Uma nova técnica para remoção de placas de gordura de artérias foi realizada pela primeira vez no País no Hospital Santa Isabel, centro de São Paulo, no mês maio. Trata-se da aterectomia – uma nova técnica direcionada e utilizada por um equipamento, chamado TurboHawk – que suga e elimina a gordura da artéria. O procedimento é realizado através de um corte de cinco milímetros na região da virilha do paciente, o médico introduz e controla um cateter revestido com uma fina camada metálica e com uma lâmina. A desobstrução é na artéria femoral, localizada na região da coxa.
De acordo com o especialista do hospital, o procedimento é considerado menos invasivo do que a colocação de stents – tubos metálicos inseridos em artérias obstruídas para liberar o fluxo sanguíneo e deve beneficiar principalmente diabéticos com doença arterial obstrutiva periférica. Trata-se de entupimento das artérias dos membros inferiores que causa dores e dificuldade para andar.
Para o chefe do Serviço Vascular do hospital, Alvaro Razuk, a principal vantagem desse procedimento é não colocar o metal, que pode se deslocar e causar lesões nos pacientes. Razuk salienta que o stent não é ruim, e afirma ser o padrão-ouro, mas, se puder não o colocar, é melhor. O centro médico é ligado à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
O chefe também afirma que a raspagem da gordura é feita pela lâmina, mas é totalmente controlada pelo médico. Ele ainda explica que o material retirado é armazenado em um recipiente. “Trata-se de um processo parecido com a lipoaspiração, mas não retira uma quantidade tão grande de gordura”, enfatiza.
O primeiro paciente a ser submetido à técnica, foi o porteiro Eliezer Silva de Lima, de 65 anos. Ele começou a fumar aos 23 anos e não pratica atividades físicas. Há três meses e meio, apresentou sintomas da doença arterial obstrutiva periférica. Geralmente as pessoas mais propensas a desenvolver a doença, dentre elas, os fumantes, as sedentárias, homens com mais de 60 anos, obesos e pacientes com maus hábitos alimentares.
Segundo Eliezer sentia muitas dores e inchaço nas pernas. Ele a inda a relata que sentia dificuldade para andar – caminhava apenas 30 metros e tinha de parar para descansar, além de tomar medicamentos sem obter resultado. “Meu pé direito ficou ferido e o dedão, muito escuro.” Lima diz que recebeu a informação de que seria submetido à técnica e que resolveu aceitar. “Eu não tenho dúvidas de que estou melhor agora. A minha idade não ajuda muito, mas estou bem.”
Em todo o mundo, acontece 1 milhão de amputações por ano em decorrência da doença e 50% dos pacientes ainda não tinham sido submetidos a tratamento, segundo Razuk. O chefe do Serviço Vascular do hospital, ainda ressalta que o entupimento das artérias pode continuar evoluindo e aparecer em outras partes do corpo, causando complicações em órgãos como o cérebro e o coração e alerta que a nova técnica é voltada apenas para a artéria femoral.
Razuk diz que o procedimento já é realizado nos Estados Unidos e na Europa. “É uma técnica recente, que existe há dois anos, mas os resultados são animadores. Outros hospitais do País devem utilizá-la também.”
O especialista pondera, no entanto, que o preço pode atrapalhar a disseminação do procedimento. “Uma angioplastia com stent custa em torno de R$ 15 mil e é mais barata do que esse dispositivo, que deve ficar 50% mais caro.”
Presidente da SBD – Sociedade Brasileira de Diabetes -, Walter Minicucci diz que é importante buscar procedimentos menos invasivos e que evitem riscos para os pacientes, mas que é fundamental fazer trabalhos de conscientização da população. “A gente procura evitar tratamentos que causem complicações, mas há outras técnicas para melhorar o risco, como manter o colesterol baixo e não fumar.”
Para Luiz Francisco Machado da Costa, diretor da SBACV – Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular -, a técnica vem para complementar os tratamentos tradicionais para a doença. “É um dispositivo que não é experimental, mas muito pontual. É para abrir um caminho quando a placa de gordura está muito rígida. Essa técnica não veio para substituir, mas para agregar, é mais uma alternativa.”
Fonte: Estadão
L.O.