A documentarista Eva Aridjis fez, no ano passado, o documentário ” Chuy, O homem lobo”, para chamar a atenção para o drama enfrentado pela família Aceves , discriminada em Loreto, cidade em Zacatecas (México) , onde vive , e que há muitas gerações sofre de hipertricose lanuginosa congênita, condição mais conhecida como “síndrome do homem lobo”, onde grande parte do corpo é coberto por pelos.
“Por que não vão viver na floresta?” De toda uma vida de provocações, esse comentário é o que mais machuca Karla Aceves. E não porque seja especialmente duro demais, mas porque está acostumada a ouvi-lo quase todos os dias. As palavras são da vizinha há 26 anos da casa dos Aceves e que, segundo Karla, há mais de duas décadas importuna a família ao lado por suas características raras. “É uma pressão constante”, explica Karla à BBC. “As crianças mal podem sair na rua”. “Não somos animais”, diz .
“Só existem 50 casos documentados de pessoas com essas condições e 30 deles estão nessa família mexicana. Então eles são a família com mais pelos no mundo todo”, afirma Eva. Segundo a documentarista, a doença é causada por um gene, mas os cientistas ainda não descobriram como tratá-la.
“Não existe tratamento. Muitos cientistas estudaram essas pessoas quando elas eram pequenas. Eles estavam mais interessados em descobrir o que causa o excesso de pelos”, contou em entrevista ao programa de rádio da BBC, World Update.
“Eles sabem como funciona, é algo que vem com um gene que fica dormente por muito tempo e de repente se manifesta. Eles entendem como isso tem sido passado para frente na família, mas não sabem como impedir isso”.
A ideia do documentário surgiu quando Eva Aridjis viu uma notícia sobre a família Aceves em um jornal mexicano e se interessou pelo tema. A cineasta diz querer mostrar histórias de gente que “vive à margem da sociedade, marginalizada”.
Aridjis é autora também do filme Meninos de Rua (2003), documentário que trata da realidade sombria de quatro menores que moram na rua na Cidade do México , e de A Santa Morte (2007), filme sobre um culto bastante popular no país, em que o objeto de veneração é a morte, representada por um esqueleto feminino com uma foice.
Para seu último trabalho, lançado no ano passado, sobre as pessoas que sofrem com a “síndrome do homem lobo”, Eva Aridjis também quis elucidar um tema pouco abordado e conscientizar as pessoas sobre o problema vivido pela família Aceves. Ela diz que com o documentário , espera ajudar as pessoas a terem consciência desse problema. “E também espero que ajude a trazer mais oportunidades para elas. Que consigam trabalho, que as crianças consigam bolsas de estudo…”, disse.
Para ela, o mais difícil foi ver a evolução da doença nas crianças. “Elas são como todas as outras crianças, divertidas, travessas. Mas conforme vão crescendo, vão se dando conta de que são diferentes e de que as pessoas os veem de forma diferente, e aí mudam suas características, acabam se tornando mais sérios e melancólicos”.
Fonte: G1
A.V.