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Malabarismo: a arte da gestão pública

Em março deste ano, quatro diretores do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) foram exonerados de seus cargos, após a denúncia de que um cadáver foi deixado em um banheiro utilizado pelos pacientes. Na época, a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), alegou que a substituição da diretoria era parte do processo de transição iniciado em janeiro, quando o secretário estadual de Saúde, Fábio Vilas-Boas, tomou posse.

O certo é que no dia 31 de março desde ano, os novos gestores foram empossados, com um principal desafio: reorganizar a unidade que é o segundo maior hospital de emergência da Bahia. Entre eles, estava o médico Hugo da Costa Ribeiro Júnior, deste então o novo diretor executivo da unidade.

Administrado diretamente pelo Estado, o HGRS possui cerca de 700 leitos, custa aos cofres públicos cerca de R$ 23 milhões de reais mensalmente e é referência em áreas como hemorragia digestiva, nefrologia, pediatria, clínica médica e neurocirurgia. Por isso, atende pacientes da capital e do interior. Gente como o aposentado Márcio Lopes de Almeida, 60, que ficou internado uma semana na unidade para realizar uma cirurgia vascular: “Eu vim de Feira de Santana, graças a Deus consegui ser atendido, agora é ir para casa e torcer para que a cirurgia diminua minhas dores”, relata.

 

Reorganizando um hospital

Hugo Ribeiro (HGRS)Um dos principais problemas enfrentados pelo HGRS é a superlotação. Não há vagas para todos, por isso leitos são improvisados nos corredores. Mas, nestes primeiro quatro meses, ações já foram implementadas para que os pacientes tenham o mínimo de conforto garantido:“Reorganizamos a emergência. Hoje, classificamos as pessoas de acordo com a gravidade, para garantir o atendimento, com rapidez, dos casos mais graves. Tinha cadeira de praia em nossa emergência, hoje já não há mais situações como estas. Mas também há outras mudanças significativas. Estamos conseguindo dar alta mais rápido e a mortalidade não aumentou. O centro cirúrgico nós estamos movimentando, passamos de 13 cirurgias e estamos fazendo 18, 20, houve um dia em que fizemos 26 cirurgias”, pontua o diretor.

As melhorias foram conquistadas em meio a redução de verba feita pelo governo estadual. O contingenciamento chegou a cerca de R$ 1 milhão nos recursos mensais. Para tentar aliar mudanças positivas com dinheiro reduzido, muita coisa precisou ser feita: “Nós sabíamos que aqui tinha muito descontrole, muito desperdício. Então, este corte afeta principalmente esta zona de desperdício e descontrole. Na área de nutrição, nós reduzimos em torno de 25% os gastos. Ninguém deixou de comer, mas passamos a fez o controle adequado”, pontua.

Porém, quando se trata de um estabelecimento público existem determinações que nem uma gestão eficiente consegue mudar: “Às vezes a gente tem que lidar com profissionais e com toda esta coisa complexa do serviço público. Eu não posso escolher no mercado alguém extremamente (competente). O setor privado faz, traz um engenheiro clínico experiente, que não é filho de ninguém, que entrou por sua qualificação”.

 

A importância da gestão qualificada

A qualificação dos profissionais é um dos caminhos apontados por Ribeiro para melhoria da qualidade dos serviços prestados: “No momento em que você tem um conjunto de pessoas extremamente qualificado, a ‘burocracia’ se torna um problema menor. Porque se você tem previsão (das coisas), se você controla seu estoque, sabe o ponto de ressuprimento… Você passa a administrar melhor as coisas. Aqui em um mês pode ter tantas pessoas e no outro mais pessoas, então este acompanhamento do consumo tem que ser dia a dia para que a gente saiba que o nosso consumo está mais alto que o normal e meu ponto de suprimento que tinha que ser com 15 dias, vai ter que ser com 12”.

Ribeiro destaca que quando se pensa em profissionais no âmbito de um hospital, não devem ser considerados apenas os médicos, afinal marceneiros, eletricistas, auxiliares de serviços gerais, entre outros, também são essenciais para que uma unidade funcione bem. Agora todo o sistema deve ser tocado por gestores bem preparados: “A maioria dos hospitais não tem uma estrutura de gestão profissional. A maioria (dos gestores) são pessoas que foram improvisadas, pessoas, às vezes, que nunca trabalhou em gestão”, pontua para mostrar que o problema nem sempre passa pela falta de recursos, pessoal ou equipamentos.

 

Ana Paula Lima

 

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