Oh! Viajor, que dizes trilhar os ínvios caminhos da vida, em percursos cheios de incertezas e óbices, ora atravessando terras áridas de sentimento, ora navegando em oceanos encapelados de dor.
E afirmas conhecer a solidão mais profunda, mesmo quando cercado de teus semelhantes que de ti vêem a aparência transitória e longe estão de partilhar o que és; prontos estão para te aplaudir, mas nunca para estender-te a mão ou escutar os teus silenciosos apelos.
Desiludido, pensas repetidas vezes: a felicidade é quimérica invenção de mentes ingênuas em desvario; viver é tomar consciência de uma sucessão de doídas perdas entre dois clarões intensos do nada; uma insana repetição de lutas para adiar um desfecho fatal.
Ou então, refletes melancólico: que é a vida senão uma busca incerta de condutas ideais que aliviem os temores sobre o grande mistério que fica além dos umbrais da morte?
E contemplas a ti mesmo como uma minúscula criatura perdida na imensidão cósmica, tão frágil, tão finita e tão efêmera, quanto violetas e libélulas, que aparecem e findam em poucas auroras.
E ao sentir-te em tamanho desamparo, transitando num mundo tão opressor, não alimentas outras aspirações que não aquelas geradas no seio da amargura, entre o desejo de não ser e a angústia do devir.
E em perene cansaço psíquico, experimentas a melancolia como companheira de tuas horas de silêncio, e o desencanto como presença invisível de teus momentos de quefazer.
E no auge da angústia existencial, indagas: para que viver, para que viver?
E solicitas ao desconhecido ou a um deus, não somente a morte, mas a não existência que te retires desse engodo sinistro: de aspirar o inalcançável e sonhar o impossível, realizando, no engano universal chamado vida, o que se desfaz na verdade última, chamada morte.
Oh! Viajor, tuas percepções acanhadas e disformes te inundam de um desespero imenso e te tornam incapaz de perceber a ti mesmo; e te fazem cego ao teu próprio caminhar e surdo às sinfonias da existência. E, insensível aos mistérios das coisas, vives prisioneiro num tempo e num espaço, onde reina a impermanência e governa o temor.
Oh! Alma cansada, levada pela descrença aos pélagos do sofrimento, por um momento, concede-te o benefício da dúvida às tuas certezas tão dolorosas; e abre teus sentidos multiformes aos ritmos criativos do universo.
Perceberás, para teu imensurável deleite, que és muito mais que pensas e sentes; e te descobrirás, um retalho do infinito, valioso átomo compondo a sua tessitura, em dinâmico transformismo. E te reconhecerás um pedacinho de Deus vivendo um recorte de eternidade.
E te deslumbrarás com a sabedoria da Grande Lei e a onipresente harmonia do Cosmos, que através de infinitas formas, faz a essência divina manifestar-se cada vez mais complexa e transcendente.
Então, compreenderás tua vida como nota fundamental de uma sinfonia. E teus atos, representação existencial de um perene e profícuo avançar em direção à sonhada plenitude.
E tua solidão se desvanecerá, uma vez que ela é apenas a clausura onde enredas tuas percepções, pois és parte/todo e todo/parte da grande cadeia dos seres que une o átomo ao Verbo Criador.
Então vibrarás em oração doce que brota como um canto d’alma feliz e ecoa, de fraga em fraga, na terra dos sentimentos, e de onda em onda, no oceano dos pensamentos, atravessando as dimensões estelares do espírito, dizendo que és pura gratidão à vida, ansiando aninhar-se no seio do Infinito Amor.
André Luiz Peixinho