Cirurgia de mão em hospital público de Eunápolis é inédita

Vítima de um acidente de trabalho há seis anos, o empresário Angelo Roldi perdeu cinco dedos e toda a pele da mão, passando por uma cirurgia inédita no hospital público da cidade de Eunápolis no sul da Bahia. Para não precisar amputar o antebraço, o cirurgião ortopédico Hugo Serrano e equipe optaram por costurar a mão do paciente debaixo da pele da barriga, onde ela ficou por 42 dias até que fosse reconstituída. O procedimento foi um sucesso e Angelo recuperou a pele da mão, bem como os seus movimentos.
Segundo Hugo Serrano, o objetivo do procedimento foi para evitar infecções, além de recuperar a irrigação sanguínea e da pele. “ Eu tinha uma experiência com a cobertura de pequenas lesões, utilizando outras áreas do corpo, e veio na minha cabeça. A área que tem mais espaço de pele é o abdômen, explicou o médico. Angelo passou mais de seis horas no centro cirúrgico e 42 dias com a mão debaixo da pele da barriga.
Para os médicos que atenderam o paciente naquele dia, o que aconteceu com a mão dele foi um “desenluvamento”, ou seja, a pele da mão saiu como se fosse uma luva. Nesses casos, a indicação é a amputação do antebraço, mas a equipe decidiu colocar a mão de Ângelo debaixo da pele da barriga.
Após a retirada da mão e a implantação no braço, os médicos terminaram de encobri-la, costurando-a. E para cobrir o espaço da pele da barriga que foi para a mão, foi esticada a pele localizada pouco abaixo do peitoral e costurada no “pé da barriga”. “Eu fiquei corcunda por uns dias, mas depois a pele foi esticando e voltou ao normal”, contou Angelo, um capixaba que vive em Eunápolis, desde menino.
A princípio, ele reagiu mal. Tinha vergonha e queria que amputassem logo a mão, “mas os médicos tiveram todo cuidado comigo, me convenceram. Depois que fui para casa, quase não saia por vergonha de mostrar a mão”.
Ele conta que ficou deprimido e até tentou se matar, mas depois percebeu que era tudo pensamento “besta”. “Vi na tevê exemplos de outras pessoas que superaram problemas piores que o meu e hoje vivem felizes”, lembra.
Hoje, Angelo trabalha tirando argila, dirigindo uma retroescavadeira. Dos poucos traumas que ficaram do acidente, um deles é o de “trabalhar com gente”. “Prefiro trabalhar no meio do mato, coletando argila para a cerâmica. Encontrei minha felicidade com o trabalho, voltei também a dirigir carro e caminhão. Com essa minha mão, posso pegar vários objetos, ela ficou no formato que chamo de pinça. Se tivesse amputado, seria bem pior. Hoje dou mais valor à minha família e vivo mais a vida de verdade.”

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