Comitê bioético teme experiências genéticas

O Comitê Internacional de Bioética da Unesco (organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura),  formado por cientistas, filósofos, juristas e ministros , pediu nesta segunda-feira(05.10) uma moratória sobre as técnicas de edição de DNA das células reprodutoras humanas. Eles querem evitar uma modificação “contrária à ética” das características hereditárias dos indivíduos, o que pode impulsionar a eugenia, conforme já vinham antecipando há vários anos cientistas e filósofos, como o alemão Jurgen Habermas, que chegou inclusive a escrever um livro sobre o assunto.

Criado em 1993, o Comitê Internacional de Bioética (CIB) da Unesco  é composto por 36 especialistas independentes que analisam o progresso das pesquisas nas ciências da vida e suas aplicações, “garantindo o respeito aos princípios de dignidade e liberdade da pessoa humana”.

Reunido em Paris, o comitê publicou um relatório expondo sua “reflexão sobre o genoma humano e os direitos do homem”, em que pede um amplo debate público sobre as modificações genéticas do DNA humano. Os pesquisadores desenvolveram em 2012 uma técnica batizada “CRISPR-Cas9”, que permite “inserir, retirar e corrigir o DNA de maneira simples e eficaz”, ressaltou a Unesco , uma  técnica revolucionária que vai de vento em popa nos laboratórios.

Engenharia do genoma

As empresas francesa Emmanuelle Charpentier e a norte-americana Jennifer Doudna, que desenvolveram o CRISPR-Cas9, aparecem como possíveis premiadas com o Nobel de Química, e o  Comitê de Bioética da Unesco ressalta que esta “engenharia do genoma” é extremamente “promissora” para o bem da humanidade.

Contudo, para eles este desenvolvimento parece “necessitar de precauções particulares e levanta sérias preocupações, particularmente caso esta edição do genoma humano seja aplicada” às células reprodutoras e “introduza modificações hereditárias que seriam transmitidas às gerações futuras”, afirma o documento.

A técnica CRISPR-Cas9 “abre perspectivas para tratar, até mesmo curar, certas doenças de maneira simples e eficaz”, como a anemia falciforme ( uma doença hereditária nos glóbulos vermelhos), a fibrose cística e alguns tipos de câncer, apontou a organização. Mas ,  também pode facilitar a modificação do DNA humano a fim, por exemplo, de “determinar a cor dos olhos dos bebês” como afirmam algumas pesquisas que trabalham com os embriões, os óvulos ou o esperma, alertou a Unesco.

No relatório, o comitê alerta que as intervenções no genoma humano devem ser autorizadas apenas para razões de prevenção, diagnóstico e terapia e sem que isso leve a modificações para a descendência, “ caso contrário, corremos o risco de ameaçar a igualdade e a dignidade de todos os seres humanos e fazer renascer a eugenia”.

Redação Portal Saúde no Ar

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