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Brasil precisa se imunizar contra fake news, aponta o relatório Check Up, da agência Nova SB

 
Novos personagens reforçam corrente da desinformação contra vacinas nas redes sociais

Estudo da Nova SB mostra que narrativa antivax furou a bolha e atingiu cerca de 56 milhões de pessoas

A pesquisa “Fakes e ataques à vacinação” apresenta um diagnóstico dos possíveis efeitos das notícias falsas na cobertura vacinal do Brasil. Um aspecto observado nesse estudo foi a tendência de sofisticação da rede de desinformação, que passou a usar o “cientificismo” no lugar de figuras caricatas de jacarés e chips chineses que funcionam como agentes secretos. Essa análise integra o monitoramento Check Up Fake News, realizado pelo Núcleo de Integridade da Informação da Nova SB, sobre as postagens antivacinas nas redes sociais.

 

O levantamento identificou, por exemplo, postagens de supostos médicos influenciadores abordando o que seriam efeitos colaterais e doenças provocados pelos imunizantes. Os trend topics das publicações são a vacina como causa de doenças cardíacas. Essa narrativa manipulada “furou a bolha” e alcançou cerca de 56 milhões de pessoas.
Para o analista-chefe do Núcleo de Integridade da Informação, Marcus Flora, que junto com as analistas Joice Pacheco e Marcela Canavarro são os responsáveis pelo estudo, a rede de desinformação é abastecida por influenciadores da área da saúde e muitos inclusive de outros países. “Essa prática de usar um médico ou cientista estrangeiro falando de doenças graves e atribuindo a sua causa ao imunizante é muito difundida nas redes porque as credenciais de profissionais estrangeiros, além de causarem uma percepção positiva entre os seguidores, são mais difíceis de serem checadas”, explica Marcus.

 

Como o cidadão se informa?

O relatório do estudo “Fakes e ataques à vacinação”, que também recorreu a pesquisas qualitativas e quantitativas realizadas pela agência em parceria com institutos de opinião, trouxe uma mostra da influência da fonte de informação na decisão sobre a imunização. Os dados mostram que os índices de vacinação contra Covid também estão relacionados ao meio pelo qual a população se informa.

 

As pessoas que se informam pelos canais tradicionais de mídia, 19%, ou por meio dos órgãos de saúde oficiais, 26%, apresentam maior adesão à vacinação. Esses grupos tomaram 5 doses da vacina contra a Covid19. Enquanto os grupos com baixas médias de imunização, com uma ou duas doses, se informam pelas redes sociais, 28%, e WhatsApp, 24%.

 

Esse cenário, no entanto, muda completamente quando a pergunta é sobre vacina contra a gripe ou se seu filho foi vacinado nos últimos 12 meses? Nesses casos, as respostas sobre como a população se informa aparecem mais equilibradas e a fonte de informação pode ser tanto a mídia tradicional, social, whatsapp quanto os canais oficiais do governo.

 

A pesquisa analisou 978.440 mensagens (tweets, retweets e respostas) postadas no Twitter entre 1º de março e 30 de maio, com termos de busca relacionados à vacinação. E entrevistou homens e mulheres, de 25 a 50 anos, classe D/C, evangélicos e católicos, das cidades de Ribeirão Preto (SP), Cruz Alta e Arroio do Tigre (RS), eleitores moderados de Bolsonaro e eleitores nem Lula/nem Bolsonaro.

 

Força da mídia

O estudo qualitativo realizou entrevistas com pessoas bolsonaristas de perfil mais moderado e daquelas que não votaram nem Bolsonaro, nem Lula. Um dado curioso é que os próprios bolsonaristas reconheceram que não acreditam 100% nas postagens negacionistas porque elas chegam pelas mídias sociais e não pela mídia convencional, mas, muitos, ainda assim, compartilham estas fakes. Além de serem vitimas do medo e insegurança que tais publicações promovem.

 

Para Flora, as fake news sobre doses de reforço da vacina anti-Covid possuem um alto poder de disseminação e impacto sobretudo entre eleitores de Bolsonaro. “Os perfis analisados operam com o sentimento de medo da população mais vulnerável e menos escolarizada, espalhando histórias sobre supostos efeitos colaterais, doenças e óbitos que seriam causadas pela vacina”, explica Flora. Além do medo, as fake news provocam sentimentos como desconfiança, dúvidas, receios e pânico.

 

Polarização política

A etapa quantitativa do estudo apontou um viés político muito forte. Pessoas que tomaram só uma ou duas doses da vacina, por exemplo, 13% votaram em Lula e 31% em Bolsonaro. Já aqueles que tomaram as cinco doses, 19% votaram em Lula e 9% em Bolsonaro.

 

A mesma inclinação se dá quando se questiona sobre aprovação de 4 meses do Governo Lula. Entre os que tomaram uma ou duas doses, 14% avaliam positivamente o governo; já entre os que tomaram cinco doses, a aprovação cresce para 19%. Quando perguntados sobre aprovação da gestão Bolsonaro, o grupo de uma ou duas doses reuniu 29% das respostas favoráveis e o grupo de cinco doses registrou 9% das respostas favoráveis.

A mesma inclinação se repete quando a pergunta é sobra a imunização contra a gripe. Entre os que já se vacinaram, 43% voltaram em Lula e 30% em Bolsonaro; já aqueles que não se vacinaram, 55% em Lula e 67% em Bolsonaro.

 

Vacinar ou não vacinar

O caminho para a conscientização da urgência da cobertura vacinal ainda é longo. Seja pelas fakes news, quanto pelos desafios logísticos, o que os dados oficiais apontam é o retrocesso do Brasil na cobertura vacinal. Apesar desse cenário, o estudo traz alguns dados positivos sobre a eficiência das vacinas. Perguntados se o imunizante é pouco, médio ou muito importante no combate a doenças, a maioria respondeu muito importante e a nota obtida foi de 9,1, numa escala de 0 a 10.

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