Nesta quarta- feira 15/04, o ministério da ciência e tecnologia, informou que nas próximas semanas, será testado no Brasil, em 500 pacientes com covid de sintomas leves, um “remédio promissor” que, segundo análises in vitro, demonstrou ter 94% de eficácia em ensaios com células infectadas pelo novo coronavírus.
Segundo o infectologista José David Urbaéz Brito, o anúncio do ministério é um “desserviço” que, de modo irresponsável, “faz aumentar a expectativa de uma população vulnerável submetida ao medo”.
Os cientistas sabem que os teste em laboratório fora do corpo humano, na maioria dos casos, não alcançam os mesmos resultados quando testados em seres humanos.
O Ministro da ciência e tecnologia, Marcos Pontes, afirmou que o remédio apresenta menos efeitos colaterais que a cloroquina
A médica infectologista Eliana Bicudo, assessora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), disse que existe um estudo em fase inicial, já em curso, para pacientes não graves. “Essa conversa de 94% de eficácia in vitro não é nada científica. A gente não pode divulgar essa eficácia”, alertou. Segundo ela, é apenas mais uma droga em estudo, porque tem ação antiviral. “É indicada para diarreia provocada por rotavírus”, explicou.
O medicamento secreto alardeado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), nesta semana, como milagroso no combate ao novo coronavírus, já foi testado por cientistas chineses. O princípio ativo nitazoxanida se mostrou pouco efetivo e mais tóxico do que outras drogas, segundo artigos publicados na China.
O infectologista José David Urbáez Brito classifica o anúncio do governo como um “desserviço”. Ele afirma que, de acordo com a sua experiência profissional, trata-se de um “fato corriqueiro” observar a eficácia de moléculas analisadas in vitro. E salientou que os resultados dificilmente se mantêm na etapa mais importante, o exame clínico, isto é, quando a droga é testada em pacientes humanos. “No mundo da descoberta de medicamentos, os cientistas fazem centenas, para não dizer milhares, de testes in vitro. Quase sempre todos são muito bem-sucedidos. E não apenas com uma molécula, com centenas de moléculas. (…) É uma ferramenta para lá de primitiva e que não dá base para imaginar… –
Jorge Roriz