O Ministério da Saúde estima que, no período d/e 2000 a 2023, foram notificados mais de 785 mil casos de hepatites virais no Brasil. Por se tratar de uma doença silenciosa, às vezes assintomática por muitos anos, as hepatites levam a quadros graves de difícil tratamento como a cirrose hepática e o câncer de fígado.
Ao dar à luz a seu filho Cícero Carvalho, há 33 anos atrás, Carmelita Alves teve uma hemorragia durante o parto e precisou receber transfusão sanguínea. Há três anos, ela notou os olhos amarelados e procurou uma UBS próxima à sua casa, sendo submetida a uma testagem rápida para hepatites B e C. Foi quando descobriu que tinha adquirido o vírus da hepatite C, provavelmente em decorrência da transfusão sanguínea.
Foi então encaminhada para atendimento da hepatite C, soube que já estava num estágio de cirrose e recebeu o tratamento com uma medicação de dosagem simples, um único comprimido ao dia, por apenas 12 semanas e sem efeitos adversos. Foi testada para o vírus 12 semanas após o fim do tratamento, e a carga viral havia desaparecido. “Como eu não sentia nada, não imaginei que poderia ser algo mais grave como uma cirrose. Mesmo assim, o médico prescreveu o tratamento e eu fiquei curada da hepatite”, lembra Carmelita.
Mesmo após curada, ela mantém o acompanhamento por conta da cirrose hepática. “O meu sangue ficou ralo, mas depois de curada da hepatite, estou me recuperando. Agradeço a Deus e aos médicos pelo restabelecimento da minha saúde”, diz a senhora.
Diagnosticar as hepatites B e C precocemente é a melhor forma de obter eficácia no tratamento. Hoje, aos 65 anos, ela mantém sua rotina normalmente, está aposentada e cuida do seu neto de onze anos. Seu esposo, Natanael Alves, fez teste e não tinha o vírus, aproveitou a oportunidade e já tomou a vacina contra hepatite B, pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e está prevenido contra a doença.
Assim como Carmelita e sua família, os tratamentos oferecidos pelo SUS têm mudado a vida de portadores de hepatites virais. “Quando o indivíduo descobre a doença com a eclosão dos sintomas, pode ser tarde. Por isso a importância da identificação precoce do vírus no organismo, em tempo de promover um tratamento bem-sucedido e prevenir futuros danos”, alerta Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde. “Sem falar na vacinação, ter a caderneta vacinal em dia é essencial para se prevenir da doença e sua transmissão”, completa.
Sobre a hepatite
A hepatite é uma inflamação do fígado e pode ser causada por vírus, uso de alguns remédios, álcool e outras drogas, além de doenças autoimunes, metabólicas e genéticas. É uma infecção que atinge o fígado, causando alterações leves, moderadas ou graves.
As hepatites virais são um grave problema de saúde pública no Brasil e no mundo. No Brasil, as mais comuns são causadas pelos vírus A, B e C. Existem ainda, com menor frequência, o vírus da hepatite D (mais comum na Região Norte do país) e da hepatite E, que é menos frequente no Brasil, sendo encontrado com maior facilidade na África e na Ásia.
Diagnóstico e tratamento
O SUS disponibiliza meios para diagnosticar as hepatites virais, sejam exames de sangue e testes rápidos ou laboratoriais, em qualquer unidade básica de saúde (UBS) e nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA).
O tratamento da hepatite A se resume a repouso e cuidados com a dieta do paciente. Já em caso de hepatite C, a intervenção terapêutica é feita com os chamados antivirais de ação direta (DAA), geralmente por 8 ou 12 semanas, apresentando taxas de cura de mais de 95%.
A hepatite B não possui cura, mas seu tratamento com medicamentos específicos (alfapeginterferona, tenofovir e entecavir) tem por objetivo reduzir o risco de progressão da doença e complicações.
Sintomas
Os sintomas podem se manifestar por meio do cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. Atualmente, existem testes rápidos para detecção da infecção pelos vírus B ou C, que estão disponíveis no SUS. Todas as pessoas precisam ser testadas pelo menos uma vez na vida para esses tipos de hepatite. Populações mais vulneráveis precisam ser testadas periodicamente.
Prevenção
Todas as hepatites virais podem ser evitadas com alguns cuidados. Para a do tipo A, o recomendado é lavar as mãos com água e sabão após ir ao banheiro, trocar fraldas e antes de cozinhar ou comer, além do uso de água tratada, saneamento básico e higienização adequada dos alimentos. Desde 2014, crianças de 15 meses até menores de 5 anos recebem a vacina pelo calendário nacional de imunização. Essa medida reduziu drasticamente a incidência de hepatite A.
A vacina também está disponível para algumas populações especiais em adultos, como pessoas vivendo com HIV (PVHA), pessoas portadoras de doenças hepáticas crônicas e outras situações de imunossupressão.
Já a prevenção das hepatites B e C passa por evitar o contato com o sangue contaminado. Portanto, recomenda-se a utilização de preservativos nas relações sexuais, sempre exigir materiais esterilizados ou descartáveis e não compartilhar itens, equipamentos ou utensílios de uso pessoal. A hepatite B também pode ser prevenida por meio da imunização, e apenas a do tipo C não possui vacina.
Transmissão
A hepatite A é transmitida de pessoa para pessoa pelo contato íntimo, ou através de alimentos ou água contaminados por fezes contendo o vírus. Portanto, cuidados com a higiene são fundamentais para evitar a contaminação. Já o contágio das hepatites virais B, C e D ocorre por contato com sangue e hemoderivados, podendo também ser passadas por contato sexual e da mãe infectada para o recém-nascido.
A transmissão pode ocorrer ainda pelo compartilhamento de objetos contaminados, como lâminas de barbear, escovas de dentes e alicates.
A hepatite C tem maior taxa de detecção em indivíduos acima dos 40 anos de idade, ou que apresentem fatores de risco acrescidos, como: ter sido submetido a procedimento de hemodiálise; ter diabetes ou hipertensão; ter realizado procedimentos invasivos (estéticos ou cirúrgicos, tatuagens ou piercings) sem os devidos cuidados de biossegurança; ter realizado transfusões sanguíneas antes de 1993; compartilhar objetos para o uso de drogas, dentre outros.
Julho Amarelo
Com a chegada do Julho Amarelo – lembrado como o mês de luta contra as hepatites virais -, o Ministério da Saúde promoverá ações de visibilidade e enfrentamento à doença no período. Elas terão início nos dias 8 e 9 de julho, com o “II Seminário Diálogos para a eliminação das hepatites B e C: o caminho para eliminação e ações nos territórios”.
O objetivo do evento é promover o debate entre o ministério e as coordenações estaduais e municipais sobre os programas de hepatites virais e as ações nacionais para a eliminação das hepatites B e C como problemas de saúde pública até 2030.
Vanessa Rodrigues
Ministério da Saúde