Projeto é desdobramento de pesquisa que identificou queda de cerca de 50% das iniciativas voltadas para o atendimento do público jovem na esfera federal, entre 2020 e 2021. Dados foram apresentados em evento em Salvador
Após confirmar a queda do investimento e o abandono das políticas públicas voltadas à juventude brasileira nos últimos dois anos com a pesquisa “Cadê as juventudes na política pública federal?”, a organização nacional de juventudes Engajamundo trabalha na criação de uma plataforma online capaz de monitorar e medir os avanços e retrocessos das iniciativas.
Segundo a diretora executiva da entidade, Larissa Moraes, a ideia é que a ferramenta seja acessada por todos, facilitando o conhecimento dessas políticas pela sociedade e servindo como instrumento para reivindicar direitos aos tomadores de decisão.
“A juventude não se coloca como um público que não quer agir na política. Há um cansaço da política tradicional que não consegue incluí-la de forma eficaz. Algo que o Engajamundo e outras organizações têm feito é tentar entender e chamar a juventude que está interessada em temas importantes, como gênero, mudanças climáticas e acesso à alimentação saudável. Isso tudo tem a ver com política”, destaca Larissa.
A plataforma deve ser lançada em setembro e funcionará em um formato colaborativo de mapa geolocalizado, fazendo o mapeamento de políticas, iniciativas e serviços destinados à juventude, nos âmbitos federal, estadual e municipal, a partir de dados que serão incluídos pelos próprios jovens. Para garantir a veracidade de todas informações, a ferramenta contará com a moderação da Organização.
O anúncio do projeto e outras reflexões foram trazidas no evento de lançamento da pesquisa, que ocorreu no dia 20 de agosto, em Salvador.
Sobre a pesquisa
No estudo realizado pelo Engajamundo, em parceria com o Instituto Cíclicas e o Instituto Veredas, foi identificada uma queda de cerca de 50%, entre 2020 e 2021, no número de iniciativas destinadas às juventudes na esfera federal, chamando atenção para o agravamento da invisibilização deste público nas concepções de políticas e programas sociais no país.
A pesquisa mapeou um total de 385 iniciativas do Governo Federal para os jovens, que compreendem o período de 2013, quando foi sancionado o Estatuto da Juventude no Brasil, até o ano de 2021, sendo a maioria dedicada ao direito à profissionalização e ao trabalho.
Segundo os pesquisadores, ações relacionadas aos direitos à segurança e justiça; diversidade e igualdade; território e mobilidade aparecem em baixa frequência, e chegaram a desaparecer nos últimos dois anos (2020-2021).
“Se olharmos para a distribuição dessas iniciativas de acordo com os direitos previstos no Estatuto da Juventude, percebemos que a maioria das ações são dedicadas ao direito à profissionalização e ao trabalho. Esse é um direito muito importante, mas é corriqueiro que as políticas sejam focadas majoritariamente nele. As juventudes são muito mais do que só força de trabalho”, destaca Carol Beidacki, pesquisadora do Instituto Veredas.
Participaram do evento de lançamento da pesquisa estudantes, representantes de movimentos sociais e organizações ambientais, pesquisadores e artistas de diversas localidades do Brasil, como São Paulo, Brasília, São Luís, Aracaju, Manaus, Belém, Feira de Santana, Cruz das Almas e Santo Amaro. Todos os presentes ganharam uma versão impressa do estudo.
Ainda em setembro, junto à plataforma online, será também disponibilizada a versão digitalizada da pesquisa para acesso gratuito aos dados e indicadores nela encontrados.