Assim que o transporte que trazia as 28 crianças parou no estacionamento do Centro de Convivência e Treinamento da Polícia Federal, o coração das 13 detentas que aguardavam no local começou a bater mais rápido e forte. Agentes da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) foram até o veículo buscar os pequenos. Quando mãe e filhos se enxergavam, gritos de alegria, lágrimas e abraços tomaram conta do local.
Sentadas em cadeiras dispostas em semicírculos, as mulheres – muitas não viam os filhos há mais de seis meses – iam pegando as crianças no colo e as famílias, se reagrupando. Quando faltava perna para acomodar todos, alguns puxavam as cadeiras para ficar mais perto e outros preferiam sentar no chão para ficar encostado, aproveitando o afago da mãe.
Após breve apresentação do Projeto Inspira pelo delegado da Polícia Federal, Getúlio Jorge, a Banda da 6ª Brigada de Infantaria Blindada colocou todo mundo para dançar. Em seguida, os médicos do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) convidados – pela primeira vez – para integrar o projeto iniciaram os atendimentos.
No fundo do salão foram montados dois consultórios improvisados. Sentadas em volta de uma mesa, mãe e filhos respondiam perguntas sobre o estado nutricional das crianças e esclareciam dúvidas com as pediatras Beatriz da Silveira Porto e Glauce Mendes. Treze crianças foram referenciadas para atendimento na Unidades Básicas de Saúde, três para serviços de avaliação psicológica, duas para o Ambulatório de Pediatria Geral do HUSM e uma para atendimento de neurologia e fonoaudiologia.
Elaine Resener, superintendente do hospital vinculado à Universidade Federal de Santa Maria e filiado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), atuou junto a Ricardo Rizzatto na triagem oftalmológica. Das 28 crianças, 10 foram encaminhadas para exames no Consultório Itinerante do HUSM, por relatarem visão dupla, dor de cabeça ou dificuldade para ler e assistir televisão.
“Ficamos muito contentes de termos sido convidados. Não é um projeto hospitalar, é um projeto de extensão da UFSM. E ele deverá crescer, porque nós já tivemos novas ideias a partir de hoje”, disse a superintendente.
Duas residentes da Linha Materno-infantil – a enfermeira Maiane Calazan e a assistente social Tamires Dela Justino – orientaram sobre a importância de as famílias manterem a carteira de vacinação em dia, de as crianças estarem frequentando a escola e de os responsáveis pelas manterem o acompanhamento nos Postos de Saúde dos bairros onde moram.
Para o delegado Getúlio Jorge, apesar de o projeto estar na quarta edição, é sempre emocionante ver o reencontro das mães com a crianças. “Enquanto o ser humano sentir emoção, sentir o coração, nós temos salvação. Não vamos resolver o problema do país. Não temos ilusão disso. Mas podemos melhor as condições da nossa comunidade”, afirmou.