Carta critica proposta de extinção do SUS universal

SUS1Em carta assinada pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco e Associação Brasileira de Economia da Saúde – Abres , publicada pelo Diário Popular, um dos mais antigos do Rio Grande do Sul, no dia 17 de agosto de 2015, e endereçada à presidenta Dilma e à sociedade de modo geral, estas associações criticam proposta de lideranças do Senado, enviada ao governo,  propondo a extinção do SUS universal. Leia abaixo:

 

“A Associação Nacional do Ministério Público de Defesa da Saúde – Ampasa; Associação Paulista de Saúde Pública – APSP; Centro Brasileiro de Estudos da Saúde – Cebes; Instituto de Direito Sanitário Aplicado – Idisa; Rede Unida e Sociedade Brasileira de Bioética – SBB.

O documento Agenda Brasil, apresentado no dia 10 de agosto de 2015 por lideranças do Senado ao governo federal, traz a proposta de extinção do SUS universal aprovado na Constituição de 1988. A cobrança de cidadãos assistidos pela rede pública de saúde, de acordo com a faixa de renda, ampliaria as diferenças de qualidade dos serviços e resultaria na completa segmentação do já desigual sistema de saúde brasileiro. 

Desmantelar o SUS, em nome da superação das crises política e econômica, poderá conduzir a outra crise sem precedentes: a da saúde. O SUS, ainda que incompleto, com suas limitações e contradições, gerou ações de saúde de amplo alcance, com resultados inequívocos de eficiência econômica e relevância social e sanitária. 

Cobrar de alguns pelo atendimento em saúde, pela vacinação, pelo tratamento da Aids, pelo transplante, pela urgência e emergência, dentre tantos exemplos, é aniquilar políticas que só deram certo porque são universais. 

Erguido sobre valores de solidariedade e igualdade, o SUS colocou em prática o artigo 196 da Constituição Federal (“a saúde é direito de todos e dever do Estado”) valendo-se da progressividade do financiamento em função da renda. Isso quer dizer que cada cidadão financia o SUS por meio de impostos, de acordo com sua capacidade contributiva, mas todos têm o direito de acessar igualmente o sistema conforme suas necessidades de saúde, nunca em função de sua capacidade de pagar. 

A cobrança seletiva por atendimento desfigura o SUS ao institucionalizar portas de entrada diferenciadas para ricos e pobres. A rede pública passaria a funcionar com a lógica privada, enquanto planos e seguros de saúde ficariam ainda mais à vontade para despejar no SUS a demanda que já se omitem em atender: os procedimentos de alto custo, os idosos e os doentes crônicos. 

É uma tentativa que vem se somar a outros atentados recentes contra o SUS: a constitucionalização do sub-financiamento público, o incentivo à rede hospitalar privada com abertura ao capital estrangeiro, a ampliação da desvinculação das receitas orçamentárias da União, a desregulação do mercado de planos de saúde e o aumento de subsídios públicos ao setor privado. 

Nenhuma das medidas de desmonte deliberado do sistema público foi apresentada durante a campanha eleitoral, quando era uníssona a promessa de fortalecer o SUS em resposta às preocupações da população com saúde. Poucos meses após a posse da presidente eleita, assiste-se ao uso do SUS como peça de barganha e loteamento político. 

Mais uma vez, evita-se o debate sobre o financiamento adequado da saúde ao considerar co-pagamentos como fontes estáveis de receitas, anomalia suprimida até mesmo nos Estados Unidos, com o Obamacare. As instituições e a legislação conquistadas não podem servir apenas para estruturar o sistema de saúde, mas também para proteger o direito à saúde de qualquer ameaça. 

Que não fiquem em silêncio os gestores do SUS, o Ministro e Secretários de Saúde, o Ministério Público e o Poder Judiciário, os Conselhos de Saúde, os profissionais de saúde, os trabalhadores, usuários e movimentos sociais. Somente uma grande frente que expresse o engajamento cidadão será capaz de defender o SUS e afirmar que este bem comum de todos os brasileiros e brasileiras não pode ser reduzido e amputado.

Que cessem imediatamente as negociações sobre a possibilidade de cobrança no SUS, pois a saúde é um bem jurídico garantido pela Constituição e um direito social duramente assegurado. O SUS, o direito à saúde e a proteção social não estão à venda. Tirem as mãos do SUS!

Fonte: Diário Popular/RS

A.V.

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