Nascido em Montevidéu em 1982; Gonzalo Moratorio se tornou o único latino-americano reconhecido pela revista Nature como um dos dez cientistas mais importantes de 2020; o reconhecimento foi dado a Moratorio pelo desenvolvimento de um teste para detectar o coronavírus que permitiu ao Uruguai controlar a pandemia de forma exemplar no mundo.
Ainda assim, o reconhecimento recebido pelo cientista é o mesmo recebido por Tedros Adhanom, diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) na revista. Até o momento, Moratorio publicou 40 artigos de pesquisa; bem como desenvolveu uma patente para projetar vírus de RNA sintético como candidatos a vacinas.
“Talvez não tenha tido coragem suficiente para estar em uma linha de fogo, como os médicos intensivistas ao lado dos pacientes, mas pude contribuir para a geração de conhecimento e o desenvolvimento de ferramentas que estão salvando vidas.”
Em entrevista para o El País, o Moratorio respondeu questões a respeito do desenvolvimento do teste, produção; bem como a contenção das transmissões entre Brasil e Uruguai e as expectativas com as vacinas contra o vírus.
Origem dos testes
De acordo com o pesquisador no início da pandemia; com o que acontecia em outros países, viram as fronteiras começarem a ser fechadas e como os aviões foram parando. Com a dificuldade de encontrar suprimentos para testes, o Instituto Pasteur de Montevidéu decido produzir os próprios testes com os materiais e a tecnologia disponíveis. Além disso, o cientista ressalta que os teste produzidos no país são autônomos e soberanos.
Não precisamos de nenhum grande laboratório nem empresa farmacêutica para realizá-los. Isso é uma vantagem porque, por exemplo, os testes da Roche só funcionam com equipamentos da Roche e os equipamentos da Roche só analisam os testes da Roche. O mesmo acontece em outros casos. Nossos testes são para todos os tipos de equipamentos, são abertos e gratuitos porque os financiamos com recursos públicos e a cooperação internacional.
Testagem
A criação do próprio método de testagem, no início da pandemia correspondia a 40% de todos os testes realizados no país; depois, 30%. No total, o pesquisar estipula o desenvolvimento de quase 150.000 testes. De acordo com ele, é preciso levar em conta a população do país que tem milhões de habitantes; sendo realizados cerca de meio milhão de testes.
Nas mesas dos políticos foi preciso tomar decisões muito importantes. Tínhamos duas opções: trazer absolutamente tudo da Coreia do Sul, técnicos, insumos, centenas de milhares de testes, ou apostar que nós no Uruguai poderíamos fabricá-los sem depender de ninguém. O país escolheu a segunda. Conseguimos fazer milhares de teste desde o dia da primeira infecção. Isso serviu para fazer diagnósticos em massa, rastrear as infecções e isolar os positivos. Pudemos conter as mortes, até o momento são menos de 100 mortos por coronavírus no Uruguai. Também ajudamos a evitar uma quarentena obrigatória que restringiria os direitos individuais.
O líder das pesquisas no Uruguai diz que o controle da pandemia no só possível pela disponibilidade imediata dos testes; bem como a capacidade de implementá-los em todo o território.
As fronteiras, sobretudo a do Brasil, que é o país com mais infecções na América do Sul, eram uma bomba-relógio, por isso colocamos laboratórios nessas áreas específicas. Assim evitamos a entrada de muitos contágios. No entanto, meu medo é que todos esses esforços sejam arruinados porque com o verão as pessoas estão relaxando e os números estão subindo. Disse.
Outros países
O pesquisador ressalta que é possível realizar os testes da mesma forma em outros países; o mais importante é descobrir que em nossos países podemos gerar conhecimento e valor agregado. De acordo com ele é preciso investir mais dinheiro do que PIB em ciência. Isso se reflete no crescimento geral da sociedade. A ciência é o veículo para a América Latina melhorar sua qualidade de vida. Tomara que vejamos os países de nossas latitudes produzindo as próprias vacinas em um futuro próximo.
Nunca antes o planeta inteiro esteve atrás do mesmo objetivo. Mas sou extremamente crítico. Acho que não deveria haver nenhum país que tenha mais tempo de espera para a vacina. Espero que os órgãos de poder em nível mundial possam distribuir as vacinas de forma equitativa em todo o mundo.
Fonte: El País