Enfraquecido politicamente, Bolsonaro incentiva e prega o golpe contra a democracia no Brasil

Fernando Alcoforado*
Em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro discursou em frente a uma multidão de militantes aglomerados que pediam o fechamento do Congresso Nacional e o retorno do Ato Institucional número 5 estabelecido durante a ditadura militar que durou 21 anos (1964/1985). Bolsonaro afirmou que não quer negociar nada demonstrando que deseja impor sua vontade à nação à revelia dos outros poderes da República. O discurso de Bolsonaro foi transmitido ao vivo pelas redes sociais do próprio presidente. Ele afirmou que “todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro”, disse ele, antes de começar a tossir bastante parecendo estar infectado pelo Coronavirus. Ao defender que todos devem se submeter à vontade do povo, Bolsonaro considera que deve haver a submissão apenas à vontade de seus seguidores. Ao afirmar em seu discurso que “chega da velha política”, ele demonstra rejeitar as instituições democráticas.
Os militantes gritavam “Mito”, “AI-5” e “Fora, Maia” – uma referência ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Um homem berrou várias vezes “Fecha o Congresso, o STF” e sua voz foi captada pelos microfones dos cinegrafistas do presidente, que faziam a transmissão ao vivo.  Em seu discurso, Bolsonaro disse: “Eu estou aqui porque acredito em vocês”, “Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil. Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção têm que ser patriotas. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder. Mais do que um direito, vocês têm obrigação de lutar pelo país de vocês. Contem com o seu presidente”. Ao afirmar que contem com seu apoio, Bolsonaro incentiva que seus seguidores atentem contra a democracia.
Apesar dos pedidos de volta da ditadura, Bolsonaro tentou evitar no seu discurso assumir, também, o desejo de seus seguidores afirmando, falsamente, que é preciso “manter a nossa democracia” e a “nossa liberdade”, “todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro” que, na sua visão, esta vontade do povo seria por ele exercida, certamente ditatorialmente. Ele terminou o discurso tossindo parecendo estar com o Coronavirus. Os soldados do Exército e os seguranças do Palácio do Planalto, muitos sem máscaras, fizeram um cordão de isolamento para deixar o presidente longe das pessoas. Bolsonaro não apertou as mãos do público, mas apenas acenou de longe.
A tentativa explicita de incentivo ao autogolpe de estado por Bolsonaro contra as instituições democráticas resulta do fato de ele não mais governar o Brasil porque não conta com a maioria do Congresso Nacional, com a maioria do STF- Supremo Tribunal Federal e com a maioria da população brasileira. À revelia de Bolsonaro, o Congresso Nacional aprovou pacotes de medidas de apoio às populações vulneráveis e às micro, pequena e média empresas e, também, contra a vontade de Bolsonaro, o STF decidiu que os governadores e prefeitos poderiam estabelecer políticas estaduais e locais de combate ao Coronavirus. As pesquisas recentes de opinião, especialmente do Data Folha, deixam claro que Bolsonaro é repelido por ampla maioria da população cujos “panelaços” traduzem a insatisfação da grande maioria da população em relação ao seu péssimo e irresponsável desempenho como presidente da República.
O evento de hoje em que Bolsonaro comete,mais uma vez, crime contra a saúde pública ao incentivar aglomeração de pessoas e contra a democracia ultrapassou todos os limites. Está bastante claro que Bolsonaro deseja com seus inúmeros crimes de responsabilidade que seja aberto processo de impeachment ou seu afastamento do poder por insanidade mental pelo Congresso Nacional para aparecer como vítima perante seus partidários para mobilizá-los e aglutiná-los visando atrair, em seguida, as Forças Armadas para seu projeto de poder e implantar uma ditadura no Brasil. Esta é a estratégia de Bolsonaro para recuperar a governabilidade perdida.
Dois cenários se apresentam diante do exposto: 1) Bolsonaro é bem sucedido na tentativa de autogolpe com o apoio de seus partidários e das Forças Armadas. A consequência deste cenário seria mergulhar o Brasil em um estado de guerra civil porque o autogolpe enfrentaria a resistência da grande maioria da população. Neste cenário, o caos sanitário se estabeleceria no Brasil com o insucesso no combate ao Coronavirus e aprofundaria a crise econômica que só pode ser superada em um ambiente político pacificado. Bolsonaro não teria condições de governar em uma conjuntura de alta complexidade caracterizada pela crise do Coronavirus e pelo agravamento da crise econômica; e, 2) Bolsonaro é mal sucedido na tentativa de autogolpe e é impedido de governar devido ao impeachment ou ao afastamento por insanidade mental. O País sofreria bastante com o longo processo de impeachment, sobretudo na conjuntura atual de combate ao Coronavirus e sofreria, bem menos, se o afastamento do poder de Bolsonaro ocorresse por insanidade mental. O Vice-presidente assumiria o poder e tentaria restabelecer as condições de governabilidade para vencer a batalha contra o Coronavirus e a retomada do crescimento econômico, além de evitar a guerra civil no Brasil que ocorreria com a permanência de Bolsonaro no poder com o autogolpe de estado.
Pelo exposto, urge o afastamento do poder de Bolsonaro por insanidade mental para a governabilidade do País ser restabelecida pelo Vice-presidente Hamilton Mourão e o Brasil ser bem sucedido no combate ao Coronavirus e à crise econômica.
* Fernando Alcoforado, 80, condecorado com a Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015), As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016), A Invenção de um novo Brasil (Editora CRV, Curitiba, 2017), Esquerda x Direita e a sua convergência (Associação Baiana de Imprensa, Salvador, 2018, em co-autoria) e Como inventar o futuro para mudar o mundo (Editora CRV, Curitiba, 2019).

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