a valorização da cultura do mar e das águas como a pesca artesanal.
O Coletivo Quingoma é uma expressão da sociedade civil organizada que reúne lideranças quilombolas e indígenas do Quingoma, bem como professores, pesquisadores e gestores culturais que atuam na comunidade. Realizamos o Projeto de Turismo de Base Comunitária, o Fórum de Educação Quilombola e Indígena, além de oficinas temáticas, rodas de diálogos, palestras e exposições audiovisuais. Nossa linha de atuação envolve a interface entre universidade-escola-comunidade, tendo em vista a promoção de uma educação de qualidade e o desenvolvimento local sustentável.
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