Discurso antivacina favorece a alta mortalidade infantil no Brasil

Dados  do Observatório de Saúde na Infância, que reúne pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz e da Univale, o Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto, afirmam que Duas em cada três mortes de bebês com até um ano ocorridas no Brasil poderiam ter sido evitadas com ações simples de atenção básica à saúde. O cálculo representa mais de 50 mil crianças que morreram entre 2018 e 2020 de causas como diarreia e pneumonia ou doenças, para as quais já existem vacinas, entre elas o rotavírus, e que estavam erradicadas no país há anos, a exemplo do sarampo.

De acordo com um dos coordenadores da pesquisa, o doutor em epidemiologia Cristiano Boccolini, todas as quase 23 mil mortes anuais ocorridas no período avaliado são evitáveis. Tanto que países desenvolvidos com o Japão registram apenas 2 óbitos de bebês para cada 1.000 nascidos vivos por ano, enquanto a taxa no Brasil é de 11,4, e parou de cair de 2016 para cá.

O Observatório ressalta  que as mulheres precisam de orientação adequada para terem sucesso na amamentação. Além disso, todas deveriam ter direito à licença maternidade remunerada durante seis meses para poder manter o aleitamento exclusivo. Também é preciso desestimular a troca do leite materno pelas fórmulas infantis quando não há necessidade real.

A cobertura da vacina tríplice viral, que protege contra o sarampo, caxumba e rubeóla, ficou em menos de 53% no Brasil no ano passado. Normalmente, a primeira dose é tomada com 12 meses, mas por causa do crescimento do número de casos, uma campanha está sendo realizada em todo o país, e todas as crianças acima de 6 meses devem ser imunizadas.

A BCG, que é a primeira vacina tomada pela criança logo após o nascimento e protege contra a tuberculose, teve cobertura de apenas 73,55% no ano passado. Hoje, 62% das mães brasileiras conseguem amamentar seus bebês na primeira hora de vida, quando o ideal é 80%.,

O epidemiologista lista as principais medidas que podem levar à diminuição desse número e já adianta que a maior parte delas converge para a valorização do Programa de Saúde da Família.

Somente o pré-natal adequado é capaz de reduzir em 40% as mortes ao prevenir complicações na gravidez e no pós-parto. Já a amamentação exclusiva poderia baixar os números entre 15 e 20%. Mas precisa começar logo depois do nascimento.

.O Observatório de Saúde na Infância verificou, ainda, as consequências trágicas da queda da cobertura vacinal nos últimos anos.

De acordo com a doutora em Saúde Coletiva Patricia Boccolini, que também coordena os estudos, somente o sarampo provocou a morte de 26 crianças com até 5 anos, entre 2019 e 2021, e a internação de mais de 1.600. E os discursos antivacina, que têm ganhado força ultimamente, colocam ainda mais lenha na fogueira.

 

 

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