A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 285 milhões de pessoas sofram com problemas de visão, sendo 39 milhões delas completamente cegas. A combinação de estratégias de prevenção de doenças infecciosas e avanços nos tratamentos, porém, tem reduzido as complicações e, ao que tudo indica, dentro de algum tempo os pacientes de clínicas oftalmológicas que precisam tomar injeção nos olhos, poderão ter um remédio menos dolorido e assustador.
Os pesquisadores brasileiros, Renata Pasqualini, bióloga molecular e o oncologista Wadih Arap, radicados no Centro de Câncer da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos,desenvolveram uma substância que pretende contribuir para o tratamento de alguns problemas oculares que causam perda de visão, como as retinopatias da prematuridade e do diabetes, e a degeneração macular relacionada à idade.
De injeção à colírio
E o melhor: essa substância, fruto de uma parceria entre o casal brasileiro e o médico Richard Sidman, pode ser veiculada num colírio, como mostra artigo publicado recentemente na revista Science Translational Medicine, da Escola Médica de Harvard. “O trabalho corrobora os resultados que obtivemos alguns anos atrás”, comemora o bioquímico Ricardo Giordano, da Universidade de São Paulo (USP), coautor do estudo, na década de 1980.
Quando trabalhou com Renata e Arap, ele desenvolveu uma molécula capaz de bloquear a proliferação anômala de vasos sanguíneos característica desses distúrbios dos olhos. Na época, os testes foram feitos em camundongos com lesões oculares semelhantes às que a alta pressão de oxigênio em incubadoras pode causar em bebês prematuros.
De lá para cá, o grupo nos Estados Unidos alterou a molécula terapêutica, criando uma forma cíclica que tem as vantagens de ser mais estável e mais afeita a reagir com os tecidos vivos e ganhou o nome de “Vasotide”. O grupo também testou o candidato a medicamento em outros modelos animais: camundongos transgênicos com deficiência num gene ligado ao transporte de gordura no sangue e macacos que passaram por aplicação de laser nos olhos, condições que levam ao desenvolvimento de problemas na retina.
O bom resultado do colírio com Vasotide em impedir a proliferação de vasos sanguíneos nessa parte do olho onde a imagem se forma entusiasmou os pesquisadores, mas vários passos ainda são necessários para que eles possam propor uma medicação.
Renata explica, porém que para fabricar o medicamento seria necessário fabricar Vasotide com qualidade clínica e estabelecer protocolos para verificar a sua toxicidade em pelo menos duas espécies, processo pelo qual ela passou com outros medicamentos desenvolvidos em seu laboratório.
Só depois disso poderiam começar os testes clínicos em seres humanos, o que é demorado. Porém,ela mantém o otimismo. “Estudos com macacos são fortes, porque imitam muito bem as condições clínicas nas quais o produto final seria usado.”