Misturar jogos e saúde dá certo? No caso de jogos virtuais, o pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Marcelo de Vasconcellos, acha que sim. Ele coordena o projeto Jogo digital para comunicação em saúde que usa esse tipo de jogo para influir no aprendizado e no cuidado da saúde por crianças e adolescentes.
A primeira experiência, segundo conta, foi a construção de um jogo que aborda a vida de pessoas que convivem com a HIV/Aids. Voltado para jovens, o game explora o modo como os diversos personagens lidam com a realidade da doença.
Para ele, de certa forma, jogo digital e saúde sempre estiveram misturados, pois desde os primeiros jogos digitais havia as “vidas” do personagem, que depois se tornaram “barras de vida”, retângulos coloridos que iam esvaziando à medida que o personagem era atingido por oponentes no jogo. “ Podemos dizer que o cuidado com a própria saúde é um elemento básico da maioria dos jogos digitais. Com a sua popularização na sociedade começou a haver mais e mais interesse em utilizá-los para fins educativos — os chamados serious games — e entre estes, a Saúde é um dos campos mais relevantes”, afirmou.
O pesquisador acredita que o brincar é uma função natural do ser humano e também de muitos animais. Também não se limita às crianças, pois todos brincam de uma forma ou de outra, propiciando além das funções de relaxamento e sociabilidade, é um poderoso meio de aprendizado. Na sua tese de doutorado, ele abordou o potencial dos Massively Multiplayer On-line Roleplaying Games (MMORPGs) como uma estratégia de Comunicação e Saúde .
– Na brincadeira lidamos com muitas situações semelhantes às da vida real, mas em um ambiente seguro onde podemos explorar alternativas de ação sem riscos reais. Os jogos digitais nada mais são que uma brincadeira estruturada por regras objetivas. Eles são maleáveis pois permitem integrar diversas mídias, como texto, imagens, vídeo, respondendo às ações do jogador, observa.
Por este motivo, conforme acredita, os vídeos assumem de forma ainda mais marcante a característica de simulação do real, permitindo uma abordagem de tentativa e erro onde é possível testar exaustivamente soluções para os desafios do jogo. Esta forma de aprendizado tende a ser mais gratificante e envolvente para o usuário e torna os jogos digitais excelentes para tratar das complexas questões do campo da Saúde.
Marcelo afirma que os jogos digitais têm sido prioritariamente utilizados para transmitir conteúdo audiovisual que fica mais atraente no jogo em função das suas características interativas. “ Entretanto, em minha tese abordei um aspecto menos explorado, que é o uso de jogos online como espaços de participação social em favor da saúde. Nestes jogos, que congregam milhares de jogadores e formam imensas comunidades em mundos fantasiosos, jogadores podem ser encontrar, trocar ideias e definir planos para cooperação na resolução de diversos problemas”.
– Existem até jogos onde jogadores podem eleger seus representantes para diálogo contínuo com os criadores do jogo. Embora isso não tenha sido ainda aplicado na saúde, é possível imaginarmos jogos onde os jogadores se encontrem virtualmente e formem equipes para investigar epidemias, promover campanhas de saúde online e até planejar e testar políticas de saúde para o mundo virtual, acrescentou.
Fonte: Fiocruz