EUA barram modificação do DNA de embriões humanos

A manipulação genética de embriões humanos em que a ciência poderiam escolher não só as características físicas dos seres humanos, como também o caráter deles não passava, até pouco tempo, de tema de ficção científica e de uma possibilidade tecnológica discutida, em termos de ética, por filósofos e cientistas. Entretanto, pesquisas desenvolvidas por cientistas chineses parecem estar tornando essa fantasia cada vez mais próxima da realidade.

Recentemente, eles divulgaram os experimentos da modificação do DNA de embriões humanos em uma revista científica menos conhecida, depois que publicações como Science e Nature recusaram o artigo por questões éticas.
Com a polêmica, cientistas norte-americanos, que também fizeram experimentos similares, segundo a revista Technology Review, do conceituado instituto MIT, aparentemente decidiram não submeter seus artigos para publicação.
Modificar o DNA de embriões humanos é “uma linha que não deve ser cruzada”, anunciou uma das principais autoridades no campo das pesquisas em saúde dos EUA.
O Dr. Francis Collins, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH), fez um pronunciamento em resposta à divulgação dos primeiros estudos científicos relatando a modificação genética de embriões humanos.
O Dr. Collins argumentou que há “problemas de segurança sérios e não quantificáveis”, grandes questões éticas e nenhuma razão médica convincente para fazer esse tipo de experimento.
Ele disse que os Institutos Nacionais de Saúde não vão financiar essas pesquisas de manipulação genética em humanos nos EUA.

O advento dessa tecnologia – que é uma forma mais precisa de editar o DNA do que qualquer tecnologia anterior – estimulou um enorme avanço na genética. A preocupação é de que  esses avanços levem à modificação de embriões humanos sem finalidades médicas.
Segundo os cientistas chineses, a alteração genética introduzida nos embriões humanos foi bem-sucedida em apenas 7 das 86 tentativas havendo uma série de outras mutações “fora do alvo”, introduzidas no código genético devido à manipulação.
Contudo, para o diretor dos Institutos Nacionais de Saúde, essa discussão já tem conclusões bem claras. “O conceito de alterar a linha germinal humana em embriões para fins clínicos tem sido debatida ao longo de muitos anos, de muitas perspectivas diferentes, e foi vista quase universalmente como uma linha que não deve ser ultrapassada,” disse o Dr. Francis Collins, que também foi um participante chave no Projeto Genoma Humano e no mais recente mapeamento do genoma completo de um paciente com câncer.
“Os avanços na tecnologia têm-nos dado uma nova maneira elegante de realizar a edição do genoma, mas os fortes argumentos contra o engajamento nessa atividade permanecem,” conclui ele.
Filósofos como o alemão Jurgen Habermas (1929) , naturalizado americano, já se colocaram contra esse tipo de mudança no livro”O futuro da natureza humana-A caminho de uma eugenia liberal ?”, publicado pela primeira vez em 20024 e em 2010 na segunda edição. No livro, ele questiona qual o tipo de ética que regeria uma sociedade com seres gerados naturalmente e outros gerados através da manipulação de genes.
No debate filosófico,a preocupação é sobre a utilização dessas descobertas para fins não-médicos, ou seja, não só para as questões relacionadas às doenças hereditárias ou auto-imunes como também no modo de ser das pessoas geradas de forma artificial.
“É prioritário que o avanço dessas técnicas nos faça refletir sobre qual é o status moral dessa tecnologia , que é vista por alguns como uma metáfora da criação de humanos”, argumentou Habermas.
O tema já foi tratado também no livro “Contra a perfeição- Ética na era da engenharia genética”, de Michael Sandel. Para ele, existe uma diferença entre curar e melhorar- ou melhor decidir como será a criatura gerada que poderá não ter nada de realmente seu.
Outro filósofo que se preocupou com o assunto foi o também judeu alemão, Hans Jonas (1903- 1993), que escreveu vários livros sobre ética dentro do princípio da responsabilidade. A preocupação maior de Jonas, em relação è engenharia genética, era com a clonagem dos humanos.Sobre isso, ele disse “ Não pode o homem construir o seu destino baseado numa cega ordem de fenômenos de grande poder de transformações e destituída de valores éticos, o que para os seus seguidores era uma complementação ao princípio kantiano chamado de imperativo categórico – imperativo por ser um dever moral; categórico por atingir a todos sem exceção- sempre baseado naqueles princípios que desejaria ver aplicados universalmente”, o que quer dizer que nossas decisões devem ser tomadas de forma que não prejudiquem ninguém e que sejam reconhecidas universalmente: “Faça para os outros o que gostaria que todos fizessem para todos.”

Aurora Vasconcelos
Fonte: Diário da Saúde

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