Embora todos saibamos que vamos morrer um dia, o tema é considerado mórbido pela maioria das pessoas, que o evita de todas as maneiras. No Brasil, começa a se formar agora uma filosofia que busca encarar a morte de maneira mais objetiva, sem tantos medos, a partir da constatação de que com o envelhecimento da população, cada vez mais teremos que conviver com doenças crônicas que não têm cura. Daí surge a importância de discussão dos cuidados paliativos, que embora se proponha a ser benéfica dentro dessa tendência, não se limita a ela.
Os cuidados paliativos que oferecem atendimento multidisciplinar a pacientes com doenças potencialmente mortais e seus familiares, ainda é incipiente no nosso país. Esse tipo de atendimento é chamado de hospice ou hospedaria termo que, como explica reportagem de Camila Appel, publicada na Folha, é inspirado nas hospedarias que tratavam peregrinos durante as cruzadas medievais.
Em entrevista à Appel, a coordenadora do hospice do Hospital das Clínicas, a geriatra Ana Cláudia Arantes, salienta que normalmente os médicos se preparam para tratar doenças e não pessoas. “Aqui, diz, olhamos o paciente como parte de um núcleo familiar e afetivo”.
O hospital privado Recanto São Camilo, tem dez leitos subsidiados pelo SUS. Setenta por cento dos pacientes, com idade que vão dos 16 aos 99 anos têm câncer. A médica calcula que haja, no máximo, dez hospices no país. “As pessoas estão começando a tomar consciência de que vale a pena viver até o último dia”, diz.
Para ela, um dos principais desafios é quebrar a noção de que optar por cuidados paliativos significa desistir do paciente. “Não se trata de suspender tratamentos, mas de ampliar o cuidado para uma pessoa que está em extremo sofrimento”, afirma.
Nâo à distanásia
Oncologista coordenadora da hospedaria do Hospital do Servidor Público Municipal, Dalva Matsumoto, alerta para que a oferta de tratamentos, em cuidados paliativos, seja proporcional às necessidades do paciente e afirma que a oferta de procedimentos em excesso pode levar ao sofrimento e à distanásia –o prolongamento da vida a qualquer custo.
À reportagem da Folha, a médica fundadora da enfermaria de cuidados paliativos do Hospital do Servidor Público Estadual e presidente da ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos), Maria Goretti Maciel, critica a lógica pela qual serviços de saúde e profissionais são remunerados por procedimentos realizados. “O que realmente importa é a dedicação do profissional ao paciente”.
Matsumoto exemplifica que é importante verificar a situação: “A perda da vontade de comer é um dos sinais da morte. A prática mais comum é inserir uma sonda de alimentação no nariz. Como é desconfortável, o paciente tenta tirá-la e acaba amarrado à cama. A questão não é nunca passar a sonda, mas avaliar o custo-benefício”.
Outro preconceito quebrado é o uso de morfina, segundo Arantes. “O país que mais prescreve morfina é a Áustria –100 mg per capita por ano. A média mundial é de 6,5 mg, e no Brasil, 1,5 mg. É dito que ela causa depressão respiratória e vicia. Estudos indicam que o risco de vício é menor que 0,01%. No Brasil, as pessoas morrem mal e urrando de dor.”
Gilberta Fátima dos Santos, 56, mora na hospedaria o Hospital do Servidor Público Municipal há quase dois anos. Acamada devido a um tumor na coluna, sente falta de morar com a família, mas entende não haver infraestrutura na casa dos filhos. “O tratamento aqui tem algo bom: as pessoas quando morrem vão bem. Não precisam ser entubadas, ninguém vai gritando, passando mal.”
Para os médicos, o ideal seria que a área de cuidados paliativos fosse considerada uma especialização médica. Matsumoto acredita que isso facilitaria a cobertura por planos de saúde, a formação de programas de residência médica e de políticas públicas de remuneração dos profissionais.
A.V.
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