Dengue, a arma mais mortífera do Aedes

 

Das três doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, a mais conhecida até agora era a Dengue, cujos sintomas como febre, dores de cabeça, dores nas articulações, enjoo e exantema (rash cutâneo ou machas vermelhas pelo corpo) eram vistos quase como uma gripe forte, sendo considerada letal apenas no caso de febre hemorrágica.

Com o surgimento da febre Chikungunya e a Zika vírus, infecções que a princípio apresentam sintomas similares aos da Dengue, constatou-se que apesar dos problemas graves causados pela Zika como a microcefalia, doença que acomete bebês de mães contaminadas, e a Síndrome da Guillian Barré, de todas elas é Dengue a que mais mata.

Até o início de outubro deste ano, por exemplo, a Dengue já havia causado 693 mortes no Brasil, o número mais alto desde 1990. O recorde anterior foi registrado em 2013, com 674 óbitos. Esse número de 693 mortes representa um aumento de 70% no país em comparação com o mesmo período de 2014, quando foram confirmados 407 óbitos.

Sudeste tem a maior incidência de Dengue

A maior parte das mortes aconteceu na região Sudeste com 68,5%, sendo a maioria delas em São Paulo, o mais desenvolvido estado brasileiro, onde a incidência da Dengue foi de 1.516 casos por grupos de 100 mil habitantes. Apesar do número, em relação aos estados da federação, Goiás foi o campeão com 1.979 casos por 100 mil habitantes.

No total, o número de casos registrados este ano, em todo o país foi de quase um milhão e meio (1.416.179) até 29 de agosto. A incidência média da doença no Brasil, até agora, é de 699 casos por 100 mil habitantes.

Ao divulgar os dados, o Ministério da Saúde observou em nota que manteve durante todo o ano, sem interrupção, as ações para controle da Dengue. “Entre medidas, citamos, como exemplo, a realização de curso online para profissionais de saúde, a atualização dos planos de contingência, visitas técnicas de monitoramento e discussão conjunta do manejo clínico de atenção à doença, além de campanhas de conscientização”, afirmou a pasta.

Chikungunya, nível elevado de dor

A principal manifestação clínica de Chikungunya, por exemplo, são as fortes dores nas articulações, a artralgia. Essa artralgia pode se manifestar em todas as articulações, especialmente nas dos pés e das mãos, como dedos, tornozelos e pulsos. Na Chikungunya, essas dores são decorrentes de um processo inflamatório nas articulações e podem ser acompanhadas de edemas e rigidez.

Também é possível haver esse tipo de dores na Dengue e no Zika, mas a diferença está, segundo especialistas, na intensidade da dor. Enquanto o paciente com Dengue ou Zika pode apresentar dores de leves a moderadas, o paciente infectado com Chikungunya apresenta dores de nível elevado, tendo como consequência a redução da produtividade e da qualidade de vida.

Na fase sub-aguda ou crônica da doença, as dores podem persistir por meses ou até mesmo anos, particularmente em pacientes mais velhos. Segundo dados do Instituto Pasteur, um estudo sobre os casos ocorridos na África do Sul relatou que pacientes ainda sofriam de dores intensas nas articulações de 3 a 5 anos após a infecção aguda de Chikungunya.

No que diz respeito à febre, Dengue e Chikungunya são marcadas pela febre alta, geralmente acima de 39°C e de início imediato. Já os pacientes de Zika apresentam febre baixa ou, muitas vezes, nem apresentam febre. Os sintomas relacionados ao vírus Zika costumam se manifestar de maneira branda e o pior: o paciente pode estar infectado e não apresentar qualquer sintoma.

Mas, duas manifestações clínicas que podem surgiu logo nas primeiras 24 horas é o rash cutâneo e o prurido, ou seja, manchas vermelhas na pele que provocam intensa coceira e a vermelhidão nos olhos, como se fosse uma conjuntivite sem secreção.

As mortes por Chikungunya são raras e costumam ocorrer por complicações em pacientes com doenças pré-existentes. Porém, embora ainda não se tenha relato de morte relacionada à infecção por Zika, esse é o vírus que está causando mais pânico, especialmente entre as mulheres grávidas que receiam ser contaminadas por ele e que seus bebês nasçam com microcefalia, que calcula-se já cheguem a 739 no país.

Esperança no Aedes transgênico

Por estes motivos, é essencial que a qualquer sintoma se procure diagnóstico clínico feito pelo médico ou profissional de saúde,  método mais rápido para que o paciente inicie o tratamento mais adequado. A confirmação do diagnóstico clínico pode ser feita por meio de exames laboratoriais. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e o Instituto Carlos Chagas (ICC/Fiocruz Paraná) têm laboratórios de referência para a detecção dos vírus da Dengue, Zikae Chikungunya. A Fiocruz Paraná, inclusive, está trabalhando no desenvolvimento de um kit para diagnóstico rápido de infecção por Chikungunya.

Ainda não há vacina para nenhuma das três doenças. A prevenção para Dengue, Zika e Chikungunya é o combate ao mosquito Aedes aegypti e o uso de repelentes. Contudo, além das campanhas para evitar a proliferação do mosquito, o Ministério da Saúde está apostando no Aedes transgênico que está sendo produzido na fábrica inaugurada em Juazeiro com a maior capacidade mundial de produção de mosquitos estéreis.

A fábrica, um braço da empresa pública Moscamed (foto), criada em 2005 e subsidiada pelo Ministério da Agricultura e pelo governo do estado da Bahia, especializada na produção de insetos transgênicos para controle biológico de pragas, vai produzir quatro milhões de machos do Aedes estéreis por semana.

Os mosquitos, liberados no ambiente em quantidade duas vezes maior do que os mosquitos não-estéreis, vão atrair as fêmeas para cópula, mas sua prole não será capaz de atingir a fase adulta, o que deve reduzir a população de Aedes a tal nível que controle a transmissão da Dengue. Enquanto isso, campanhas preventivas para eliminar a larva do mosquito são realizadas em todo o país.

 

Redação Saúde no Ar

Aurora Vasconcelos

 

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