De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 180 milhões de mulheres enfrentam a endometriose em todo o mundo. Além disso, em pesquisa realizada pelo portal informativo Trocando Fraldas, 69% não têm conhecimento sobre os sintomas da doença. Por isso, torna-se fundamental, ainda mais no Março Amarelo, mês de conscientização da endometriose, falar sobre a doença que é a principal causa da infertilidade feminina, atingindo cerca de 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva, segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
A endometriose é uma doença inflamatória causada pela presença de células do tecido endometrial em outras regiões do organismo feminino, na maioria das vezes na proximidade do útero, nas trompas, ovários, bexiga e intestino. Cerca de 40 a 60% das mulheres com endometriose tem dificuldades para engravidar, pois o endométrio (tecido que reveste o útero) pode se espalhar pela cavidade abdominal e pélvica, causando aderências (cicatrizes) entre órgãos e tecidos, além do processo inflamatório que pode afetar a qualidade dos óvulos e a receptividade do útero. Os principais sintomas da endometriose são: cólicas menstruais, dor pélvica fora do período menstrual, dor na relação sexual, dor ao urinar ou evacuar durante o período de menstruação e infertilidade. Porém, há casos sem sintomas ou o único é a infertilidade.
Um estudo publicado no JAMA Network Open apontou que mulheres com endometriose podem ter menos anos reprodutivos do que aquelas sem a doença, especialmente se nunca tiveram filhos ou tomaram anticoncepcional. Segundo a pesquisa, elas têm líquido peritoneal, que contém mais fatores de estresse pró-inflamatórios, quimiotáticos e oxidativos ativados, o que poderia criar um ambiente prejudicial para o desenvolvimento folicular e função ovariana. Antes dos 40 anos é chamada menopausa precoce ou falência ovariana prematura e isso ocorre em cerca de 5% da população. Após os 41 anos é considerada a idade normal para a menopausa, sendo o mais comum entre 46 e 54 anos.
Os resultados desse estudo revelaram um aumento de 30% no risco relativo de menopausa natural precoce em mulheres com endometriose, após o controle de várias condições, incluindo raça, educação, renda, tabagismo, dieta e índice de massa corporal.
O diagnóstico de endometriose deve ser baseado pelo histórico de sintomas da paciente, exame físico e ginecológico. Muitas vezes é tardio, fazendo com que a doença possa afetar a fertilidade feminina com sintomas tido como “normais”, a exemplo das cólicas menstruais. Cerca de 20% das mulheres com a doença não apresentam sintomas, tornando o diagnóstico difícil.
A endometriose pode ser diagnosticada por alguns exames de imagem, como: ressonância da pelve com preparo intestinal, ultrassom pélvico e transvaginal comum no caso da endometriose ovariana e ultrassom transvaginal com preparo intestinal. O tratamento pode ser realizado com medicamentos ou cirurgia e a escolha é individualizada, levando em consideração principalmente se há sintomas que influenciam na qualidade de vida, idade e desejo reprodutivo. Já a cirurgia para retirada de lesões da doença é a única forma de cura da endometriose e na maioria das vezes deve ser feito por meio da videolaparoscopia. Geralmente é indicada para pacientes com endometriose profunda e que apresentam sintomas da doença ou quando a doença pode interferir negativamente para uma boa chance de gravidez. Depois da intervenção a paciente pode tentar engravidar naturalmente ou iniciar o procedimento de reprodução assistida. Essa escolha depende da reserva ovariana e do funcionamento das trompas.
O que o tratamento de endometriose varia de acordo com a intensidade e a intenção de engravidar. Para casais que desejam ter filhos, a cirurgia costuma ser a melhor indicação, pois evidências apontam melhora na fertilidade. A opção mais comum é não tratar a endometriose e, sim, utilizar algum método de reprodução assistida, como a fertilização in vitro”, considera a dra. Michele Panzan. “Como cada caso tem um desenvolvimento diferente, é essencial procurar um especialista em reprodução assistida e ver qual a melhor opção. A campanha #endomarço da Huntington Medicina Reprodutiva traz muitas informações sobre o tema. Já a indicação de consulta e check-up de rotina com um profissional também é essencial para saber mais sobre a sua saúde e que seja feito um acompanhamento e tratamento adequado”, conclui.
O Assunto foi tema do Programa Em Sintonia desta quinta-feira, Patricia Tosta conversou com Dra. Flávia Torelli, médica especialista em reprodução assistida na Huntington Medicina Reprodutiva.
Ouça o áudio da entrevista aqui: