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HPV pode causar câncer de cabeça e pescoço

Os tumores de cabeça e pescoço – língua, céu da boca, faringe, laringe e amigdala- são o sexto grupo de câncer mais comum no mundo, originando cerca de 650 mil novos casos todos os anos. No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro, 32.130 pessoas foram diagnosticadas com algum desses tipos de câncer em 2014.

O câncer nessas regiões do corpo é dos mais assustadores, pois implica em transformações no rosto,o que pode causar depressão e baixa auto-estima em muito dos pacientes. Muitas vezes, como parte do tratamento, é preciso remover a língua e outras partes da boca e da garganta tomadas pelos tumores, o que mexe com a identidade dos pacientes além de causar-lhes dificuldades para comer, falar e respirar.

Atualmente, o aumento de casos de tumores de cabeça e pescoço- em pessoas com idade entre 30 e 45 anos que não fumam e não bebem, ou bebem pouco, está intrigando médicos e pesquisadores. Os casos eram mais comuns em homens com mais de 50 anos, fumantes e consumidores contumazes de bebidas alcoólicas.

Infecções causadas pelo papilomavírus

Através de estudos, os especialistas concluíram que o papilomavírus humano, o HPV, microrganismo geralmente encontrado em qualquer pessoa, em algum momento da vida, é o causador de infecções que facilitam a formação desses tumores.
Responsável por 25% dos casos de câncer de amígdala, um dos mais frequentes nessa região até 10 anos atrás, o HPV hoje está associado a 80% desses tumores. O estudo recente de especialistas do A.C. Camargo Câncer Center, em São Paulo, é reiterado por outros grupos de pesquisa.
Segundo os pesquisadores, antes desses trabalhos, o HPV era mais conhecido como o principal agente causador de verrugas genitais e de câncer de colo do útero – o terceiro tipo de tumor mais comum em mulheres, depois do de mama e cólon e reto – e, raramente, de tumores de pênis e ânus.
O fato de agora estar sendo associado a tumores na região da cabeça e do pescoço se deve possivelmente ao mesmo motivo: práticas sexuais, principalmente sexo oral, sem proteção e com muitos parceiros.
Preservativos e higiene

O uso de preservativo pode não ser suficiente para evitar a contaminação, alertam os especialistas, segundo os quais o HPV, transmitido pelo contato direto com a pele infectada muitas vezes, pode se esconder em áreas não cobertas pela camisinha, como a bolsa escrotal.
“A falta de higiene íntima e bucal aumenta o risco de transmissão do vírus e de desenvolvimento de tumores, sobretudo os de amígdala, orofaringe (parte da garganta logo atrás da boca) e língua”, diz o cirurgião Luiz Paulo Kowalski (foto), diretor do Núcleo de Cabeça e Pescoço do A.C. Camargo.
Primeiros sintomas
Os primeiros sintomas que indicam a formação de tumores são pequenas feridas que sangram facilmente e crescem até chegar à musculatura e aos nervos, então causando dor. “Cerca de 80% das pessoas diagnosticadas com câncer de cabeça e pescoço em São Paulo têm tumores em estágio avançado porque não deram atenção aos primeiros sintomas, que são indolores”, diz Kowalski.

Segundo ele, a dificuldade para mastigar e engolir, movimentar a língua ou a mandíbula são sintomas tardios. Nesses casos, as consequências são mais dramáticas: “Às vezes é preciso remover metade ou até mesmo toda a língua ou as cordas vocais”.
Os primeiros sinais de que pessoas mais jovens, não fumantes e de boa saúde – alguns atletas, inclusive – estavam tendo mais tumores de cabeça e pescoço foram percebidos nos Estados Unidos a partir da década de 2000, mudando o perfil epidemiológico da década anterior, associado a pessoas com mais de 50 anos que bebiam e fumavam assiduamente.
Estudos no Brasil

Kowalski detectou essas mudanças no Brasil em 2011, quando, com sua equipe, comparou as análises moleculares de 114 amostras de tumores de boca de dois grupos de pessoas tratadas no A.C. Camargo: um formado por indivíduos com idade entre 30 e 45 anos, que não fumavam nem bebiam, e outro com pessoas com mais de 50 anos que fumavam e bebiam antes de terem a doença.

Ele encontrou trechos do DNA do HPV em 68,2% das 47 amostras do grupo mais jovem e em 19,2% das 67 amostras do grupo que fumava e bebia, conforme descreveu em um artigo publicado em 2012 no International Journal of Cancer.

Os médicos do A.C. Camargo observaram que as pessoas mais jovens, cujo câncer estava associado ao HPV, respondiam melhor ao tratamento e apresentavam melhores taxas de sobrevida do que as com mais idade, cujos tumores eram em geral mais agressivos e resistentes. Segundo Kowalski, essas diferenças poderiam resultar do fato de os pacientes mais jovens serem mais saudáveis por não beberem nem fumarem.

“Pessoas com tumores causados pelo álcool e pelo tabaco, além de terem mais idade, costumam sofrer de problemas pulmonares e cardiovasculares, e o diagnóstico geralmente é feito quando os tumores estão em um estágio mais avançado, o que dificulta o tratamento”, diz Kowalski, que presidirá ainda este mês a quinta edição do Congresso Mundial da Academia Internacional de Câncer Oral, realizado pela primeira vez no Brasil, e que reunirá profissionais de diversas áreas para discutir estratégias que estimulem a prevenção e o diagnóstico precoce desses tumores.
Fonte:Revista Pesquisa Fapesp/UOL
A.V.

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