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Dia Internacional da Camisinha 2023

Após o impacto brutal da covid-19, que entre 2020 e 2022 deixou quase 1,8 milhão de mortos na América Latina e no Caribe, a maioria dos países da região passou a registrar aumento de até 40% nos casos de infecções sexualmente transmissíveis (IST), sobretudo de sífilis. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, ocorrem diariamente 200 mil novas transmissões de IST no continente americano, todas evitáveis pelo uso correto de preservativos.

Ao mesmo tempo, a gravidez na adolescência continua aumentando na região. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) anunciou que, em 2022, México e Colômbia terão a maior taxa de gravidez em adolescentes entre 15 e 19 anos em relação ao tamanho da população. Segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), 2 em cada 10 nascidos vivos são filhos de mães adolescentes, o equivalente a quase 2 milhões de nascimentos por ano, cerca de 6 mil por dia.

Criado em 2008 pela Aids Healthcare Foundation (AHF), maior ONG global de combate ao HIV e à aids, o Dia Internacional da Camisinha tem o objetivo de conscientizar sobre o autocuidado e o uso correto de preservativos como a forma mais prática de prevenir a transmissão do HIV e outras IST, como sífilis, gonorreia e HPV (papilomavírus humano). Em 2023, a AHF lembra o impacto significativo do uso de preservativo na resposta global ao HIV/aids, prevenindo cerca de 117 milhões de novas infecções desde 1990, principalmente na África Subsaariana e na Ásia.

No entanto, apesar de ser um insumo barato e conhecido por uma parcela significativa da população sexualmente ativa, milhões de pessoas em todo o mundo ainda não têm acesso a preservativos. Na América Latina e do Caribe, mais de 201 milhões de pessoas, o equivalente a um terço da população, vive abaixo da linha da pobreza, o que limita seu acesso a camisinhas. “As pessoas precisam de insumos para prevenir o HIV, outras IST e a gravidez não planejada, mas isso está cada vez mais difícil, com a baixa disponibilidade, barreiras à importação, impostos e preços altos”, resume Terri Ford, chefe de política global da AHF.

Os entraves na ampliação do acesso ao preservativo se acentuam no Brasil, onde a miséria saltou quase 50% nos últimos dois anos. São 62,5 milhões de pessoas que, segundo critério do Banco Mundial, vivem com menos de US$1,90 por dia — o equivalente a menos de R$10.

“Basta considerar que o preço médio de uma unidade de camisinha é de pouco menos de R$2 para se ter a exata noção de como é imprescindível que os preservativos, tanto externos quanto internos, voltem a ser uma prioridade de saúde pública no nosso país. Não é aceitável que este insumo, que já salvou tantas vidas ao longo das últimas décadas, seja negligenciado”, alerta Beto de Jesus, diretor da AHF Brasil.

Em 2011, o Ministério da Saúde chegou a distribuir 500 milhões de unidades, um recorde. Depois, a responsabilidade por comprar e distribuir o insumo passou a ser compartilhada entre os governos federal e dos estados e municípios. Ainda assim, a pasta anunciou, no início de 2021, a aquisição de 350 milhões de preservativos para distribuição via SUS em todo o país — volume 30% menor que o de dez anos antes.

Outro dado preocupante é que o uso de camisinha no Brasil já vinha em declínio antes mesmo da pandemia de covid-19. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em maio de 2022, mostrou que somente 23% das pessoas acima de 18 anos afirmaram ter usado preservativo em todas as relações sexuais que tiveram nos 12 meses anteriores à entrevista — com variações regionais (28% no Norte x 20% no Sul), de gênero (24% entre homens x 21% entre mulheres) e raça (25% entre pretos x 21% entre brancos).

Um outro levantamento do IGBE, a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), divulgado em julho do ano passado, revelou queda no uso da camisinha entre adolescentes. De 2009 a 2019, o percentual de pessoas entre 13 e 17 anos que usaram preservativo na última relação sexual caiu de 72% para 59%.

“Hoje temos a prevenção combinada, que reúne estratégias como testagem, vacinação e tratamento para combater o HIV e outras IST, adaptadas à realidade de cada pessoa ou grupo populacional. A camisinha também faz parte desse conceito e continua sendo a forma mais simples e barata de fazer a prevenção. Por isso é tão importante incentivar sempre e cada vez o seu uso, em todas as faixas etárias”, conclui Beto.

AHF

 

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