Recentemente a Câmara dos Deputados sancionou uma lei que reacendeu uma antiga discussão: a liberação dos chamados inibidores de apetite. Os medicamentos sibutramina, anfepramona, femproporex e mazindol foram liberados sob prescrição médica no modelo B2, específica para medicamentos psicotrópicos anorexígenos. Os chamados anorexígenos inibem o apetite e, geralmente, são utilizados em tratamentos contra a obesidade mórbida.
Na avaliação dos parlamentares que aprovaram a matéria, a proibição da produção e da comercialização dos anorexígenos prejudica milhares de pacientes que necessitam desse tipo de medicamento, sem contar com a provável ampliação do mercado clandestino dessas substâncias.
Indicadores apresentados neste ano pelo Ministério da Saúde mostram que, nos últimos 10 anos, a prevalência da obesidade no Brasil aumentou em 60%, passando de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016. O excesso de peso também subiu de 42,6% para 53,8% no período.
A discussão sobre as consequências dessa medida, diz respeito aos seus efeitos colaterais. Em entrevista ao Saúde no Ar, a médica endocrinologista e conselheira do Cremeb, Diana Viegas, reforça a necessidade da prescrição médica. Segundo ela, alguns pacientes terão sim benefícios no apoio ao tratamento da obesidade, mas, ainda assim, existem riscos desses anfetamínicos, principalmente.
Ainda de acordo com a médica, esses medicamentos estavam suspensos do mercado, embora houvesse um posicionamento contrário do Conselho Federal de Medicina e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia que sempre consideraram que elas poderiam ser auxiliares ao tratamento da obesidade, desde com acompanhamento médico, de forma criteriosa. “Na realidade o que aconteceu agora foi uma decisão política para o retorno dessas drogas ao mercado e que nós médicos temos que nos adequar”, considera.
O presidente do Conselho Regional de Farmácia, Mário Martinelli, também presente no Saúde no Ar, informou que, em 2011, as anfetaminas foram retiradas do mercado por não comprovarem a eficácia dessa classe terapêutica “não foi o caso da sibutramina, por que, após evidencias de que elas traziam benefício ao paciente ela voltou a ser liberada e comercializada, claro com todos os critérios clínicos e prescrição médica. ”.
Martinelli diz ainda que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se posicionou contrária ao uso das anfetaminas. “A entidade é composta por profissionais que detêm o conhecimento da eficácia das drogas terapêuticas. ”, ressalta.
Pesquisadores da Fiocruz e a própria Anvisa se posicionaram contra a aprovação da lei, por considerarem que os medicamentos trazem poucos benefícios frente a riscos, como palpitações, transtornos psicóticos e dependências.
Além da discussão sobre a segurança e a eficiência desses medicamentos, a aprovação pelo Executivo dessa lei coloca em xeque o papel da agencia nacional, responsável por fiscalizar a venda de remédios no país.
Confira a lista de perguntas e respostas elaboradas pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia sobre o uso de inibidores de apetite em pacientes obesos:
1- O uso da sibutramina não apresenta risco de retornar o peso após a parada do tratamento?
Dr. Giuseppe Repetto: QUALQUER medida antiobesidade que existe no nosso mercado, apresenta o risco de reengorde após a parada do seu uso.
2- Por que depois de um tempo tomando Anfepramona para emagrecer, o remédio não faz mais efeito em mim?
Dr. Giuseppe Repetto: Porque a Anfepramona é um derivado da Anfetamina, e essas drogas a curto prazo (2 a 4 meses), apresentam “tolerância”, o que leva a sensação do seu efeito anorexígeno.
3 – Existem problemas decorrentes do uso de inibidores de apetite?
Dr. Marcio Mancini: Todos os remédios têm efeitos colaterais e os inibidores de apetite também. Mas os problemas estão muito mais relacionados à prescrição irresponsável do que à existência deles no mercado. Eu sou contra banir os inibidores do mercado, mas a favor de uma fiscalização mais rigorosa nas clínicas onde são prescritos e vendidos sem critério.
4 – Quando utilizar sibutramina e ou femproporex?
Dr. Marcio Mancini: A sibutramina ou a anfepramona ou o femproporex ou o mazindol ou o orlistatepodem ser usados em pessoas com obesidade (IMC > 30) ou com excesso de peso (IMC > 25) associado a doenças que melhoram com redução de peso. Os remédios sempre devem utilizados com dieta e atividade física, e nunca como solução milagrosa.
Como manter o peso ideal- O IMC é reconhecido pela OMS como a principal referência para classificação das diferentes faixas de peso. Mas, atenção: não deve ser o único parâmetro para definir os riscos relacionados à obesidade. Outros fatores, como circunferência abdominal e taxa de colesterol, também são muito importantes.
Cirurgia Bariátrica pelo SUS- Desde de março de 2017 o Sistema Único de Saúde (SUS), passou a oferecer cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, técnica menos invasiva, em relação ao procedimento aberto.
Na cirurgia aberta, o médico faz um corte de 10 a 20 cm no abdômen do paciente. Já na videolaparoscopia, são feitas de quatro a sete mini-incisões de 0,5 a 1,2 cm cada uma, por onde passam as cânulas e a câmera de vídeo. A taxa de mortalidade média da cirurgia videolaparoscópica é menor do que a da cirurgia aberta, segundo informações da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica.
A recomendação da inclusão do procedimento tinha sido feita pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) em relatório de novembro de 2016.
Na cirurgia aberta, o médico faz um corte de 10 a 20 cm no abdômen do paciente. Já na videolaparoscopia, são feitas de quatro a sete mini-incisões de 0,5 a 1,2 cm cada uma, por onde passam as cânulas e a câmera de vídeo. A taxa de mortalidade média da cirurgia videolaparoscópica é menor do que a da cirurgia aberta, segundo informações da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica
A recomendação da inclusão do procedimento tinha sido feita pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) em relatório de novembro de 2016.
No SUS, a cirurgia bariátrica é indicada para pessoas que apresentem o seguinte perfil:
- Com índice de massa corporal (IMC) igual ou maior que 50
- Com IMC maior ou igual a 40, com ou sem doenças associadas, sem sucesso no tratamento clínico por no mínimo dois anos
- Com IMC maior que 35 e com problemas de saúde como alto risco cardiovascular, diabetes mellitus e/ou hipertensão arterial sistêmica de difícil controle, apneia do sono, doenças articulares degenerativas sem sucesso no tratamento clínico
Ouça a entrevista completa de Martinelli e Diana ao Saúde no Ar:
- Ministério da Saúde tem como meta reduzir a obesidade no país; veja vídeo:
- https://www.youtube.com/watch?v=ai5Lj-puS40