As células de uma região cerebral importante para o controle inibitório parecem fisiologicamente mais velhas nas pessoas com transtorno por uso de cocaína. Ou seja, pode ser que a exposição à cocaína acelere o envelhecimento dessas células, segundo pesquisadores.
Em um novo estudo usando o tecido cerebral post mortem, “detectamos uma tendência de envelhecimento fisiológico mais acentuada no cérebro de pessoas com transtorno por uso de cocaína em comparação às pessoas sem este transtorno”. Informou a pesquisadora responsável, Dra. Stephanie Witt, Ph.D., afiliada ao Zentralinstitut für Seelische Gesundheit na Alemanha.
“Isso pode ser causado por processos de doença relacionados com [o efeito da] cocaína no cérebro, como inflamação ou morte celular”, acrescentou a Dra. Stephanie.
Essas descobertas foram publicadas on-line em 14 de fevereiro no periódico Frontiers in Psychiatry.
Novo estudo
O transtorno por uso de cocaína caracteriza-se pela perda do controle sobre o uso da substância e está associado a alterações estruturais, funcionais e moleculares no cérebro humano.
A maioria das evidências de alterações epigenéticas associadas à cocaína são provenientes de estudos com roedores; apenas alguns estudos aconteceram utilizando o uso de tecido humano.
Dra. Stephanie et al., avaliaram as assinaturas de metilação holoepigenômicas do ADN no transtorno por uso de cocaína no tecido cerebral post mortem humano da área 9 de Brodmann em 42 pessoas falecidas do sexo masculino. Destes, somente 21 tinham diagnóstico de transtorno por uso de cocaína; os demais 21, não.
Depois de corrigir as diferenças por idade, tempo desde a morte, pH cerebral e outras doenças, como transtorno depressivo e transtorno por uso de álcool, os pesquisadores observaram que as células na área 9 de Brodmann eram fisiologicamente mais velhas nos homens diagnosticados com transtorno por uso de cocaína.
Utilizando padrões de metilação do ADN como medida da idade biológica das células, no total 20 regiões diferencialmente metiladas foram significativamente associadas ao transtorno por uso de cocaína após correção por múltiplos testes.
Dezessete (85%) dessas regiões genômicas estavam hipermetiladas e três (15%) estavam hipometiladas.
Mais pesquisas
“Como a metilação do ADN é um importante mecanismo regulador da expressão gênica, as alterações identificadas [nesta reação química] podem contribuir para mudanças funcionais no cérebro humano e, assim, para os aspectos comportamentais associados à dependência”, disse no comunicado o primeiro autor do estudo, Eric Poisel, doutorando no Zentralinstitut für Seelische Gesundheit na Alemanha.
As mudanças na metilação do ADN foram especialmente acentuadas nos genes que regulam a atividade dos neurônios e a sua interconectividade.
“Curiosamente, a metilação diferencial do ADN foi relacionada com vários fatores de transcrição e proteínas com domínios de ligação ao ADN, o que implica efeitos diretos dessas alterações da metilação do ADN na expressão gênica. Isso precisa ser acompanhado em outros estudos”, observou Eric.
A Dra. Stephanie disse também ser “fascinante que, entre os genes mostrando mais alterações dos níveis de metilação do ADN no nosso estudo, dois genes foram previamente descritos como reguladores de aspectos comportamentais ligados ao uso de cocaína em experimentos com roedores”.
No entanto, a pesquisadora advertiu que, como a estimativa da idade biológica é “um conceito muito recente em pesquisas de dependência química, sendo influenciado por muitos fatores, novos estudos são necessários para investigar esse fenômeno, com tamanhos de amostra maiores do que os que foram possíveis neste [estudo]”.
O financiamento do estudo foi feito em parte pelo Bundesministerium für Bildung und Forschung da Alemanha, pela Hetzler-Stiftung für Suchtforschung e pela Deutsche Forschungsgemeinschaft. Os autores revelaram não ter conflitos de interesses financeiros relevantes.
Via Medscape