Uma pesquisa realizada pela Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), em parceria com a Escola de Saúde Pública de Harvard e a London School of Economics and Political Science, revelou que a Covid longa continua sendo uma realidade significativa para muitos brasileiros, especialmente na cidade do Rio de Janeiro. O estudo apontou altas taxas de sintomas persistentes e barreiras no acesso ao cuidado especializado, tornando essa síndrome um problema de saúde pública invisibilizado.
Principais Descobertas do Estudo
🔹 Alta prevalência de sintomas: 91,1% dos entrevistados relataram pelo menos um sintoma pós-Covid, enquanto 71,3% vivenciam sintomas recorrentes.
🔹 Diagnóstico negligenciado: Apenas 8,3% dos que apresentam sintomas receberam um diagnóstico oficial de Covid longa.
🔹 Impactos severos na saúde: Os cinco sintomas mais frequentes foram fadiga, mal-estar pós-esforço, dor articular, alterações no sono e comprometimento cognitivo.
🔹 Dificuldade de acesso ao tratamento: Quase 50% dos que necessitam de clínicas pós-Covid ou reabilitação não conseguem atendimento, e 43,1% dos que precisam de suporte em saúde mental não têm acesso adequado.
🔹 Barreiras no SUS: O sistema de saúde enfrenta sobrecarga, falta de protocolo de atendimento e desconhecimento dos profissionais de saúde sobre a síndrome.
🔹 Impacto econômico e social: Muitos pacientes foram forçados a reduzir ou abandonar o trabalho, enfrentando dificuldades financeiras sem acesso adequado a benefícios ou licença médica.
A invisibilização da Covid longa no Brasil
Embora a Covid longa afete milhões de brasileiros, ela permanece negligenciada pelo sistema de saúde. Muitos pacientes enfrentam dificuldades para obter um diagnóstico adequado e encontrar tratamento específico. Segundo a pesquisadora Margareth Portela, coordenadora do estudo no Brasil, essa lacuna no atendimento faz com que os sintomas persistentes sejam tratados de forma isolada, sem uma abordagem integrada.
A desigualdade social também desempenha um papel crucial. Pacientes de baixa renda têm mais dificuldades para acessar atendimento especializado, enquanto muitos recorrem a serviços privados devido à precariedade da oferta no SUS. Além disso, o desconhecimento dos profissionais de saúde sobre a síndrome contribui para um atendimento inadequado.
Recomendações para o SUS e a necessidade de políticas públicas
Diante dos desafios identificados, as autoras do estudo reforçam a necessidade de fortalecer o atendimento à Covid longa no SUS. Entre as principais recomendações estão:
✔️ Criação de protocolos claros para diagnóstico e encaminhamento de pacientes com Covid longa.
✔️ Capacitação dos profissionais de saúde para reconhecimento e tratamento da síndrome.
✔️ Ampliação do acesso a clínicas pós-Covid, reabilitação e suporte em saúde mental.
✔️ Maior investimento em pesquisa e coleta de dados para entender a progressão da doença.
✔️ Apoio financeiro e social para pacientes que sofrem impactos no trabalho e na qualidade de vida.
Para a pesquisadora Emma-Louise Aveling, da Universidade de Harvard, embora a Covid longa seja uma condição recente, ela se assemelha a outras doenças negligenciadas no Brasil, reforçando a necessidade de um olhar mais atento e políticas públicas que garantam equidade no acesso à saúde.
Com a crescente evidência dos impactos da Covid longa, torna-se essencial que o sistema de saúde se adapte para oferecer suporte adequado a essa população, garantindo atendimento digno e reduzindo os impactos sociais e econômicos dessa condição.